Escola de Ativismo e Formação Política para Mulheres Negras Beatriz Nascimento encerra 7ª turma com foco na articulação rumo à 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras
Por Adriane Rocha | Redação Odara
A noite de encerramento da 7ª turma da Escola de Ativismo e Formação Política para Mulheres Negras – Beatriz Nascimento (EBN) foi um marco de aprendizado, troca e mobilização em torno da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, que acontecerá em novembro de 2025, em Brasília. O último encontro foi realizado na última terça-feira (12) e contou com a presença de 60 mulheres, das regiões Nordeste e Amazônia entre os meses de abril a outubro, juntas refletindo, estudando e debatendo as pautas do Movimento de Mulheres Negras, e articulando coletivamente estratégias de mobilização para chegada em Brasília.
Idealizada pelo Odara – Instituto da Mulher Negra, a Escola Beatriz Nascimento tem como objetivo central fortalecer a formação e incidência em torno das demandas históricas e contemporâneas das mulheres negras. Para Lorena Cerqueira, coordenadora da EBN, o encerramento da 7ª turma também marcou um momento estratégico na mobilização para a Marcha de 2025.
“Essa turma trouxe um chamado de organização para a Marcha de 2025 e também um retrospecto da memória do que foi a construção da Marcha de 2015. Nesse último encontro, abrimos a participação de cursistas de turmas anteriores, para ampliar o processo de mobilização”, destacou Lorena.
As aulas foram uma verdadeira troca inter-regional, onde foi possível identificar as principais semelhanças e diversidades entre as lutas das mulheres negras em seus respectivos estados. Para Jamile Godoy, ativista de João Pessoa, Paraíba, pensar em reparação a partir da sua experiência na Escola Beatriz Nascimento, é refletir sobre a trajetória da sua vida e de todas as mulheres e meninas que fizeram parte do grupo:
“Acredito que, de alguma forma, estamos unidas, trocando experiências de vida, articulando politicamente e pensando na nossa continuidade enquanto mulheres negras e também como pessoas políticas na sociedade. Isso é reparação. Reparação também é refletir sobre as trajetórias que levamos para os nossos territórios a partir das vivências e trocas que tivemos na escola. O Bem Viver é exatamente isso: um conceito pensado por nós, mulheres negras, por mim e por todas as companheiras que estiveram comigo nesse processo, como uma forma de traçar caminhos e decidir o que fazer a partir daqui.”
Rita Ribeiro, moradora de Salvador (BA), também participou das formações e afirma que sua experiência na EBN a fortaleceu e ressignificou sua luta:
“Participei do curso no Instituto Odara, por meio da Escola Beatriz Nascimento, e essa experiência trouxe um impacto profundo na minha vida como mulher preta e pessoa com deficiência, em uma sociedade tão excludente. Através das discussões e trocas de conhecimento, fui empoderada e ressignificada. Convido você, mulher preta, a participar desse curso e a beber dessa fonte transformadora de conhecimento.'”
O evento contou com uma aula especial conduzida por Valdecir Nascimento e Naiara Leite, ambas lideranças do Odara e atuantes na construção da Marcha. Valdecir ressaltou a importância desse momento para unir e motivar as mulheres negras em torno da construção de um evento que será conduzido por e para elas. “Nosso objetivo é nos organizarmos para deixar claro que a marcha é das mulheres negras. Mulheres negras de todos os lugares e de todas as ocupações fazem parte dessa marcha. Não apenas porque estamos convocando a marcha por reparação e pelo Bem Viver, mas porque temos a responsabilidade de pressionar, de transformar essa ordem e fortalecer o compromisso com a luta de todas nós”, afirmou a idealizadora e fundadora do Odara.
Naiara, que é coordenadora executiva do Odara, fez uma reflexão sobre o propósito da mobilização para a Marcha. Ela destacou que o movimento é, antes de tudo, uma luta por uma mudança estrutural: “Não marcharemos para buscar um abraço do presidente em Brasília. Nosso compromisso é com a pauta e com a transformação real. Estamos marchando para afirmar que queremos reparação, para dizer basta ao racismo, ao sexismo, ao feminicídio. Esse é o nosso compromisso,” afirmou.
SEGUIMOS EM MARCHA!
A luta das mulheres negras brasileiras remonta a 2015, quando meninas, jovens, adolescentes e mulheres marcharam contra o racismo e todas as formas de violência que afetam a população negra. Na Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver, estavam em pauta exigências inegociáveis, como o direito à humanidade, o direito a ter direitos e o reconhecimento e valorização das diferenças. Essa marcha foi um marco na afirmação do movimento negro e feminista no Brasil, e sua agenda continua a inspirar as mobilizações de hoje.
Desde o ano de 2023, iniciamos a mobilização para a 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras, que acontecerá em 2025 e tem como objetivo reunir 1 milhão de mulheres negras em um ato histórico. A marcha não é apenas um evento, mas um processo de mobilização, articulação e conscientização que se estende por todo o país.
O encerramento da 7ª turma também definiu passos importantes para os próximos meses, como explicou Lorena Cerqueira: “Ficou encaminhado que a Escola vai constituir um núcleo de mobilização, responsável por criar caravanas no Nordeste e na Amazônia. Esse núcleo será formado pelas cursistas e impulsionará a mobilização em torno da Marcha, garantindo a maior presença de mulheres negras em Brasília em 2025.”
A 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver está sendo articulada e organizada nos 27 estados da federação. As mulheres negras são convocadas a criar seus Comitês Impulsores Estaduais, Municipais e Regionais, para realizar mobilizações por meio de reuniões, encontros, passeatas, elaboração de materiais, debates, entre outras ações. Esse esforço coletivo visa garantir que a marcha seja um espaço de visibilidade e empoderamento para todas as mulheres negras do Brasil.
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