A ATIVISTA E FILÓSOFA ANGELA DAVIS VEM A SALVADOR PARA O JULHO DAS PRETAS
A feminista negra mundialmente conhecida faz conferência para falar das lutas das mulheres negras ao longo da história
Por Alane Reis
Odara Instituto da Mulher Negra
As atividades do Julho das Pretas 2017 tem lotado espaços da cidade com debates das mais diversas áreas de conhecimento sobre as mulheres negras, mas nada tem causado tanto frisson como a presença da ativista Angela Davis, em Salvador, no dia 25 de julho, às 18h, no auditório da Reitoria da UFBA, no bairro do Canela. Ícone das lutas feministas e negras no mundo, a filósofa, é uma das pioneiras a estabelecer a correlação entre o racismo, o sexismo e o capitalismo, o que atualmente é definido como interseccionalidade.
Angela Davis falará para o público na conferência intitulada: “Atravessando o Tempo e Construindo o Futuro da Luta Contra o Racismo”. A atividade é organizada através da parceria entre o Coletivo Angela Davis (UFRB), o Odara Instituto da Mulher Negra, e o Núcleo de Estudos Interdisciplinar da Mulher (NEIM/UFBA).
Entre as expectativas para a conferência, está a de ouvir Angela Davis falar de sua trajetória de luta como uma mulher negra, do seu engajamento político à favor do povo negro nas últimas décadas, e os desafios para construir um futuro mais justo e igualitário. “Queremos saber das dimensões estratégicas utilizadas pela companheira para entender o racismo, o colonialismo e os processos de subalternização da população negra. Além de suas compreensões sobre o modelo de desenvolvimento e os nossos lugares no mundo. Se ela acha possível construir uma luta internacional contra o racismo e o sexismo”, comenta Valdecir Nascimento, coordenadora executiva do Instituto Odara, historiadora e mestre em Educação.
Para a professora e feminista negra Angela Figueiredo, principal responsável pela vinda de Angela Davis, “sua trajetória política e intelectual é uma fonte de inspiração política e epistemológica para todos nós. Além da sua reconhecida atuação no combate ao racismo e ao sexismo, a reflexão de Angela Davis é um exemplo de diálogo bem sucedido entre as demandas dos movimentos sociais e a reflexão teórica”.
A xará Figueiredo coordena o Coletivo Angela Davis, um grupo de pesquisa que homenageia a ativista. Angela Figueiredo, que é professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), organiza o curso internacional “Decolonial Black Feminism in The Americas”, no Campus Cachoeira (Ba), entre os dias 17 e 21 de julho.
Contra às prisões
Angela Davis integrou o Partido Comunista dos Estados Unidos e o Partido dos Panteras Negras, e foi uma das pioneiras em denunciar o racismo institucionalizado no sistema jurídico e a continuidade da lógica escravista do passado no atual sistema prisional, sendo também uma das primeiras a se posicionar pela extinção desse sistema.
Nos anos de 1970 ela ganhou visibilidade internacional ao ser ré de um dos mais controversos julgamentos criminais da história de seu país. “Freedom Angela Davis!”, a liberdade da ativista era reivindicada através de campanhas e protestos por diversos países do mundo. E ela seguiu pelas décadas, pela história, construindo uma das mais notórias trajetórias de ativismo político contra o racismo, o sexismo, contra o encarceramento em massa do povo negro e por um mundo sustentável.
No ano passado, a ativista se reuniu a mais de meio milhão de manifestantes na Marcha das Mulheres Contra Temer, na ocasião, Angela Davis falou sobre a necessidade da aliança das mulheres na construção de um mundo possível. “A companheira Davis já veio à Bahia quatro vezes, mas este momento é crucial. A era de retrocessos de direitos no Brasil está associada ao aumento do conservadorismo no mundo. Queremos saber como ela tem visto esse fenômeno”, comenta Valdecir.
Em sua trajetória intelectual, Angela Davis escreveu diversos livros, entre eles um dos mais conhecidos, “Mulheres, raça e classe”, que acaba de ser publicado no Brasil pela Editora Boitempo. Para a anfitriã, Angela Figueiredo, muitos aspectos da condição feminina negra presentes no livro são importantes para pensar a realidade de hoje. “A correlação entre as categorias de opressão de gênero, raça e classe, que antecipa o debate sobre a interseccionalidade, conceito fundamental para pensar a nossa experiência hoje, já estava presente neste livro em 1981”.
Nossos passos que vêm de longe, continuam a caminhar
A troca intergeracional entre as pensadoras e ativistas negras é um dos objetivos da conferência com Angela Davis. Para Valdecir Nascimento, que hoje coordena o Instituto Odara e atua nos movimentos negro e de mulheres no Brasil, ao longo dos últimos 40 anos, o espaço será de troca, reflexão e debates entre as mulheres negras mais velhas e mais novas. “Que as mais velhas possam trazer os aprendizados acumulados, e que essas experiências sejam valorizadas e reconhecidas como saberes de continuidade para as mais jovens”.
A professora Angela Figueiredo garante que a Davis se mantem sempre atualizada e consegue explicar temas complexos de forma muito simples, tornando-os compreensível para qualquer pessoa. “E este é mais um aprendizado do feminismo negro, que sempre nos incita a refletir sobre e para quem escrevemos”. Para Figueiredo, a trajetória da Davis expressa ainda outra grande característica do feminismo negro, a relação entre a reflexão intelectual e a militância política. “Durante muito tempo, este modo de produção intelectual engajado foi rejeitado pela academia, não era considero conhecimento cientifico, pois recusava o princípio da neutralidade”.
Valdecir Nascimento, entusiasta por natureza, fala sobre a expectativa de tantas mulheres negras de Salvador, das mais diversas gerações, em receber Angela Davis de braços abertos. “Vai ser um momento para que a nova geração possa saber quais caminhos percorremos até aqui. Qual o saldo positivo e os novos desafios. Esse encontro vai ser capaz de trazer luz e apontar caminhos. Juntas, iremos construir as possibilidades!”
Serviço: Conferência Angela Davis – “Atravessando o Tempo e Construindo o Futuro da Luta Contra o Racismo”
Quando: 25 de julho, às 18h
Onde: Reitoria da UFBA (Canela)
GRATUITO
Angela Figueiredo, coordenadora do Coletivo Angela Davis
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