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Movimento de mulheres negras da Bahia toma ruas de Salvador em Marcha por Reparação e Bem Viver

No dia 25 de julho, data que celebra o Dia Internacional da Mulher Negra Afro-Latina-Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela, o Movimento de Mulheres Negras da Bahia esteve em peso nas ruas de Salvador (BA) para a “Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver”. A concentração começou na Praça da Piedade e seguiu em direção ao Terreiro de Jesus (Pelourinho).

O evento fez parte da agenda coletiva da 12ª edição do Julho das Pretas – Mulheres Negras em Marcha por Reparação e Bem Viver. A marcha reuniu organizações, grupos e coletivos de Salvador e de outras regiões do estado, reforçando o compromisso com a mobilização para a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, que acontecerá em novembro de 2025 em Brasília, com a expectativa de reunir 1 milhão de mulheres negras. 

O Julho das Pretas é um marco na agenda política das mulheres negras do Brasil, promovendo a ação política coletiva e autônoma em diversas esferas da sociedade. Todos os anos, o Julho das Pretas aborda temas essenciais relacionados à superação das desigualdades de raça e gênero, garantindo que a pauta das mulheres negras receba a devida atenção.

Naiara Leite, coordenadora executiva do Odara – Instituto da Mulher Negra e da Rede de Mulheres Negras do Nordeste, destacou que o  processo de organização da marcha das mulheres negras no dia 25 de Julho foi inspirado pela Marcha das Mulheres Negras contra o racismo, a violência e pelo Bem Viver, realizada em 2015 em Brasília, que juntou 100 mil mulheres negras nas ruas. 

Consentração da Marcha das Mulheres Negras na Bahia – Foto: Anastácia Flora

“Ao voltarmos dessa marcha, contagiadas com essa energia e com a perspectiva de que continuaríamos em marcha e em luta pela vida das mulheres negras, decidimos realizar todos os anos a Marcha das Mulheres Negras em Salvador, no dia 25 de Julho. A 12ª edição do Julho das Pretas alinhou-se com a 11ª, reforçando o chamado por Reparação e Bem Viver, temas centrais que orientarão a 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras, marcada para 25 de novembro de 2025, em Brasília”, afirmou Naiara. 

Consideradas pautas centrais para os Movimentos de Mulheres Negras, a Reparação e o Bem Viver representam mais que conceitos abstratos. A reparação histórica, em particular, não se limita ao reconhecimento das violências históricas sofridas pela população negra desde a colonização, mas deve abranger aspectos amplos e fundamentais da nossa realidade.

“A reparação que buscamos deve dialogar com a memória histórica, a questão econômica, os direitos e todas as perdas simbólicas e coletivas que vivemos como povo negro brasileiro. A luta pelo Bem Viver é um caminho que trilhamos junto às populações originárias para construir uma sociedade que não nos exclua ou destrua, mas que seja guiada pela cosmovisão do Bem Viver para todos”, explica a representante do Odara. 

Luciana Silveira, do Grupo de Mulheres Negras do Alto das Pombas (Grumap), destacou a relevância do ato público para evidenciar as pautas de lutas inegociáveis para as mulheres negras, dentre elas uma sociedade de Bem Viver. “Já estamos construindo o Bem Viver e continuaremos a anunciá-lo porque é um projeto político das mulheres negras. Neste marco, reunimo-nos com juventudes e mais velhas, em um encontro intergeracional, marchando pelas nossas vidas, pelos nossos sonhos e sonhos das nossas comunidades.”

Joyce Cristina, coordenadora do Centro de Qualificação Profissional da Associação das Comunidades Paroquiais de Mata Escura e Calabetão (Acopamec)  e militante do Movimento Negro Unificado (MNU), destacou a importância de mencionar que as pautas de lutas das mulheres negras e a agenda do Julho das Pretas nçao é algo novo. 

Marcha faz parte da agenda coletiva da 12ª ediçãod o Julho das Pretas – Foto: Anastácia Flora

“Desde 1992, o dia 25 de julho é um marco na luta pela vida das mulheres negras. A data não é apenas um evento anual, mas um símbolo da nossa resistência e das nossas demandas. Estamos em marcha, organizadas e na certeza que a marcha de hoje só foi a demonstração do quão numerosas seremos em na Marcha Nacional de Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, em Brasília em 2025”, contou Joyce. 

Amanda Oliveira, articuladora do Núcleo de Juventudes Negras Odara, e também liderança jovem do Quilombo Olhos D’Aguinha, na Chapada Diamantina, reforçou como este dia reforça a importância da trajetória e luta das mulheres quilombolas. 

“Estar aqui neste 25 de julho foi muito importante para nós, mulheres e jovens quilombolas, pois historicamente, nos quilombos, construímos nossa luta a partir da força das mulheres negras. Neste Dia Nacional de Tereza de Benguela, estivemos na rua por ela e por todas as nossas mais velhas e novas, que constroem nossos espaços de luta.”

O Julho das Pretas, uma ação de incidência política organizada pela Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), a Rede de Mulheres Negras do Nordeste, a Rede Fulanas – Negras da Amazônia Brasileira, e centenas de outras organizações comprometidas com a luta contra o racismo e o sexismo, é um movimento que ganhou força desde sua criação em 2013 pelo Odara – Instituto da Mulher Negra. Este ano, o Julho das Pretas contou com mais de 500 atividades em todo o Brasil, além de eventos na Argentina e no Uruguai.

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