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Núcleo da Juventude Odara realiza Ciclo Formativo: Juventudes Negras e Reparação Histórica

Com objetivo de debater os desafios, experiências e políticas estratégicas relacionadas ao combate ao genocídio da população negra, mudanças climáticas e justiça reprodutiva, o Núcleo de Juventude do Odara – Instituto da Mulher Negra realizou nos dias 17 de junho, 8 e 15 de julho o primeiro Ciclo Formativo: Juventudes Negras e Reparação Histórica. A atividade circulou entre os bairros do Cabula, Nordeste de Amaralina e Periperi, em Salvador.

Os temas escolhidos para serem debatidos em cada encontro estão atrelados às experiências das juventudes de cada território, o que para Amanda Oliveira, articuladora de juventude do Instituto Odara,  permite colocar a juventude no lugar de protagonista nas discussões nos diferentes espaços que ocupa.  

“O Núcleo de Juventude do Odara vem com a perspectiva de mobilizar a juventude negra de Salvador para pensar e discutir temas que atravessam nossas vidas, mas de forma  que nós possamos fazer provocações a partir da nossa perspectiva, do nosso tempo, da nossa geração. Com a metodologia de debates, conseguimos trocar experiências de como esses temas têm nos atravessado”, afirmou Amanda.

COMBATE AO GENOCÍDIO

O ciclo de atividades iniciou na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), no campus Cabula, em Salvador. A discussão em torno do tema “Combate ao Genocídio Negro” gerou reflexões em torno do processo de criação de favelas, a ascensão da direita brasileira e a chamada “guerra às drogas”. As reflexões em grupo sinalizaram a compreensão coletiva sobre a existência de um plano de extermínio da juventude negra em curso.

“A discussão sobre Políticas de Drogas que temos encontrado hoje é tão vazia e racista, que só serve para fortalecer estereótipos. O que queremos é uma Política de Saúde Pública, que trate a droga com seu conceito científico e que possa ser aplicada sem que precisemos perder mais gente das nossas comunidades. Uma política que seja baseada em estudo e estratégia, não em preconceito e racismo”, afirmou Andressa Franco,  jornalista da Revista Afirmativa. 

JUSTIÇA REPRODUTIVA

O segundo encontro do ciclo, aconteceu em 8 de junho, no Centro Social Urbano (CSU) do Nordeste de Amaralina, e teve como tema “Justiça Reprodutiva”. Pensar em como o racismo é fator central quando se fala em falta de acessos aos direitos reprodutivos e sexuais, foi o ponto de partida do debate entre os grupos.

Amanda de Souza, estudante e presidente do grêmio estudantil do Colégio Estadual Polivalente de Amaralina, acredita que pensar em políticas de justiça reprodutiva, que sejam inclusivas e baseadas em equidade racial, é o único caminho possível para pensar em garantia de direitos. Para ela, o primeiro passo para que essas políticas sejam aplicadas é a inclusão de educação sexual nos currículos escolares.

“Não há como fazer uma discussão sobre dignidade menstrual, justiça reprodutiva e sexual sem partir do ponto que pessoas pretas são as mais afetadas com a falta de políticas públicas. O primeiro passo para pensar esses temas é pautar a educação sexual nos currículos escolares. Se o tema não for abordado nestes espaços não avançaremos na discussão. É necessário informar crianças, jovens e adolescentes, sem preconceitos, sobre seus corpos, para que seja possível, inclusive, combater a violência sexual”, declarou Amanda. 

Para a Debóra Auana, que faz parte do projeto Ayomide Odara, é importante pensar em campanhas formativas para que o assunto como violência sexual e gravidez na adolescência sejam tratados também entre os meninos e homens, já que os casos não ocorrem de forma unilateral.

“Quando falamos de gravidez na adolescência temos vários assuntos para tratar, dentre eles a maternidade compulsória, que vê a mulher como geradora, apenas. Eu menstruei, meu corpo pode até estar preparado para ter filhos, mas minha mente não, minha renda não está preparada para receber essa criança. Adolescentes negras não têm a mesma perspectiva de futuro quando essas gestações acontecem e geralmente são culpabilizadas por isso. A menina preta é vista como descuidada, a branca é acolhida pela sociedade. Quem acolhe as meninas negras?”, questionou Débora.

RACISMO AMBIENTAL

O terceiro encontro do ciclo, aconteceu no último sábado (16), na Sede do Coletivo Incomode, localizada no bairro de Periperi, Subúrbio Ferroviário de Salvador. O encontro teve como tema “Racismo Ambiental e Mudanças Climáticas”, e contou com a participação da comunidade local contando suas experiências com a busca por direitos à moradia, saneamento básico e preservação ambiental.

Nadjane Santos, idealizadora do Coletivo Incomode e moradora de Periperi, falou sobre a importância de entender a organização dos quilombos urbanos para então criar estratégias de permanência e garantia de direitos.

“O racismo ambiental atravessa nossas vidas de diferentes formas, mas é preciso que a gente dê nome a ele. Quando somos empurrados para longe do que eles chamam de “centro”, quando não conseguimos ir e voltar dos espaços com segurança, quando a chuva vem e ficamos com medo das encostas caires ou de alagamentos… Precisamos pensar as comunidades como quilombos e articular as nossas estratégias de luta por moradia digna, permanência no território, preservação ambiental, direito à alimentação e à segurança alimentar.” 

EM MARCHA POR REPARAÇÃO E BEM VIVER

As discussões feitas durante o Ciclo Formativo: Juventudes Negras e Reparação Histórica servirão como base para a escrita de um documento que aponte os desafios e estratégias políticas sobre os temas tratados nos três encontros. Para Beatriz Sousa, articuladora do Núcleo de  Juventude Odara, a carta da juventude será mais uma ferramenta para mostrar à sociedade os anseios, sonhos e inquietações da juventude negra. 

“A ideia é que o documento seja feito a partir das rodas de conversas, com essa escrita coletiva, para trazer várias perspectivas de diferentes regiões, de diferentes jovens, de diferentes espaços, de diferentes campos do ativismo, para incrementar e construir essa agenda política. A ideia é que nossas vozes ecoem a partir de todas as inquietações que foram colocadas nos encontros, e fomentar uma luta que abrace verdadeiramente a juventude”, afirmou Beatriz.

O documento com as provocações e propostas feitas durante o Ciclo Formativo: Juventudes Negras e Reparação Histórica, tem lançamento previsto para o dia 25 de julho, durante a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que acontecerá em Salvador.

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