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Mergulho na Ancestralidade e Cultura: Ayomide Odara encerra o ano de 2024 com intercâmbio de experiências, em Cachoeira (BA) e São Félix (BA)

Adriane Rocha – Redação Odara

O tradicional intercâmbio anual de experiências entre as meninas do projeto Ayomide Odara aconteceu este ano nas cidades de Cachoeira e São Félix, no Recôncavo da Bahia, entre os dias 6 e 8 de dezembro. Foi um final de semana inteiro de experiências transformadoras que conectou ainda mais as meninas do projeto com suas identidades negras, ancestralidade e luta coletiva, além de fortalecer os conhecimentos adquiridos ao longo do ano.

Na sexta-feira (6), após a chegada e o almoço, as participantes seguiram para a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), onde participaram de uma oficina sobre sexualidade de meninas e jovens negras. Esse momento complementou o estudo do terceiro eixo do projeto, que abordou temas como Justiça Reprodutiva, Direitos Sexuais e Reprodutivos, e estratégias de enfrentamento ao abuso sexual. As discussões sobre autonomia corporal e os direitos das mulheres negras, aprofundadas durante o ano, se concretizaram neste espaço, proporcionando uma experiência prática para as Ayos.

Naiara Silva, mãe de Fernanda, de 13 anos, de Salvador (BA), compartilhou como o projeto foi bom para toda a sua família: “O projeto teve um impacto muito positivo na vida da minha família, especialmente ao abordar temas como os direitos sexuais e reprodutivos, que sempre foram um tabu para mim. Eu não sabia como conversar sobre isso com a minha filha, mas depois dessa oficina e dos aprendizados que ela teve, ela já consegue compreender esses assuntos de forma clara e aberta. Agora, podemos conversar sobre esses temas com mais tranquilidade e sem medo, algo que antes era impossível.”

O sábado (7) foi dedicado à reflexão e avaliação do ano de 2024. Durante a oficina, as participantes revisitaram as discussões do primeiro eixo temático, que tratou da identidade e da resistência ao racismo, refletindo sobre seu crescimento pessoal e coletivo ao longo do ano. O encontro também se alinhou ao segundo eixo, que focou na educação racial, com ênfase na importância de ensinar a história e cultura afro-brasileira.

Agnes Maria, Ayo de 13 anos, moradora de Salvador, contou de que forma ela avaliou o ano de 2024 e afirma que se sente confiante para a chegada do novo ciclo: “Aprendi coisas que nunca tinham me explicado antes. Entendi mais sobre quem sou e por que é tão importante ter orgulho da nossa história. Aprendi a falar sobre racismo e a perceber como a gente pode mudar isso juntos. Eu também gostei muito de aprender coisas que não vejo na escola, como a história de pessoas negras que fizeram coisas incríveis e a importância de lutar pelos nossos direitos. Foi um ano de muitos aprendizados e me sinto mais forte e confiante.”

A visita ao Quilombo Santo Antônio e Vidal, em São Félix, foi uma vivência prática desse aprendizado, permitindo que as Ayos se conectassem diretamente com a história de resistência quilombola e a preservação da cultura afro-brasileira. Liz Barbosa, de 12 anos, de Salvador, destacou: Achei importante porque aprendemos coisas novas e vimos como o povo do quilombo mantém a história dos nossos ancestrais viva. Mesmo com a tentativa de que a história seja apagada por muita gente, eles preservam para quem quiser aprender. Foi maravilhoso ver como as tradições são passadas de geração em geração.”

Além de Liz, Gabriele, de 17 anos, moradora da comunidade quilombola da Cutia, também compartilhou sua experiência: “Foi incrível conhecer as meninas do Quilombo Santo Antônio e Vidal. Como venho de uma comunidade quilombola, é bom saber que não estamos sozinhas na luta por recursos. Aprendi no projeto Ayomidê que nós, quilombolas, temos direitos, e isso inclui toda a minha comunidade. Recomendo que quem vive em comunidades assim participe das associações para entender o que está sendo feito e buscar melhorias. Nossas comunidades enfrentam muitas dificuldades, como a falta de água e de renda, mas também têm muita força e história para se orgulhar. O projeto me ensinou a ter orgulho da minha pele e da minha história, algo que as escolas muitas vezes ignoram, principalmente sobre as leis que nos protegem como mulheres negras e quilombolas. Esse aprendizado mudou a minha vida.”

