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Saúde da mulher negra sobe ao palco em produção da periferia paulistana

 

Baseado em histórias reais, espetáculo Sangoma, da Cia. Capulanas, aborda saúde cultural, física e psíquica da mulher afrodescendente

A Capulanas Cia. de Arte Negra apresenta até dia 9 de novembro sua terceira peça teatral, Sangoma, que traz à tona um universo místico permeado de histórias de amor, dor, superação e possibilidades de cura. A companhia é formada por jovens artistas negras que têm o propósito de dialogar com a sociedade sobre as descobertas, os anseios e as percepções de mulheres negras e periféricas.

 

As artistas e ativistas do grupo teatral que trabalha para desconstruir a negatividade imposta pela cultura de colonização

As artistas e ativistas do grupo teatral que trabalha para desconstruir a negatividade imposta pela cultura de colonização

Ambientada em uma casa onde os espectadores percorrem cada cômodo sentindo de perto a força do depoimento das personagens, a peça sugere que a construção negativa da identidade atinge o corpo físico.

Sangoma, na verdade, são as mulheres escolhidas espiritualmente por seus ancestrais para dar continuidade aos trabalhos de cura espiritual e física dentro das comunidades zulus, na África do Sul. “Já no Brasil, sã é toda a pessoa que goza de boa saúde, e goma é uma gíria para nomear casa, utilizada nas periferias de São Paulo. Neste sentido, sangoma simboliza ‘casa sã’”, sintetiza o coletivo.

Em maio de 2011, depois de participar de uma palestra sobre o tema, o grupo se deparou com um estudo sobre o atendimento médico de mulheres negras nas unidades de saúde da periferia. “Chegamos a um dado – não computado pelas estatísticas, mas reincidente em vários depoimentos de pacientes e profissionais de saúde – de que as mulheres negras são mais tolerantes a dor e, por isso, recebem um atendimento diferenciado quanto às suas necessidades imediatas de tratamento médico em hospitais e centros de saúde”. A partir disso, eles começaram a pesquisar a relação da mulher negra com a dor e como isso refletia na vida delas. “Daí discutimos as formas de cura, como por exemplo, o tratamento com as ervas, uma forma de medicina ancestral”.

As histórias interpretadas pelas atrizes em Sangoma foram compiladas a partir de atividades de formação que o grupo promoveu no ano passado. As oficinas abordavam temas ligados à saúde cultural, física e psíquica de mulheres negras.

O texto, feito em parceria com a escritora Cidinha da Silva, dá voz ao que antes era silêncio. “São vozes muitas vezes caladas, que despertaram do silêncio para brotar vida e relatar as enfermidades causadas em suas relações com o mundo, com o outro e os caminhos que percorreram para chegar à cura”, diz a sinopse da obra.

O intuito do grupo era fazer um espetáculo que fizesse com que o público refletisse por si mesmo. “Não queremos mostrar que a opressão existe, através da opressão de outros gêneros. Captar estes elementos com simplicidade, responsabilidade e respeito e transformá-los em arte exigiu uma imersão tão profunda, um questionamento de nós mesmas enquanto mulheres que também passaram por isso e que hoje se propõem a compartilhar algo que acreditam, pensando e criando dentro de um cenário onde o preconceito fique claro aos olhos de todos,” afirmam as atrizes.

Apresentar a obra em áreas periféricas faz parte da proposta do grupo. “Realizamos Sangoma num espaço não convencional, dentro da periferia e para todos os públicos, para desconstruir a ideia de que o teatro é para uma determinada fatia da sociedade ou simplesmente um evento social para poucos. E também para mostrar que a mulher negra, aparentemente mais forte e preparada para aguentar qualquer tipo de adversidade, sofre com e em silencio geração após geração. Sangoma é o resultado de uma busca que nós, Capulanas, desejamos e necessitamos compartilhar.”

Fonte: Rede Brasil Atual

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