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#OpiniãoOdara: Greve de professores em Salvador (BA) escancara o descaso do poder público com a educação básica

Professores da rede municipal de ensino de Salvador (BA) seguem em greve para garantir equiparação ao piso salarial nacional; Último reajuste salarial da categoria aconteceu há 7 anos

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As professoras e professores da rede municipal de ensino de Salvador (BA) estão em greve desde a última quinta-feira (19). Dentre as reivindicações, a categoria pede a equiparação salarial ao piso nacional, o que representa um aumento de 33,24%. 

A greve segue sem perspectiva de fim e a Secretaria Municipal de Educação (SMED) oferece somente 6% de reajuste salarial. As escolas permanecem fechadas, sendo que uma parte das escolas já não tinha retornado suas atividades presenciais de forma contínua. Ao todo, são 7.600 profissionais em greve, 429 unidades fechadas e 163 mil estudantes (em maioria negros e pobres) com o ano letivo interrompido, fora da sala de aula.

Além da reivindicação pelo reajuste salarial, os profissionais querem atualização dos níveis no plano de carreira, reajuste do auxílio alimentação, alteração na jornada de trabalho e convocação de novos profissionais concursados para preencher os quadros da educação municipal.

Existe um cenário de desvalorização dos professores que vai além de todas as pautas de aumento salarial, temos uma estrutura sendo desmontada pelos governos municipal, estadual e federal, o que torna a crise na educação muito mais profunda e urgente de ser debatida em todos os níveis da sociedade.

A educação em Salvador está em processo de sucateamento e descaso total desde antes da pandemia. A gestão municipal segue com um projeto político de não priorizar a educação pública como principal ferramenta de transformação e esse descaso atinge de forma profunda a população negra e pobre da cidade. Enquanto isso, as escolas de alto padrão seguem em ascensão fortalecendo a educação privada.

As reivindicações por mudanças efetivas na educação crescem de forma mais profunda cotidianamente, a luta pela garantia de direitos que já foram conquistados e estão ameaçados nesse governo, preocupa todos os profissionais da educação, sobretudo em Salvador. 

Uma situação delicada se apresenta na cidade, e não é de agora que professores são negligenciados em suas atuações. Temos uma cenário de horror, onde educação é tratada como mercadoria em âmbito nacional e isso se reflete em todas as cidades do Brasil. Temos as condições mais difíceis de trabalho para esses profissionais e até mesmo os direitos mínimos não são garantidos. Estamos diante de um cenário de descaso com um dos direitos mais importantes para a construção de uma sociedade equânime, a educação.

A situação precária da educação na Bahia, para além de afetar as escolas da capital, vem se agravando também no interior do estado. A volta às aulas em vários municípios do interior da Bahia foi marcada por atrasos e transtornos que ainda não param de acontecer. Muitas escolas seguem em reforma, impossibilitando o retorno às aulas após dois anos de pandemia. Também há muitas  escolas fechadas nos municípios por falta de professores, merenda e transporte.

Sabemos o quanto o ensino remoto prejudicou o desempenho dos estudantes de baixa renda, por conta da falta de estrutura para acompanhar as aulas online, muitos ficaram parcial ou totalmente sem estudar nos anos de 2020 e 2021. Dessa forma, é imprescindível o retorno das aulas presenciais e que ele ocorra de forma acolher de maneira segura, justa e igualitária todos os estudantes. 

O momento de pandemia escancarou com seriedade as denúncias para apreciarmos mais de perto as situações de todos os profissionais ligados à área da educação em todo o país. Todos nós temos o compromisso de reconhecer o papel e o impacto destes profissionais na vida de cada criança, adolescente, jovens e adultos.

Um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que a educação brasileira retrocedeu 15 anos, especialmente entre os segmentos mais pobres. A taxa de evasão escolar das crianças entre 5 e 9 anos saltou de 1,4% em 2019 para 5,5% em 2020. Foi um impacto relevante neste grupo educacional, que teve progresso significativo nos 40 anos anteriores.

O Unicef – Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância também nos alerta que a Covid-19 gerou erosão no ensino no Brasil e retrocessos de uma década. Uma geração inteira está sendo profundamente afetada pelo fechamento das escolas nos últimos dois anos no mundo e que as perdas são “quase irrecuperáveis”.

Segundo o Ministério da Educação (MEC), em 2021, o ensino médio da Bahia ficou em último lugar na avaliação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), entre todos os estados brasileiros. De acordo com os dados, a Bahia ficou com 3,0 pontos no ensino médio – 1,3 abaixo da meta para o ano, que era de 4,3. Além disso, a nota foi um décimo menor que a do último levantamento, feito em 2015, quando o estado ficou com 3,1 pontos.

Mesmo diante dessas informações, é perceptível que o município de Salvador não tem priorizado a educação, adotando em seu plano a desvalorização e desrespeito, quando decide por não reajustar os salários nem atender as reivindicações legítimas das professoras e professores da rede municipal.

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