No domingo (8), o último dia do intercâmbio foi marcado por momentos de lazer e confraternização, com tempo livre na piscina para fortalecer os laços entre as participantes. Esse espaço de descontração também foi uma oportunidade de reflexão sobre as vivências do fim de semana e os impactos que o intercâmbio teve no fortalecimento de sua identidade e luta.

Débora Campelo, pedagoga ativista do Odara, destacou a importância do encontro: “As Ayomidês vêm de diferentes territórios da Chapada Diamantina, como Boninal e Seabra, além de meninas de Salvador, da região metropolitana e do Recôncavo. Cada uma traz vivências únicas de seus quilombos e comunidades, e esse momento conjunto é fundamental para fortalecer suas caminhadas. É um processo de troca experiências e isso contribui tanto para o crescimento individual das participantes quanto para o avanço coletivo. Quando uma cresce, ela ajuda a levar as outras.”

Ela também enfatizou o papel do intercâmbio no fortalecimento das conexões entre as participantes, que passam a maioria do ano em atividades online. “Apesar de o projeto ser híbrido, com encontros presenciais mensais, esses momentos de intercâmbio, onde todas se reúnem, são únicos. Além de criar laços, é um espaço de preparação para mobilizações importantes, como a marcha do próximo ano, que marca os dez anos da nossa luta. Esses encontros são essenciais para crescermos juntas e para fortalecermos a luta coletiva.”

Lorena Cerqueira, coordenadora de projetos de educação do Odara, ressaltou para as meninas o esforço e a dedicação para a realização do intercâmbio: “Talvez vocês não tenham dimensão do trabalho que é para fazer esse momento acontecer. Desde setembro, estamos organizando cada detalhe para que vocês estejam aqui hoje. Muitas pessoas se dedicaram para isso, a cada ano, queremos que o intercâmbio seja maior e melhor, porque vocês merecem o melhor, sempre. Imagina só, 48 meninas em uma viagem, com suas mães e responsáveis confiando em nós para cuidar do bem mais precioso de cada família. É uma responsabilidade imensa, mas também uma alegria enorme ver o quanto vocês crescem e se desenvolvem no projeto. O Ayomide é um sonho que realizamos juntas, e cada passo de vocês fortalece esse sonho.”

Além dos agradecimentos das mulheres que estiveram à frente do projeto durante esse ano, as mães das meninas também aproveitaram para firmar a relação do Ayomide Odara com as famílias. Claudiana Reis, do quilombo do Vazante, no município de Boninal, na Chapada Diamantina (BA), mãe de Clara, uma das participantes, falou sobre a importância do projeto para sua filha: “Concluir mais um ciclo no Ayomidê significa muita coisa para mim. É um avanço muito grande. Clara já está no projeto há dois anos e vejo o impacto positivo na vida dela, mesmo que, no projeto, ela participe de forma mais reservada. No dia a dia, isso se reflete na forma como ela se posiciona enquanto menina negra, enfrentando o racismo e questões como bullying. Essa finalização de ciclo traz um sentimento de gratidão e de fortalecimento da identidade dela e de todas as meninas.”

Claudiana também compartilhou como Clara leva os aprendizados do projeto para sua rotina: “Ela sempre fala muito das prós, das temáticas trabalhadas. Ela traz essas falas para o contexto da sala de aula e faz conexões com o que vive no dia a dia. Isso contribui para que ela se posicione assertivamente e enfrente as situações com confiança. Vejo que o Ayomidê ajuda muito na formação dela como pessoa e como estudante.”

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