Feminicídios brutais em Ilhéus e Lauro de Freitas expõem a escalada da violência contra mulheres na Bahia

De Ilhéus a Lauro de Freitas, a violência extrema contra Alexsandra, Maria Helena, Mariana e Laina escancara a falha do Estado em proteger vidas e reforça que o feminicídio é projeto de morte contra mulheres negras
Três mulheres foram encontradas mortas no último sábado (16), em Ilhéus (BA). Alexsandra Oliveira Suzart, de 45 anos, Maria Helena do Nascimento Bastos, de 41, e sua filha Mariana Bastos da Silva, de 20, desapareceram na sexta-feira (15), após saírem para passear com um cachorro na Praia do Sul. Os corpos foram localizados em um matagal no bairro Jardim Atlântico, com marcas de ferimentos provocados por faca. O animal foi encontrado vivo, amarrado a uma árvore ao lado das vítimas.
Maria Helena e Alexsandra eram professoras da rede municipal de ensino. Mariana, filha de Maria Helena, era estudante universitária. A violência expõe, mais uma vez, a vulnerabilidade a que estão submetidas as mulheres, independentemente da atividade que esteja desempenhando. Até o momento, a polícia não apresentou informações sobre suspeitos ou possíveis motivações para o crime, mas afirmou que não haviam sinais de violência sexual. O delegado responsável pelo caso, Helder Carvalhal, detalhou que ainda aguarda a liberação dos laudos periciais, mas adiantou que essa informação já foi apontada pelo perito e legista.
A brutalidade dos casos de violência não parou por aí. Apenas três dias depois, na noite de terça-feira (19), outro feminicídio chocou a Bahia, desta vez em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. Laina Santana Costa Guedes, de 37 anos, contadora, foi morta com golpes de marreta pelo marido Ramon de Jesus Guedes, no apartamento em que viviam, no bairro do Caji. O crime foi presenciado por suas duas filhas, de 5 e 12 anos. A mais velha ainda foi agredida pelo pai ao tentar defender a mãe.
Segundo a Polícia Civil, Ramon tentou fugir pela janela do imóvel, mas foi impedido por vizinhos, que o entregaram à polícia. Laina chegou a ser socorrida para um hospital da região, mas não resistiu aos ferimentos. Vizinhos tentaram intervir no momento do crime e descreveram um “cenário terrível, com sangue para todos os lados”.
A ocorrência de feminicídios com tamanha crueldade seja em um matagal em Ilhéus, com facadas, ou dentro de casa, em Lauro de Freitas, com marretadas diante das filhas escancara o caráter epidêmico da violência contra mulheres na Bahia. Entre 2017 e 2024, foram registrados 790 feminicídios no estado, uma mulher assassinada a cada três dias. Somente em 2024, foram 111 casos, representando dois em cada cinco assassinatos de mulheres. Em 72% das ocorrências, o crime aconteceu dentro de casa, e em 84% houve envolvimento de parceiros íntimos. Facas, facões e objetos cortantes foram os principais instrumentos usados (45,5%), seguidos por armas de fogo (26,3%).
As mortes de Alexsandra, Maria Helena, Mariana e Laina fazem parte de um ciclo contínuo de feminicídios, atravessado pela mesma lógica de violência de gênero e pela ausência de políticas públicas efetivas de prevenção, proteção e responsabilização. A forma cruel desses crimes revela o desprezo pela vida das mulheres e o quanto o Estado tem falhado em garantir segurança e dignidade.
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