Coluna Beatriz Nascimento #11 – 3ª Temporada: Izabele Caroline do Nascimento
Carta de Agradecimento
Fazer parte da quinta turma da Escola de Ativismo e Formação Política para Mulheres Negras Beatriz Nascimento, a primeira presencial e na comunidade do Alto das Pombas, me fortaleceu e trouxe para mim a sensação de pertencimento e de luta. As coisas que antes me incomodavam não eram apenas coisas da minha cabeça; eram, de fato, racismo. Cada módulo foi feito e pensado para nos atravessar e proporcionar reflexões.
Lembro-me com alegria da primeira aula, em que as meninas do GRUMAP nos apresentaram um debate sobre o texto de Lélia Gonzalez, “Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira”. Já conhecia o texto; li-o durante a graduação, tentando finalizá-lo, e falei sobre o trabalho intelectual de Lélia. Enquanto socióloga, atravessei toda a graduação sem conhecê-la e, até então, a questão do negro no Brasil nunca me foi apresentada de fato, apenas em uma perspectiva branca que eu nunca entendia como fazia sentido. A gente sempre desconfia quando as coisas estão erradas, né? Lembro de como o debate me animou ao perceber que aquela sensação de incômodo não era apenas minha.
Hoje, ao responder à pergunta de Lélia Gonzalez em seu texto, quando ela nos questiona “como é que a gente fica?”, posso afirmar que estamos articuladas, que a mesa hoje é nossa e que branco nenhum vai falar sobre nós; esse espaço não mais lhe pertence.
A EBN me mostrou maneiras de me articular e fortalecer o espaço no qual habito, uma construção potente de muito afeto, aprendizado, partilhas, incômodos, encontros e ressignificação da luta pela libertação, emancipação e bem-viver da população negra. Cada encontro foi único: os abraços, a escuta e o sentimento de acolhimento. Nunca me senti tão pertencente a algo como me senti dentro da EBN. Lembro-me do desejo de entrar na escola, da ansiedade em meio ao processo seletivo e do primeiro encontro, no qual me debrucei em lágrimas. Esse foi meu primeiro encontro de mulheres negras, minha primeira reunião presencial após a pandemia e meu primeiro grupo nessa cidade que me acolhe. Como não ser marcante?
Sou grata ao Instituto Odara pela iniciativa de formar mulheres negras atuantes em suas comunidades, ao Grupo de Mulheres do Alto das Pombas – GRUMAP por nos receber em sua casa e ser apoio e referência do grupo de mulheres negras atuantes em sua comunidade em prol da educação e do bem-viver. Como resultado da Escola, me articulo junto a outras mulheres para a formação e fortalecimento do quilombo de mulheres negras do Cabula. O quilombo tem como objetivo reunir e auxiliar mulheres negras das comunidades citadas para rodas de conversa, autocuidado e empoderamento social e coletivo, com o propósito de bem-viver para a comunidade.
Seguimos firmes, fortes e aquilombadas, assim como nossa irmã Beatriz Nascimento nos ensinou: “A terra é meu quilombo, o meu espaço é meu quilombo. Onde eu estou, eu estou; quando estou, eu sou” – Beatriz Nascimento.
* Izabele Caroline do Nascimento é natural de Itapissuma, Pernambuco. Estudei Ciências Sociais na UFCG e participei de projetos voltados para a cultura negra e o combate à violência de gênero. Atualmente, moro em Salvador, sou artesã e empreendedora de moda em crochê.
Li o seu texto com lágrimas nos olhos irmã, esse DESPERTAR é algo impagável.
Salve as lutas coletivas, salve o Instituto Odara pelo compromisso de fortalecer as mulheres negras
Salve a nossa ancestralidade, que nos mantém de pé, firmes e em resistência para seguirmos nas trincheiras da vida!
Seja bem vinda irmã!
Sinta-se aquilombada!
Vamos construir as mudanças necessárias que esse mundo precisa!