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Festival da Fogueira fortalece mobilização de mulheres negras com fé, cultura e resistência em Salvador

Pedra de Xangô foi um espaço de memória, denúncia e organização popular

Por: Brenda Gomes | Redação Odara

Nos dias 13 e 14 de junho, aconteceu em Salvador (BA), a quinta edição do Festival da Fogueira do Parque da Pedra de Xangô. Reunindo espiritualidade, arte e ação política, reafirmando o território como espaço sagrado e estratégico para a organização dos povos de terreiro e da luta das mulheres negras.
O evento, realizado pelas Matriarcas Guardiãs da Pedra de Xangô, Associação Bominfá e Obassoruns do Parque, transformou o território sagrado em um grande espaço de celebração, articulação política e afirmação da identidade negra. O festival é uma construção coletiva que se sustenta na força do povo de axé e da organização de bases negras.

Durante os dois dias, o público participou de uma programação diversa, que inclui palestras, oficinas, exposições, culinária de terreiro, rodas de conversa, apresentações musicais e também rituais simbólicos de renovação de compromisso com a espiritualidade e resistência.

Durante o evento, ativistas do Odara – Instituto da Mulher Negra participaram ativamente da programação do Festival, além de integrarem os debates e rodas de conversa também organizaram uma exposição com materiais da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, prevista para acontecer em Brasília, no dia 25 de novembro de 2025, reunindo mulheres do Brasil e do mundo.
O espaço, construído em parceria com as Matriarcas Guardiãs da Pedra de Xangô, funcionou como um stand político-afetivo, lugar de acolhimento, escuta e mobilização. Com uma ambientação repleta de símbolos da ancestralidade e das lutas das mulheres negras.

Para Erika Francisca, ativista do Odara e integrante do Comitê Impulsor da Bahia para a Marcha, o momento foi importante para articulação das comunidades de terreiro com os temas centrais da Marcha. “É necessário que nós, mulheres e homens negros de terreiro, possamos falar sobre o que significa Reparação Histórica para nós. São as nossas vivências como pessoas que acessam o SUS, que lutam por educação pública de qualidade, que cuidam da juventude nas periferias e nas comunidades, que vão dizer qual a reparação que precisamos. Estamos aqui para chamar nossas irmãs e nossos territórios a marcharem juntas por justiça, dignidade, reparação e Bem Viver.”

COMUNIDADES ORGANIZADAS

Para Nayra Sacramento, coordenadora de assistência estudantil da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e integrante do Ilê Axé Terra de Caboclo do Pai Fábio de Ogum, o festival é parte de uma resposta histórica. “Nós, pessoas negras, estamos na linha de frente da falta de moradia, da violência, dos piores salários, da negação do direito ao lazer e à alimentação. Tudo isso atravessa as nossas vidas. Por isso precisamos estar unidos e fortes. A história mostra que quem não conseguiu se organizar como nós estamos aqui hoje, não está aqui para contar a história. Precisamos fazer o enfrentamento ao racismo de forma organizada.”

O Babalorixá Josias, do Ilê Axé Obá Paleomã, é um dos organizadores do Festival da Fogueira, e tem sua trajetória marcada pelo ativismo em defesa dos povos de terreiro. Para ele, o papel político do evento é pensar como as populações de terreiro podem ter mais acesso a políticas públicas. “A Pedra de Xangô é o coração do povo de terreiro e também do nosso rei (Xangô) que é o juiz. Esse evento tem o objetivo de buscar políticas públicas para os povos de terreiro, principalmente no processo de inclusão da pedagogia dos povos de terreiro. Este ano temos o tema de educação e meio ambiente, mas já tratamos de empreendedorismo e outros temas. Tudo com foco nos povos de terreiro, por entender que são menos favorecidos, pois as políticas públicas não atingem a comunidade negra.”

A presença de empreendimentos negros no Festival da Fogueira também destacou produções que dialogam com a valorização da história e da identidade afro-brasileira. A pedagoga Isadora Cruz, mestranda em Educação e Contemporaneidade pela UNEB, apresentou no evento o livro “Afro – uma pequena enciclopédia visual da Bahia Negra”. A publicação busca homenagear personalidades, coletivos e territórios da cultura negra baiana, entre eles, a própria Pedra de Xangô.

“É muito importante que as pessoas conheçam a história da Pedra de Xangô, porque geralmente, tradicionalmente, na verdade, quando a gente pensa no currículo escolar para a história, a gente pensa nas grandes guerras, nas grandes revoluções. Mas a Pedra de Xangô, ela é uma revolução cotidiana para o povo de santo, que pode professar sua fé, se afirmar identitariamente. Então a gente está aqui hoje celebrando tanto esse monumento como também a fé do povo de santo”, destacou Isadora.

ODARA GUARDIÃ

Durante o festival, foi realizada uma cerimônia simbólica para nomear os novos Guardiões e Guardiãs da Pedra de Xangô, além de reconhecer o papel de organizações da sociedade civil na preservação e valorização do território. Uma das homenagens foi destinada ao Instituto Odara, representado pela ativista Erika Francisca, que recebeu o reconhecimento em nome da instituição:
“Estamos muito felizes em saber que podemos contar com essa força ancestral que nos mantém fortalecidas na busca por justiça, principalmente diante das injustiças vividas pela população negra.”

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