Encontro de Lideranças da Bahia fortalece mobilização rumo à Marcha Global de Mulheres Negras

Por Brenda Gomes | Redação Odara
Com música, alegria e a força da coletividade, mulheres de diferentes municípios baianos se reuniram em Salvador para o Encontro de Lideranças da Bahia rumo à Marcha Global de Mulheres Negras. O espaço marcou a preparação para a Marcha de 2025, reafirmando a luta por reparação histórica e pelo Bem Viver.
O encontro foi iniciado com um momento de chegança e acolhimento, seguido por uma análise de conjuntura e discussões sobre o processo de construção da Marcha. Estiveram presentes lideranças de 14 territórios e 30 municípios da Bahia, em um esforço de articulação estadual, para ampliar a mobilização que culminará na Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, prevista para 25 de novembro de 2025, em Brasília (DF).
NOSSOS PASSOS VÊM DE LONGE
Suely Santos, da Rede de Mulheres Negras da Bahia, fez um resgate histórico de alguns momentos importantes para os Movimentos de Mulheres Negras e para o Movimento Negro no Brasil. Relembrando momentos decisivos de luta como o Encontro Nacional de Mulheres Negras de 1988, a Marcha Zumbi de 1995 e a Conferência de Durban em 2001, além da Marcha de Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver.
“Somos um povo em constante construção. Um movimento que se revigora, seja com as que já estão na luta, seja com as novas pessoas que chegam. Temos a responsabilidade de manter essa chama acesa, de passar adiante o que recebemos das que vieram antes. Estamos aqui porque elas estiveram aqui em algum momento, e é por essa continuidade que seguimos”, destacou Suely.
Érika Francisca, ativista do Odara – Instituto da Mulher Negra, avaliou que o encontro foi fundamental para compreender em que estágio cada município está no processo de mobilização da Marcha. “Conseguimos perceber como cada município está no processo da Marcha. Foi importante ter esse panorama e também fortalecer nossa união. Mesmo com dificuldades sobre como iremos garantir transporte para Brasília, saímos animadas. Algumas cidades já estão se organizando com rifas, bazares e diálogos com gestores locais, enquanto outras avançam mais devagar. Ainda assim, o encontro renovou nossas energias e mostrou o entusiasmo das companheiras em se mobilizar para a Marcha”, afirmou.
DIVERSAS, MAS NÃO DISPERSAS
A necessidade de fortalecer a articulação entre os comitês municipais e estaduais foi destacada por Marinalda Soares, do Comitê Portal do Sertão, de Feira de Santana. “Falta pouco tempo para a nossa Marcha, então os comitês municipais precisam estar conectados com as articulações estaduais. Estar aqui facilita a gente fazer articulações com maior firmeza e também levar para os territórios as informações sobre a construção em nível nacional.”
Do território Sudoeste da Bahia, Letícia Figueiredo chamou atenção para a urgência de políticas públicas estruturais voltadas às mulheres negras. Para ela, é inaceitável que, em pleno 2025, ainda seja preciso lutar por direitos básicos. “Somos a maioria nesse país, somos nós que carregamos esse país nas costas. É inadmissível que em 2025 ainda tenhamos que pautar políticas públicas para garantir direitos fundamentais. É preciso assegurar trabalho formal, moradia e alimentação a tantas mulheres que vivem em situação de vulnerabilidade social. Não dá mais para ficarmos esperando migalhas dessa democracia burguesa. Precisamos de mudanças radicais, de um projeto político que coloque as mulheres no centro, porque somos nós as mais violadas dentro dessa estrutura tão desigual.”
JUNTAS POR REPARAÇÃO E BEM VIVER
Bernadete Souza Ferreira, ativistas e yalorixá, trouxe para a roda a necessidade de ampliar o debate sobre os diferentes sentidos de reparação, destacando que não se trata apenas de reconhecimento simbólico, mas de enfrentar diretamente as desigualdades territoriais e econômicas que afetam as comunidades negras.
“Não é possível que um Estado como o nosso tenha direito de passar com uma ferrovia por dentro das regiões quilombolas e assentamentos, se fortalecendo financeiramente, enquanto as comunidades ao redor seguem passando fome e empobrecidas. Precisamos falar sobre como o racismo opera”, destacou Bernadete.
Já Lindinalva de Paula, da Rede de Mulheres Negras da Bahia, destacou que a Marcha das Mulheres Negras é capaz de reunir diferentes movimentos e perspectivas sem perder a unidade. Para ela, a experiência de 2015 consolidou essa diversidade como uma força e abriu caminho para que, em 2025, os temas da reparação e do Bem Viver se tornem centrais no debate político.
“A Marcha de 2015 mostrou que, apesar da nossa diversidade, não estamos dispersas. Esse foi um resultado fundamental daquele momento. Agora, em 2025, colocamos no centro a reparação, um conceito que precisa ser discutido e compreendido em suas várias dimensões, e também a política do Bem Viver. Precisamos refletir sobre qual é o nosso capital político dentro da Marcha, a partir da nossa capacidade de mobilização. Não podemos reunir mais de um milhão de mulheres no Brasil e deixar de transformar essa força em um projeto político das mulheres negras para 2026 e além.”
COMUNICAÇÃO
Na Bahia, os municípios estão articulados por meio do Comitê Estadual, que divulga as ações na página do Instagram @comitebamarcha2025. Além disso, alguns territórios também mantêm páginas próprias para fortalecer a mobilização local, como os comitês de Itacaré, Portal do Sertão e Camaçari. Essas iniciativas mostram como a Marcha tem se enraizado nos territórios, ampliando a visibilidade e o alcance da luta das mulheres negras em direção à Reparação e ao Bem Viver.
A mobilização já começou: cada território, cada mulher negra que se soma, fortalece o caminho até Brasília em novembro de 2025.
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