Red de Mujeres Afrolatinoamericanas, Afrocaribeñas y de la Diáspora comemora 30 anos com encontro em Costa do Sauípe (BA)
150 ativistas de mais de 20 países compartilham vivências e estratégias de enfrentamento ao racismo e machismo; As discussões realizadas ajudarão nortear as ações de incidência política da Red durante os próximos anos
Redação Odara
Entre os dias 18 e 20 de novembro, o Brasil sediou o Encontro Comemorativo de 30 anos da Red de Mujeres Afrolatinoamericanas, Afrocaribeñas y de la Diaspora. O evento aconteceu na região de Costa do Sauípe, no Litoral Norte da Bahia. Além de comemorar os 30 anos de existência da Red, o encontro também teve o objetivo de avaliar a atuação política que tem sido feita e traçar estratégias para os próximos anos.
Para abrir as atividades e os caminhos com as bênçãos dos Orixás, a Yalorixá Raidalva Santos, do Ilê Axé Oya Tola, realizou um ritual religioso com música e mensagens de paz, união e esperança para as ativistas presentes.
Em seguida, fundadoras da Red – mulheres que estiveram no primeiro encontro, realizado na República Dominicana em 1992 – contaram sobre a experiência de construir a luta durante esses 30 anos. Elas falaram sobre o papel do primeiro encontro e da criação da Red para colocar as pautas das mulheres negras nas principais agendas políticas da região das Américas e do mundo inteiro.
“Somos nós que até hoje estamos em todos os espaços nos levantando e perguntando onde estão as mulheres negras”, enfatizou Sergia Galvan, ativista da República Dominicana.
Algumas ativistas que ingressaram depois de 1992 destacaram a importância da Red na formação política das mulheres negras: “Esta rede é luz, é história, é memória. Esta rede foi a minha melhor escola”, afirmou Yvette Modestin, coordenadora regional da Red nos Estados Unidos.
Valdecir Nascimento, coordenadora regional da Red no Brasil, falou sobre a importância de manter uma relação de generosidade e lealdade entre as ativistas, mas salientou também que é preciso agir com radicalidade em relação ao Estado e suas políticas de morte que afetam sobretudo as mulheres negras:
“Não dá mais pra gente negociar com os governos, porque eles nos oferecem muito pouco e nós queremos muito mais. Nós não queremos esse modelo de sociedade. Precisamos inventar uma nova forma de existir e um novo lugar onde possamos viver com dignidade”, disse.
Também participaram do encontro representantes de fundos que financiam ações de incidência política das organizações de mulheres negras da região. Foi falado sobre as dificuldades que essas organizações encontram para acessar determinados recursos, sobretudo as que são menores e têm menos tempo de atuação/experiência.
Outro ponto elencado foi a necessidade de institucionalização da agenda de luta interseccional junto à Organização das Nações Unidas (ONU). Maria Noel, representante da ONU Mulheres, aproveitou o momento para se comprometer em empenhar esforços para trabalhar mais próxima e em parceria com as mulheres negras.
A representação política das mulheres negras também foi um tema debatido durante o encontro. Ativistas e parlamentares convidadas a discutir o assunto pontuaram o racismo e machismo como marcadores que impedem o acesso e a atuação de mulheres negras nos espaços de poder institucional e provocam a prática de violências políticas. Nesse contexto, também foram discutidas estratégias para que as mulheres negras consigam disputar os espaços de poder a partir de um lugar de igualdade de condições.
“Ninguém quer ser a próxima Marielle Franco [ativista e vereadora negra do Rio de Janeiro, assassinada a tiros em 2018], mas também não iremos nos silenciar em função do racismo, da lgbtfobia e do patriarcado”, afirmou Robeyonce Lima, deputada federal suplente pelo estado de Pernambuco.
O encontro também tratou de questões como direitos sexuais e reprodutivos, saúde da população negra e indígena, combate às violências contra mulheres negras e indígenas da região, ameaças contra ativistas, encarceramento em massa da população negra, racismo ambiental e justiça climática. Ativistas de mais de 20 países trouxeram as suas perspectivas e compartilharam estratégias de enfrentamento possíveis para lidar com todas essas problemáticas.
Ao final do encontro, as ativistas elaboraram e apresentaram uma declaração com pontos importantes que sintetizam tudo o que foi discutido durante os três dias e exigências acerca do comprometimento das instituições do Estado para com a garantia dos Direitos Humanos. Para ler e fazer download do documento completo, clique em um dos links abaixo:
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