Copa 2014 – O que as mulheres têm a ver com isso?

Por Maria José Santos Oliveira

Quando te perguntam de cara o que as mulheres têm a ver com a copa 2014, o primeiro impulso é responder: Nada! Absolutamente nada! Pois a copa é um negócio de grandes corporações. A FIFA como toda grande corporação se instala em um determinado local para auferir lucro e não desenvolve o território porque grandes corporações têm suas cadeias de produção de maneira a lhes garantir maiores lucros. Desta forma, não serão as pequenas empresas ou grupos locais que prestarão serviços para o evento. Pode-se argumentar que estes grupos de produção não têm ‘know-how’ ou expertise para produzir ou garantir a qualidade dos produtos em grandes eventos, entretanto temos experiências bem sucedidas. A jornalista Naiara Leite, afirma que, a Rede de Economia Solidária da Bahia, que foi responsável pela alimentação na Cúpula dos Povos, um evento que teve cerca 20 mil pessoas por dia no Rio de Janeiro em 2012, não teve êxito na avaliação da Secopa para fornecer alimentação para os trabalhadores da Arena Fonte Nova. Estamos falando de uma Rede, que representa grupos de mulheres que fazem e sobrevivem da economia solidária.

Uma decisão que segundo a jornalista contrapõe o discurso de desenvolvimento do país e do empoderamento financeiro das mulheres, tão debatido em todas as conferências de políticas para as mulheres. Vale destacar que são oportunidades como essas vão assegurar a melhoria da vida dessas mulheres, que quando se trata da Bahia e de Salvador, capital de maioria negra estamos falando de mulheres negras e pobres da periferia da cidade.

Para Valdecir Nascimento, coordenadora Odara – Instituto da Mulher Negra acredita que a Copa 2014 deverá mobilizar recursos, utilizar a infraestrutura da cidade sem, no entanto valorizar a cultura local. Assim, são empresas estrangeiras ou de capital estrangeiro que arrecadam todo o lucro e reinvestem onde possam obter mais lucros, não sobrando nada para ser investido em políticas sociais, ao contrário, retira o recurso dos impostos pagos por nós que deveriam ser investida em educação, saúde; segurança, no combate à miséria e à desigualdade social.

No fim das contas, “não se faz uma copa com hospitais” e é tudo negócio. Ou seja, é o Estado criando as estruturas e bases necessárias para o capital se reproduzir às nossas custas. É com o capital que alimenta um sistema caracterizado pela desigualdade, desumanização e onde tudo é negócio, inclusive, a nossa vida.

Estamos falando de uma espécie de “máfia” pronta para ganhar dinheiro e explorar o trabalho alheio. Observa-se uma série de denuncias de fraudes e violações de direitos humanos no país inteiro. De acordo com matéria publicada no Portal da Copa, em agosto deste parte do dinheiro ganho pela seleção brasileira era desviado para a conta de Sandro Rosell, nos Estados Unidos. Esse senhor é ex-presidente da Nike no Brasil, atual diretor do time de futebol Barcelona e amigo pessoal de Ricardo Texeira “mandatário” da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) – entre 1989 e 2011 e de quem não se ouve muitos exemplos de honestidade.

O combate ao trabalho informal ou tradicional sem dar alternativas dignas a essas famílias, como já foi dito, atinge as mulheres, pois o Fórum brasileiro de Economia Solidária, em posse de informações do OIT, afirma que a maioria dessas pessoas que estão na informalidade são justamente as mulheres. Assim o que se apresenta como alternativa para estas mulheres são as falsas promessas, as redes de tráfico de pessoas, a exploração sexual, o subemprego e assassinato de seus entes queridos.

A reflexão que nos resta é que para preservar o lugar de homem branco e rico não importam os métodos! O jornal O Globo noticiou denuncias de trabalho escravo contra empresas nas obras da Copa e dentre elas, a OAS que sempre tem seu nome veiculado junto à Odebrecht, inclusive para as obras do metrô, em Salvador. Então, o que temos a ver com a Copa? Na minha opinião, apesar de não termos sido convidadas para essa festa, somos brasileiras, e muitas de nós sobrevive de eventos como este, se pensarmos nas mulheres que trabalham com alimentação, artesanato, roupas e outros tipos de empreendimentos lucram um pouco mais nesses eventos. Hoje, falar de Copa para alguns grupos é falar de frustração. Não acredito que o público de Salvador imaginou que se criaria um estado de ressecção da forma como foi feito, mas como não podemos voltar atrás, altos investimentos já foram feitos, temos que nos articular para nos proteger desse negócio, que é a Copa.

 

Maria José Santos Oliveira é graduada em administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); Nascida no Sul da Bahia; Faz parte da Rede Social Temática: Proteção dos Direitos Humanos da Mulher e do Grupo de Formadores do Odara.

 

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