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6º ciclo da Escola Beatriz Nascimento encerra em clima de emoção e inspiração pela trajetória de Luiz Alberto

Por Brenda Gomes | Redação Odara

Um encontro regado de emoção, acolhimento e estratégia, assim encerrou a última aula da sexta edição da Escola de Ativismo e Formação Política para Mulheres Negras Beatriz Nascimento (EBN), na última quarta-feira (13).  Esta turma, que aconteceu em formato virtual, teve início no mês de setembro e teve como foco a formação política de mulheres negras que estarão candidatas nas eleições de 2024, no Nordeste e na Amazônia.

A coordenadora da EBN, Silene Arcanja, explicou que a turma teve como objetivo discutir uma agenda que contemple as pautas inegociáveis do movimento de mulheres negras, como o combate ao racismo, ao sexismo, e qualquer tipo de opressão contra as mulheres. Durante a aula final, Silene agradeceu as cursistas pela disposição, e falou sobre a necessidade da continuidade das estratégias coletivas entre as mulheres negras. 

“O Pretas no Poder não é uma ideia mirabolante, sem embasamento, mas sim um produto de um encontro, de uma produção coletiva de mulheres. Nós estamos no caminho da construção desse modelo de projeto de sociedade que acreditamos. Agora é a gente ir para outra etapa, que é a parte da concretização, não deixar essa produção na EBN ser esquecida e nem ficar só nesses encontros, que a gente venha colocar em ação nossas estratégias Que a nossa coletividade nos fortaleça. Que a gente permaneça unidas em 2024” afirmou a ativista do Instituto Odara. 

Além de fazer uma pequena retrospectiva dos assuntos tratados durante o ciclo, e alinhar as estratégias de atuação para as campanhas eleitorais do ano que vem, a noite foi regada de muita emoção e partilhas da trajetória do ex-deputado federal, Luiz Alberto, que faleceu também na quarta-feira. Luiz, foi deputado federal por cinco mandatos, entre 1997 e 2015. Ultimamente, ele ocupava o cargo de assessor da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do governo da Bahia. Ele atuou como uma das principais vozes da luta por direitos da população negra no Brasil. 

Após apresentação do vídeo onde Luiz fala sobre sua trajetória política, a coordenadora executiva do Odara, Naira Leite, falou com emoção sobre a época que trabalhou com Luiz, sobre a sua contribuição para os mandatos de pessoas negras, além de destacar a importância de não deixar o legado dele ser esquecido.

“Para encerrar esse ciclo (da EBN) é muito emblemático a perda dele, pois para o que estamos discutindo, para o contexto que vocês vivem, para a luta contra a subrepresentação da população negra… Ele foi um agente importantíssimo, pioneiro em tudo que ele fez. Hoje resgatei alguns santinhos dele e de Luiza Bairros, quando candidatos ainda na Constituinte. Lembrei da PEC das “Cadeiras Negras” que foi um problema, e ele dizia “não adianta ter cotas no Congresso, a gente precisa exigir as cadeiras”. Muito triste esse momento, ficamos naquele sentimento de fazer a luta reverberar, mas com uma saudade incalculável.” 

Maria do Socorro Guterres, cursista da EBN, expressou a importância de manter viva a memória das figuras fundamentais da população negra do Nordeste, como Luiz e Luiza Bairros. Ela enfatizou o constante alerta de Luiz Alberto sobre como os partidos políticos, independentemente de suas vertentes, negligenciam as questões etnicorraciais, considerando-as não prioritárias na agenda política. 

“Luiz Alberto denúncia o tempo todo como os partidos, de todas as vertentes, não colocam na pauta as questões etnico-raciais como uma pauta importante, primordial para se pensar a sociedade. Os projetos, na minha percepção, são descolados do que é de fato a sociedade, sobretudo, no que diz respeito a nós população negras e populações tradicionais. A pauta ainda não é prioritária, apesar de toda articulação das políticas públicas, mas falo aqui no sentido de transformação da sociedade”, destacou Socorro. 

Iasmin Gonçalves, técnica dos projetos de enfrentamento às violências contra as mulheres negras e às violências políticas de raça e gênero do Instituto Odara, falou sobre a importância de Luiz Alberto para a  história da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).  Onde ele participou ativamente das mobilizações populares e articulações políticas para a implantação da UFRB e foi o relator do projeto de criação da Universidade na Câmara dos Deputados, em 2005.

“Conheci Luiz Alberto nos corredores da UFRB, que é fruto de uma política pública que ele lutou. Ele sempre perguntava como estávamos, era uma pessoa muito humana, principalmente com os estudantes. Eu sou muito grata por ser resultado disso. Hoje eu sou mestra, sou do recôncavo, e pude estudar em uma universidade dentro da minha cidade. Eu sinto muito que a gente não pode parar de lutar, porque se estamos em movimento fazemos reverberar a luta dessas pessoas que lutaram para que estivéssemos aqui.” 

CONTINUIDADE 

Apesar do encerramento desta edição da EBN, as formações e encontros com as cursistas devem acontecer ainda no ano que vem, a fim de desenhar estratégias de atuação para as campanhas eleitorais. 

Ao final do encontro Naiara Leite pediu às mulheres que permaneçam empolgadas com a luta, mesmo que ela seja cansativa e por muitas vezes solitária, para fazer valer a memória ancestral de figuras como Luiza Bairros e Luiz Alberto. 

“Eu espero que nós, mulheres mais jovens, mulheres negras mais jovens, que a gente siga apaixonadas pela luta e pela transformação e pela ideia de revolução, como ele foi, como ele morreu. Ele morreu apaixonado, isso é impressionante”, declarou a coordenadora do Odara. 

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