Encontro de Mulheres Negras Nordeste-Amazônia reúne ativistas, parlamentares e pré-candidatas negras e indígenas, em Salvador (BA)
Organizado pelo Odara – Instituto da Mulher Negra, o encontro reuniu mais de 100 mulheres negras e indígenas para discutirem a partir do questionamento: “Qual o nosso projeto de nação?”
Por Jamile Novaes | Redação Odara
Durante os dias 7, 8 e 9 de julho, o Odara – Instituto da Mulher Negra, através do projeto Projeto Pretas no Poder: Participação Política, Representatividade e Segurança de Ativistas Negras, realizou o Encontro de Mulheres Negras Nordeste-Amazônia: Qual o nosso Projeto de Nação?, que reuniu mais de 100 mulheres negras e indígenas das regiões Nordeste e Amazônia.
O encontro, que compõe a agenda coletiva de atividades da 10ª edição do Julho das Pretas – Mulheres Negras no Poder, construindo o Bem Viver, aconteceu na cidade de Salvador (BA) e contou com mesas e diálogos plurais sobre participação política, projeto político centrado no Bem Viver, estratégias e compromissos mútuos entre os movimentos de mulheres negras e indígenas. Além de ativistas dos Movimentos de Mulheres Negras e Indígenas, estiveram reunidas parlamentares e pré-candidatas que disputarão cargos políticos nas eleições de 2022.
Durante o primeiro dia de atividades foram realizadas dinâmicas de acolhimento e apresentação, além de um sarau com participação das poetas Ayran Búfalo, Flora Rodrigues, Maiara Silva e Negreiros Souza.
Já no dia 8, as discussões estiveram focadas na análise de conjuntura política nacional e local, trazendo temas como alianças políticas, financiamento de campanha, violência política e buscando ampliar a concepção de poder para além da política partidária, partindo da experiência das mulheres em suas regiões, estados e municípios.
Com o tema Análise de conjuntura: Mulheres Negras e Indígenas no Poder, construindo o Bem Viver, a primeira mesa do dia contou com a participação de Luciana Lindemeyer (Rede de Mulheres Negras do Ceará), Mônica Oliveira (Rede de Mulheres Negras de Pernambuco), Rayane Vieira (Instituto Negra do Ceará – INEGRA), Silvinha Xucuru (Rede de Juventude Indígena – REJUIND), Valéria Porto (Central Regional Quilombola – CRQ) e mediação de Joyce Lopes, coordenadora do Projeto Pretas no Poder: Participação Política, Representatividade e Segurança de Ativistas Negras, do Instituto Odara.
Na tarde do dia 8, a segunda mesa de discussão trouxe o tema Entre esquerda e direita, continuo sendo preta (Sueli Carneiro, 2000): Mulheres Negras e ideologias políticas na atualidade, com a presença de Brenda Marques (Rede de Mulheres Negras do Piauí), Ritinha Pereira (Grupo de Mulheres do Alto das Pombas – Grumap), Socorro Guterres (Rede de Mulheres Negras do Maranhão – REMNEGRA), Suely Souza (Rede de Mulheres Negras da Bahia) e mediação de Rosana Fernandes, da Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE.
Para Joyce Lopes, “o momento possibilitou reafirmar a demanda de apoio e retaguarda para as candidatas e parlamentares, tendo em vista a violência política que sofrem nos partidos e outros espaços de incidência; bem como, o direcionamento de compromisso ético-político destas com as agendas e pautas inegociáveis dos movimentos de mulheres negras”.
Ainda na noite do dia 8, aconteceu o lançamento do livro “Fragmentos do Tempo Presente”, da escritora e ativista Rosane Borges.
O último dia do encontro (9) tratou da discussão de estratégias políticas para alinhar e garantir que importantes pautas de mulheres negras e indígenas sejam priorizadas dentro das agendas políticas dos movimentos. O dia começou com o lançamento do Mapa da Violência Política contra Mulheres Negras no Nordeste, desenvolvido pelo Instituto Odara, através do Projeto Pretas no Poder.
Na sequência, a mesa com o tema Aldear e aquilombar a política: Mulheres Negras e Indígenas na construção do Bem Viver contou com participação de Nilma Bentes (Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará – CEDENPA), Valdecir Nascimento (Instituto Odara), Braulina Baniwa (Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade – ANMIGA), Turi Omonibo (Liderança Religiosa de Matriz AfroIndígena) e Mediação de Naiara Leite, coordenadora executiva do Instituto Odara.
Sobre a proposta de reunir e dialogar sobre as pautas de mulheres negras e indígenas, Telma Taurepang, coordenadora geral da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB), afirma que:
“Houve uma positividade muito grande, porque surge uma uma luz no fundo do túnel quando duas raças se encontram para lutar em prol de todos. O Odara faz a diferença na luta do Bem Viver na vida das mulheres indígenas no Brasil”.
Durante a tarde do dia 9 foi realizada a mesa com o tema Reforma Não, Implosão Política: Por um Estado Pluriétnico e Plurinacional, reunindo Maria Malcher (Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará – CEDENPA), Rosane Borges (Escola Longa), Marcivana Sateré Mawé (Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno – COPIME), com mediação de Thiffany Odara, liderança da Associação Religiosa Oya Matamba.
Além das mais de 100 mulheres presentes no encontro, as mesas do dia 9 contaram com a presença de cerca de 40 meninas crianças, adolescentes e jovens negras que integram a turma presencial do projeto Ayomide Odara, do Instituto Odara, que participaram das discussões e entrevistaram algumas das parlamentares presentes.
“O encontro foi algo surreal, foi um momento de compartilhamento, informações e o melhor de tudo: aprendizado. O que eu levei desse momento foi que nós, mulheres negras de todo o mundo, podemos sim conquistar nosso lugar de fala, tanto dentro da política, quanto em qualquer lugar. Nós, meninas, estivemos com mulheres com histórias fortes e de resistência”, afirmou Laila Vitória, adolescente de 16 anos que integra o projeto Ayomide Odara.
Ao final das mesas, as participantes do encontro elaboraram a “Carta aberta à sociedade: Questões inegociáveis para mulheres negras e indígenas na disputa por poder”. O documento, que será divulgado em breve, é baseado nas demandas, aspectos e noções de acesso a direitos, poder e Bem Viver, discutidos durante o encontro, e que norteiam os caminhos para a garantia de condições de autodeterminação coletiva, e autonomia cultural, econômica, política, tecnológica e territorial de mulheres negras e indígenas.
Para Naiara Leite, coordenadora executiva do Instituto Odara, o encontro foi importante para refletir sobre as perspectivas políticas das mulheres do Nordeste e da Amazônia, a partir dos acúmulos que esses movimentos de mulheres têm construído nas últimas décadas em relação ao pensar projeto nação e modelo de sociedade sem racismo, sem violência, com liberdade, com direito à vida para as populações negras e indígenas:
“Foi um espaço de ampliação e aprofundamento da leitura política de mundo, da leitura política de Brasil e da leitura política de qual é o nosso projeto de futuro: com quem a gente se alinha, com quem a gente constitui aliança, com quem a gente constrói a revolução, quem são os nossos parceiros estratégicos e táticos, e até onde a gente vai na negociação política com os partidos políticos”.
Para encerrar, o encontro contou com apresentação musical de Matilde Charles, cantora baiana intérprete da música popular negra brasileira.
Comentários