CHACINA DO CURIÓ: Mães das vítimas do massacre que chocou Fortaleza (CE) seguem em luta por justiça há quase dez anos

Os dois últimos júris do caso estão marcados para os dias 25 de agosto e 22 de setembro deste ano
Por Redação Odara
Entre a noite de 11 e a madrugada de 12 de novembro de 2015, uma ação da Polícia Militar nos bairros da Grande Messejana, em Fortaleza (CE), ceifou as vidas de 11 jovens, no massacre que ficou internacionalmente conhecido como “Chacina do Curió”. Quase uma década depois, as mães das vítimas do caso seguem mobilizadas na luta por justiça e responsabilização dos envolvidos a partir do movimento “Mãe do Curió”.
Dos jovens vitimados, nove deles tinham entre 16 e 19 anos e foram assassinados em um intervalo de apenas seis horas. De acordo com o Ministério Público do Ceará (MPCE), os crimes foram motivados por retaliação à morte do soldado Valtemberg Chaves Serpa, que havia sido assassinado horas antes ao tentar proteger a esposa durante uma tentativa de assalto.
Desde então, as famílias enfrentam uma longa batalha judicial. Já foram realizados três blocos de julgamentos, com seis policiais condenados e 14 absolvidos. Os dois últimos júris estão marcados para os dias 25 de agosto e 22 de setembro de 2025. No primeiro, sete réus responderão por omissão. No segundo, serão julgados os possíveis articuladores da chacina.
Até o momento, 34 policiais foram denunciados pelo MPCE. Desses, três tiveram os processos remetidos à Vara de Auditoria Militar, um faleceu e 30 seguem com julgamento pendente. Novas investigações também foram abertas após o depoimento de um civil que afirmou ter atirado contra as vítimas junto a três policiais ainda não denunciados.
Em entrevista coletiva realizada na sede da Defensoria Pública do Ceará, na última terça-feira (15), as mães das vítimas reforçaram que a luta delas é por justiça, responsabilização dos culpados e por uma segurança pública que respeite a vida nas comunidades periféricas.
“Nosso sentimento não foi de alívio, muito menos de alegria. Teve as condenações, mas não ficamos alegres com isso. As absolvições menos ainda. Mas, tivemos uma cadeia de resultados gigantescos. Nosso objetivo não era só as condenações, era vir à tona todo esse lado podre que a gente sabe que tem. É exatamente esse lado que a gente tem que tirar fora”, afirmou Suderli de Lima, mãe de Jardel Lima dos Santos, morto aos 17 anos.
Mesmo diante da dor, o Movimento Mães do Curió tem atuado na reconstrução social da comunidade. Elas não se conheciam antes da tragédia, mas se conectaram na dor do luto e enfrentaram o medo para lutar em nome de seus filhos.
Hoje, projetos artísticos e culturais para jovens da região têm sido criados para preservar a memória dos que se foram e garantir perspectivas de futuro para quem ainda vive ali. O objetivo é evitar que outras mães passem pela mesma violência que elas passaram.
“O que as mães e familiares do Curió querem é justiça. E uma polícia saudável para entrar nas nossas periferias e deixar os nossos filhos poderem seguir suas vidas… e a gente um dia poder ser avó. Eu não posso ser avó do meu filho. Essas mães não poderão ser avós dos seus filhos. A gente não poderá ir para uma colação de grau, uma formatura dos nossos filhos. Isso é cruel”, lamentou Edna Carla, mãe de Álef Sousa Cavalcante, 17 anos, mais uma vítima desta tragédia.
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