Juventudes Negras da Bahia fortalecem mobilização rumo à Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver

Rodas de conversa, encontros online e presenciais e o lançamento do Comitê de Juventudes impulsionam a articulação política por Reparação e Bem Viver
Por Brenda Gomes | Redação Odara
As juventudes negras da Bahia estão cada vez mais conectadas e articuladas em torno da construção da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que será realizada em Brasília (DF), no dia 25 de novembro de 2025. Em um contexto de violências sistemáticas contra a população negra e de apagamento histórico de suas vozes, a mobilização juvenil se afirma como força política indispensável. Debater reparação é afirmar a necessidade de justiça diante de séculos de desigualdades, enquanto o Bem Viver se coloca como horizonte coletivo de dignidade, liberdade e futuro.
Com esse entendimento, jovens de diferentes territórios têm se encontrado para traçar estratégias, fortalecer vínculos e ocupar, com força e criatividade, o processo de mobilização rumo à Marcha. Desde julho, vêm sendo realizados encontros presenciais e virtuais para refletir sobre a Marcha e o papel da juventude nessa construção. Essas ações têm sido impulsionadas pelo Núcleo de Juventudes Negras do Odara – Instituto da Mulher Negra, que no sábado, 20 de setembro, promoveu um encontro em formato híbrido na sede da organização, em Salvador (BA).
A jornalista Adriane Rocha, integrante do Núcleo de Juventudes, destacou que o encontro teve como objetivo situar a juventude na continuidade da luta histórica das mulheres negras. “Refletimos sobre os motivos que levaram as mulheres a marcharem em 2015 e por que seguimos marchando em 2025. Discutimos o Bem Viver, a reparação e as formas de mobilização da juventude negra. Somos os principais alvos da violência policial e sexual e, por isso, precisamos estar articulados para caminhar lado a lado com as mulheres negras na Marcha.”
O espaço foi marcado por trocas de experiências, memória e projeções de futuro, com a juventude assumindo o compromisso de dar continuidade às lutas históricas das mulheres negras no Brasil. Desde sua primeira edição, em 2015, a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver, se consolidou como um marco político e social, reafirmando o protagonismo das mulheres negras na defesa da vida, da dignidade e da justiça social.
A estudante Júlia Ferreira, de 19 anos, integrante do projeto Minha Mãe Não Dorme e do Pretitudes do Cabula, ressaltou o papel do encontro na reconstrução cultural e política. “Desde pequenos somos ensinados a respeitar a ancestralidade branca, mas não a negra. Esse encontro foi um aprendizado fundamental. É importante lutar, ir às ruas e mostrar que ainda estamos vivos. Não seria chato falar de racismo se as pessoas realmente nos ouvissem.”
Para Vitória Alves dos Santos, de 16 anos, moradora do bairro do Nordeste de Amaralina, em Salvador, o encontro abriu novas perspectivas. “Foi de extrema importância para mim como uma mulher negra jovem. A escuta também é um processo de aprendizagem muito grande e importante. Gostei muito e espero que aconteça mais vezes.”
Já Amanda Hipólito, 20 anos, estudante de Fisioterapia e Teatro, e integrante do CRIA – Centro Integrado de Crianças e Adolescentes, destacou a força do encontro em sua formação pessoal e coletiva. “Estar em irmandade me deixa muito feliz porque me impacta socialmente, profissionalmente e pessoalmente. A movimentação da juventude rumo à Marcha em 2025 vai muito além do que imaginamos. Ela toca em lugares íntimos, desperta consciência e traz uma bagagem de responsabilidade e cidadania para este coletivo.”
Comitê de Juventudes Rumo à Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver
Entre das iniciativas impulsionadas e apoiadas pelo Núcleo de Juventudes Negras do Odara — que reúne jovens dos projetos Ayomide Odara, Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar e do Programa de Comunicação do Instituto Odara — foi a construção da Carta das Juventudes Negras da Bahia Em Marcha por Reparação e Bem Viver: O que queremos dizer?, e a criação do Comitê Impulsor de Juventudes Negras rumo à Marcha, lançado na última quinta-feira, 2 de outubro, durante um evento online, em conjunto com as juventudes das organizações: Em Movimento, Rede de Mulheres Negras do Nordeste e o Mude com Elas
Para Amanda Oliveira, liderança jovem quilombola, a criação do Comitê de Juventudes está alinhada à metodologia da Marcha, que se estrutura por meio de comitês temáticos e frentes de atuação, e potencializa diferentes formas de luta. “Pensamos que o Comitê de Juventudes é fundamental porque a juventude negra tem sido historicamente silenciada ou colocada à margem dos espaços de decisão política. Queremos que esse comitê seja um espaço real de fortalecimento do nosso ativismo, de articulação coletiva e de construção de estratégias que enfrentem as desigualdades que marcam o país. Queremos estar do lado das mulheres negras e afirmar o protagonismo das juventudes negras na transformação política do Brasil.”
O encontro contou com a participação de Laila Oliveira, jornalista, pesquisadora e ativista do Grupo Rejane Maria (SE), que compartilhou um pouco da sua trajetória como jovem que integrou a construção da primeira Marcha das Mulheres Negras, realizada em 2015, em Brasília.
“A memória histórica é fundamental para fortalecer a luta da juventude negra de hoje. Em 2015, enfrentamos muitos desafios para fazer aquela marcha acontecer: desde a mobilização nos territórios até o enfrentamento das estruturas racistas e patriarcais que tentavam deslegitimar nossas vozes. Ainda assim, conseguimos construir um ato histórico que mostrou a força das mulheres negras em todo o país”, afirmou Laila.
Durante sua fala, Laila também ressaltou a diversidade de experiências e trajetórias presentes nas mobilizações, reforçando a importância do apoio mútuo e do cuidado coletivo como práticas políticas fundamentais para sustentar os processos de luta. Ela destacou, ainda, a potência da mobilização da juventude em universidades, cursinhos populares, territórios quilombolas e comunidades tradicionais, enfatizando que esses espaços têm sido centrais para a formação política e para a continuidade do legado das mulheres negras que construíram a Marcha de 2015.
Com memória, articulação política e criatividade, as juventudes negras da Bahia seguem ampliando o legado de luta das mulheres negras, garantindo que a Marcha de 2025 seja também expressão da sua voz e do seu protagonismo coletivo. A próxima reunião do Comitê de Juventudes rumo à Marcha será no dia 23 de outubro, fortalecendo ainda mais essa construção conjunta.
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