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Ativistas do Recôncavo Baiano realizam caravana da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver

O encontro aconteceu no último sábado (13) na Casa de Samba do Dona Dalva  em Cachoeira (BA)

Por Adriane Rocha – Redação Odara 

Em meio às águas do Rio Paraguaçu, ao som de cantigas ancestrais e do balanço do samba de roda, as mulheres negras reconvexas se reuniram para traçar caminhos e estratégias rumo à Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, em Brasília. O encontro, realizado no último sábado (13), na Casa do Samba de Dona Dalva, em Cachoeira (BA), reuniu lideranças comunitárias de diversas cidades do Recôncavo baiano.

A atividade começou com um momento de acolhimento que reverenciou as Yabás [Orixás femininas] e as águas do Paraguaçu, em gesto simbólico de força e ancestralidade. Em seguida, as participantes se apresentaram trazendo os contextos políticos de seus territórios. Muitas afirmaram já ter ouvido falar da Marcha, outras participaram da edição nacional de 2015, a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo a Violência e pelo Bem Viver e demonstraram interesse em compreender melhor o processo de mobilização deste ano.

Entre as vozes que marcaram presença estava a professora e ativista Jeovane  Fernandes, de Maragogipe, que também esteve na histórica Marcha de 2015. Para ela, a reparação precisa ser pensada em diferentes áreas, como a educação, e deve reconhecer o protagonismo das mulheres negras do Recôncavo: “Esse não é um assunto novo. Já vem sendo pautado em espaços como a Conferência de Durban e pela própria ONU. Mas o Brasil insiste em nos negar direitos”, afirmou.

Além de reafirmar a importância da Marcha de 2025, o encontro  refletiu sobre a importância da acessibilidade de mulheres negras com deficiência. A pesquisadora Giselli Oliveira, mulher negra com deficiência, destacou a criação de um GT específico para tratar deste tema e ressaltou a necessidade de garantir a inclusão:  “Na Marcha é fundamental ampliar o debate para outros corpos. Se ela é para todas as mulheres negras, precisamos considerar nossa diversidade e levar nossas especificidades. Cheguei sem saber se conseguiria ir a Brasília, mas hoje eu acredito e afirmo: eu irei para a Marcha.”

A fala de Giselli sobre diversidade e inclusão abriu caminho para outras reflexões sobre representatividade e participação política. A historiadora e gestora cultural Juliana Silva, de Santo Antônio de Jesus, chamou atenção para a realidade da juventude negra periférica e para o papel da cultura como espaço de resistência:

“A cultura periférica expressa a vida da nossa juventude e precisa ser reconhecida como espaço político. O Recôncavo tem vivido um apagamento político profundo, impulsionado, por exemplo, pela construção da Ponte de Itaparica e pela desassociação de São Francisco do Conde do Território de Identidade. Precisamos enfrentar esse silenciamento e reafirmar nossa presença política, cultural e histórica.”

As reflexões sobre presença política se somaram às análises sobre organização prática e estratégias coletivas. Durante o encontro, as mulheres foram divididas em grupos para discutir e sistematizar propostas. As pautas incluíram infraestrutura, transporte, articulação com prefeituras e instituições, além de estratégias de mobilização que envolvem escolas, universidades e comunidades.

Para Iasmin Gonçalves, cachoeirana e ativista do Odara – Instituto da Mulher Negra, a Caravana do Recôncavo foi um exemplo da força desse processo: “A Caravana mostrou a potência da mobilização. Foi um momento de pensar estratégias para a chegada a Brasília e também para fortalecer nossas pautas urgentes em relação à população negra.”

Ela também destacou a importância da Cultura para pensar Reparação e Bem Viver – eixos centrais da Marcha. “Para além dos debates políticos, a caravana também reafirmou nossa cultura quando se desloca para a Casa do Samba de Roda de Dona Dalva: o samba de roda,  as cantigas das nossas ancestrais nos lembram que reparação e Bem Viver também passam pelo enaltecimento e difusão da cultura do povo negro”, concluiu.

Ndembu Tandala, ativista cachoeirana que também participou do encontro,  ressaltou a potência da organização coletiva das mulheres negras do território. “Cada vez que nós nos reunimos, uma mulher negra se levanta, se fortalece, planta dentro de si a semente da esperança e descobre em si mesma uma força que jamais havia visto. Quando nos unimos, nossas vozes deixam de ser sussurros isolados e se tornam um grande tambor de ressonância. Esse tambor ecoa como chamado ancestral, reverberando na terra, nos corpos, nos territórios e nas memórias”, afirmou.

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