Músico Ivonei da Cruz é morto durante ação da Polícia Militar no bairro de Curuzu em Salvador (BA)

Ivonei voltava para casa após uma apresentação e foi morto com quatro tiros na cabeça; a PM alega confronto, moradores e familiares denunciam execução
Por Redação Odara
O produtor cultural, músico e morador do bairro do Curuzu, em Salvador (BA), Ivonei de Assis da Cruz, de 40 anos, foi assassinado com quatro tiros na cabeça durante uma ação da Polícia Militar da Bahia (PM-BA), na noite da última sexta-feira, 1º de agosto. Segundo familiares e amigos, Ivonei voltava para casa após uma apresentação musical com a banda Curuzu City, a qual era fundador, quando foi surpreendido pelos policiais. Ele carregava instrumentos musicais e vestia roupas do show.
De acordo com o relato da advogada e amiga de Ivonei, Aline Silva, ao ser surpreendido pelos disparos, ele tentou fugir. Ao entrar em outra rua, foi alvejado por uma segunda guarnição. “Ivonei era um homem calmo, acreditava no diálogo. Deve ter tentado dizer que era morador, explicar o que fazia ali, mas foi executado mesmo assim”, afirmou ao Portal G1.
Apesar das testemunhas e das circunstâncias, a versão oficial da Polícia Militar alega que houve confronto e que três homens foram mortos. A corporação informou, por meio de nota, que os policiais envolvidos “serão submetidos aos protocolos da Portaria nº 070”, que orienta procedimentos em casos de Mortes por Intervenção de Agente do Estado (MILAE). Até o momento, nenhum agente foi afastado ou responsabilizado.
Ivonei era referência no Curuzu. Além de músico, coordenava um bloco infantil e foi candidato a vereador nas eleições municipais de 2024. Seu corpo foi enterrado no domingo (3), no Cemitério Quinta dos Lázaros, sob forte comoção de familiares, amigos e moradores da comunidade.
O PADRÃO DE EXTERMÍNIO CONTINUA
A morte de Ivonei se insere em um cenário alarmante de letalidade policial no estado da Bahia. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2022 a Bahia ultrapassou o Rio de Janeiro e passou a liderar o ranking nacional de mortes provocadas por policiais: foram 1.464 pessoas assassinadas naquele ano. Em 2023, o número subiu para 1.699 pessoas mortas por agentes do Estado.
Salvador é uma das capitais mais letais do país. Entre 2020 e 2022, 97% das pessoas assassinadas pela polícia eram negras, segundo levantamento do Fórum Permanente pela Redução da Letalidade Policial na Bahia. A maioria era jovem, com idades entre 15 e 29 anos, morta em bairros periféricos, como o Curuzu.
A execução de Ivonei reforça o que movimentos sociais e familiares de vítimas vêm denunciando há anos: um projeto de extermínio da população negra, pobre e periférica, sustentado pela política de segurança pública do Estado da Bahia.
“NÃO FOI CONFRONTO, FOI EXECUÇÃO”
A morte de Ivonei gerou protestos no bairro do Curuzu no sábado (2). Moradores tomaram as ruas denunciando a violência policial e cobrando justiça. Cartazes e palavras de ordem deixaram claro o sentimento da comunidade: “não foi confronto, foi execução”.
O Odara reforça a denúncia e se solidariza com familiares, amigos e vizinhos de Ivonei de Assis da Cruz. Através do projeto Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar, a organização se coloca à disposição para colaborar com a luta por justiça e cobrança para que ações concretas sejam adotadas para a redução da letalidade policial na Bahia.
A história se repete, mas não será silenciada e nem esquecida!
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