Arte e ancestralidade marcam encontro do Ayomide Odara no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador

Entre o teatro e a obra de Goya Lopes, as participantes vivenciaram a arte como educação política e espelho da memória coletiva
Por Joanna Bennus | Redação Odara
No último sábado (9), o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM) recebeu as meninas e jovens negras dos projetos Ayomide Odara e algumas integrantes da Escola de Ativismo e Formação Política Beatriz Nascimento (EBN) que já foram da turma, ambas iniciativas do Programa de Educação do Instituto Odara. Entre gestos, sorrisos e reflexões profundas sobre a sensibilidade dos sentidos e o resgate da história negra, o museu se tornou caminho para uma jornada de arte, ancestralidade e resistência.
A programação aconteceu em meio à exposição “Okòtò: Espiral da Evolução”, primeira mostra individual da artista, estilista e designer, Goya Lopes. A presença das jovens nesse espaço é uma tentativa de romper barreiras históricas de acesso e reafirmou o direito de meninas negras ocuparem e ressignificarem instituições culturais. Neste dia também recebemos a visita da equipe de comunicação do Fundo Malala.
No encontro, a turma do projeto Ayomide Odara mergulhou em uma oficina de teatro conduzida pela professora Liz Novais, que transformou o reconhecimento de si em território de memória e expressão. Inspiradas nas linhas das mãos e nos seus cabelos crespos e cacheados, símbolos de caminhos, histórias e encontros, as meninas experimentaram movimentos, toques, trocas coletivas e escritas pessoais que conectam passado, presente e futuro.
“É um trabalho de autoconhecimento enquanto mulheres negras, de entender que a coletividade também nasce da sensibilidade individual”, explica Liz.
Para Mirella Souza, 13 anos, integrante do projeto Ayomide Odara, o aprendizado atravessa a sensorialidade e a autoestima: “Movimentar o corpo inteiro é libertador. A gente sente que aprende com alegria e leveza, e ainda se conecta com a história dos nossos antepassados.”A coordenadora do Ayomide Odara, Débora Campelo, destaca que esses encontros presenciais são momentos-chave no processo formativo: “Nossa metodologia híbrida ganha outra dimensão quando nos reunimos. Estar juntas, se olhar, se reconhecer e ocupar espaços como o museu é fundamental para que as meninas entendam que seus corpos pertencem a esses lugares e que elas têm direito a estar neles.”
ARTE COMO ESPELHO E FAROL: CONSTRUINDO O BEM VIVER
Enquanto uma parte das meninas estavam na oficina de teatro, outras percorriam as salas do museu em uma visita guiada. Entre pinturas, tecidos e gravuras que contam cinco décadas de produção artística, elas se viam refletidas nas cores vibrantes e nos símbolos afro-brasileiros que a artista consagrou.
Francielle Alves, 16 anos, moradora da cidade de Candeias (BA), descreveu o impacto da experiência: “Foi mais do que apreciar obras. Foi conhecer nossa história, nosso passado e o que esperar do futuro. As obras falam além do que os olhos podem ver.”
Unindo o teatro e a arte, o encontro reafirma o compromisso do projeto com a pedagogia Sankofa, de modo a olhar para o passado, para construir o presente e sonhar o futuro. A temática do Bem Viver e da reparação histórica, central neste ano formativo, se materializou na prática: nas conversas, nas expressões corporais, nos olhares atentos e nas descobertas sobre si mesmas e sua conexão com a história num espaço de acolhimento e trocas.
O Projeto Ayomide Odara acompanha com processos formativos meninas negras de 8 até 13 anos e têm como missão fortalecer o protagonismo delas por meio da educação, do resgate da memória, fortalecimento da identidade negra e da incidência política em seus territórios. Com uma proposta formativa contínua, o projeto busca promover reflexões críticas e práticas transformadoras no cotidiano das cursistas.
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