Encontro de Comunicação em Salvador mobiliza Comunicadoras Negras rumo à Marcha por Reparação e Bem Viver

Cerca de 30 comunicadoras negras se aquilombaram, presencialmente e online, para a junção de uma rede estratégica com o intuito de ampliar o alcance e fortalecer as narrativas sobre a Marcha das Mulheres Negras
O Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), em Salvador (BA), recebeu, na manhã do último sábado (16), o Encontro Híbrido de Comunicação para a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver. O evento marcou a continuidade de um ciclo de atividades que contou com dois encontros online e um presencial, com o intuito de conectar comunicadoras negras em uma rede estratégica para ampliar o alcance e fortalecer as narrativas sobre a Marcha das Mulheres Negras, que acontece em 25 de novembro deste ano, em Brasília (DF).
A proposta do encontro foi acolher as comunicadoras interessadas, escutar expectativas e propostas e construir de forma coletiva. Mediado pela ativista do Instituto Odara, Joanna Bennus, a atividade reuniu cerca de 30 mulheres negras, vindas de diferentes organizações, comitês impulsores, veículos de mídia, da universidades e do movimento social. A abertura ficou por conta da intervenção artística da educadora, ativista e pesquisadora Zae Zambe, com a performance Kitembu, que inundou a sala de ancestralidade e celebrou o poder das mulheres negras de se comunicarem.
Compartilhando o legado do Grupo de Mulheres do Alto das Pombas (Grumap), a liderança e ativista Rita Santa Rita iniciou sua fala contando a história da instituição, que tem 43 anos de atuação no bairro do Alto das Pombas, em Salvador (BA). Para o Grumap, a comunicação é uma ferramenta de combate ao racismo essencial, construída para disputar o acesso às políticas públicas na comunidade. As estratégias de incidência comunicacional que vem sendo usadas pela organização no bairro servem de inspiração e dialogam diretamente com a comunidade em diferentes formatos: carros de som, jornal impresso, podcasts, panfletos, cinema na praça e rodas de conversa.
“É preciso pensar em comunicação com carinho, não do ponto de vista do jornalismo dentro da academia, mas da comunicação popular das mulheres negras, que é com quem a gente quer conversar e precisa chegar”, afirmou Rita.
Com o intuito de ecoar a Marcha e consolidá-la como um marco político para mulheres negras de diferentes realidades brasileiras, Alane Reis, coordenadora do Programa de Comunicação do Instituto Odara e integrante da equipe nacional de comunicação da Marcha, apresentou às comunicadoras o Planejamento Estratégico de Comunicação da Marcha das Mulheres Negras. O documento tem como objetivo garantir uma narrativa unificada, valorizar a diversidade e ampliar a divulgação das pautas da Marcha nos territórios de forma acolhedora, plural e mobilizadora.
“Hoje entendemos que a comunicação da Marcha precisa dialogar não apenas com quem já é ativista — isso nunca deixará de ser importante. Mas queremos também alcançar todas as mulheres negras, desde a camelô e a trabalhadora doméstica até a mulher negra da classe média, que é médica, advogada, que pode não estar no ativismo, mas que tem interesse em se articular e se organizar”, ressaltou Alane.
Márcia Guena, professora da Universidade Estadual da Bahia (UNEB), também contribuiu com o debate, relatando sua experiência no Campus de Juazeiro, onde, em parceria com a professora Ceres Marisa, criou um projeto de extensão e uma proposta de pesquisa para estudantes sobre a Marcha. Ela destacou ainda a importância da linguagem neste momento, a menos de 100 dias do evento, enfatizando a necessidade de um discurso que seja, ao mesmo tempo, acolhedor e combativo, capaz de denunciar as violências e afirmar a luta por uma sociedade em que as mulheres negras possam acessar o Bem Viver, e em que jovens negras deixem de estar nas estatísticas da violência policial.
“Não há Bem Viver possível com o genocídio do povo negro. A Marcha não é um momento de conciliação, é o ápice de uma luta de 10 anos. Não é um momento de discurso brando, é um momento de confronto, de enfrentamento, de agir coletivamente sem medo, garantindo que todas as violências sofridas pelas mulheres negras e suas ancestrais sejam visibilizadas”, afirmou Márcia.
O encontro também promoveu uma roda de conversa e reflexão sobre as experiências das organizações presentes e seus planos de comunicação em apoio à Marcha. Um espaço de escuta, onde foram tecidas novas ações e alianças em prol de uma construção coletiva da comunicação.
O encontro terminou com a leitura da carta construída por comunicadoras da Bahia. O manifesto fez ecoar na sala a luta coletiva de mulheres comunicadoras da Bahia por Reparação e Bem Viver, e pela construção de uma comunicação que paute a população negra, livre de estereótipos, e que seja ferramenta de luta por uma sociedade onde o Bem Viver seja um direito para todas e todos.
GRUPO DE TRABALHO
As comunicadoras da Bahia também estão articuladas em um Grupo de Trabalho (GT), do qual também nasceu a proposta do encontro do último sábado (16). O GT realiza reuniões periódicas para debater estratégias de expansão da Marcha no estado, funcionando como um espaço fundamental para alinhar ações de comunicação, fortalecer a presença nos territórios e garantir que a mensagem da Marcha alcance diferentes públicos — das comunidades quilombolas aos grandes centros. A próxima reunião acontece na próxima segunda-feira, 25 de agosto, às 19h, em formato virtual, dando continuidade a esse processo coletivo de construção. Mais informações sobre as atividades podem ser acompanhadas no Instagram @comitebamarcha2025.
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