Projeto Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar realiza planejamento das ações de 2022 no Cabula, em Salvador (BA)
O encontro aconteceu durante a manhã do último sábado (26) na sede da Associação Artístico-Cultural Odeart
Por Jamile Novaes | Redação Odara
A equipe do Projeto Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar se reuniu no último sábado (26) para mais uma atividade de planejamento anual. O encontro aconteceu na Associação Artístico-Cultural Odeart e contou com a presença do Coletivo Cabuleiras, grupo de mulheres que integram o projeto no bairro do Cabula, em Salvador (BA).
A atividade foi iniciada com um café da manhã e uma rodada de apresentações, onde todas tiveram a oportunidade de se conhecer melhor e entender as suas respectivas funções no projeto. As mulheres comentaram sobre a rede de afeto e acolhimento existente entre elas e sobre como as ações do projeto ajudaram a ampliar seus horizontes e ter outras perspectivas de vida.
“A parceria com o Minha Mãe Não Dorme é importante para a nossa organização e para o nosso território, pois permite acolher, fortalecer, impulsionar e ver a mudança nessas mães que passaram por violências, perdas e que hoje são integrantes, de fato, da nossa construção. Elas propõem, intervém, conversam e são lideranças em suas comunidades”, afirmou Andréa da Sena Santos Souza, mobilizadora do Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar e dirigente da Odeart.
O primeiro ponto levantado no planejamento foi a continuidade e ampliação do curso de corte e costura que já acontece através do projeto, para dar oportunidade a outras mulheres que têm interesse, já que existe uma grande procura por vagas. Foi ressaltado que o curso contribui para que as mulheres tenham a possibilidade de alcançar a independência financeira.
“Eu dependia dos outros pra tudo, pra comer, pra beber. A partir do corte e costura hoje eu sou uma mulher independente. Tenho meu ateliê, pago minhas contas e meu aluguel. Sou uma mulher empoderada porque eu encontrei acolhimento aqui no momento mais difícil da minha vida”, afirmou emocionada Rita de Cássia Araújo de Oliveira, mobilizadora do grupo Cabuleiras.
Uma necessidade que já havia sido apontada em outras reuniões de planejamento do Minha Mãe Não Dorme, e também foi reivindicada pelas Cabuleiras, foi a realização de oficinas de letramento. Segundo elas, o acesso à escrita e leitura ajuda a aumentar a autoestima, a independência, facilita o aprendizado nos cursos e amplia os horizontes.
Seguindo a programação do projeto nos anos anteriores, foi proposto também dar continuidade às rodas de conversa sobre temas como abuso de drogas, educação financeira, questões familiares, violência doméstica, empoderamento feminino e autocuidado. “Nós, mulheres negras, muitas vezes precisamos conversar, contar umas pras outras o que estamos sentindo, trocar experiências”, comentou a professora de costura Jacinalva Sena.
As mulheres também apontaram a urgência em realizar encontros para falar sobre educação sexual, com a finalidade de ampliar o combate às violências sexuais às quais meninas e mulheres negras das comunidades periféricas estão constantemente expostas.
Para comercializar as peças que são produzidas no curso de corte e costura e, consequentemente, promover a autonomia financeira do coletivo, o grande plano das Cabuleiras para 2022 é a formalização de uma cooperativa. Elas também estão organizando uma festa junina, com o objetivo de escoar a produção, além de incentivar o resgate da memória, a socialização e união na comunidade.
Com o crescimento da violência e mortalidade de jovens, sobretudo negros e de periferia, as mulheres estão organizando uma marcha para o dia 26 de Agosto, que é marcado na Bahia como o Dia Estadual de Combate aos Homicídios e à Impunidade.
Todas as demandas e sugestões apresentadas foram sistematizadas no planejamento, com a definição de prazos, nomes das respectivas responsáveis por viabilizar as ações e meios para a execução de todas as propostas colocadas. O acompanhamento será feito pela coordenação do Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar, que também será responsável por dar suporte necessário para que todo o cronograma seja cumprido até dezembro.
“Foi um momento de fortalecimento, de troca, de escuta e, para além de tudo, um momento de articulação política. Daqui para frente a gente tem uma grande caminhada e um grande trabalho em torno das demandas que foram apresentadas, mas nada que a coletividade e o afeto não possam dar conta”, afirmou Ana Paula Rosário, ativista do Odara – Instituto da Mulher Negra e auxiliar do projeto Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar.
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