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Equipe Odara e parceiras se reúnem para pensar o atendimento psicossocial das vítimas do Estado

A atividade fez parte do projeto Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar

Dialogar sobre uma metodologia de atendimento psicossocial para mulheres vítimas da violência do Estado foi o foco do encontro com psicólogas (os) e assistentes sociais, realizado pelo Odara – Instituto da Mulher Negra, na última quarta-feira (22), em Salvador. O evento contou com a presença da psicóloga e psicanalista do Instituto AMMA Psique e Negritude, Maria Lucia da Silva, da psicóloga social e coordenadora executiva do Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades (CEERT), Cida Bento, e de cerca de 20 profissionais baianos das áreas.

Construir uma metodologia que responda a emergência e qualificação no serviço de atendimento a mães e familiares que perderam seus filhos vitimas da violência policial é um dos desafios do projeto Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar, desenvolvido pelo Instituto Odara.  O projeto atua há dois anos em comunidades da periferia de Salvador: Cabula, Nordeste de Amaralina, Uruguai e Subúrbio Ferroviário, e tem como principal objetivo promover o constrangimento do Estado brasileiro em relação ao fenômeno do extermínio da juventude negra, a sensibilização da sociedade para cobrar mudanças sistemáticas, pensar e propor políticas de segurança e políticas de drogas e promover ações de cuidado e atendimento as mães.

“A assistência psicológica pode ajudar no acolhimento das mulheres e dos familiares em situação de violência. Pode ajudar a reconhecer a importância da resistência. Ajudar as pessoas entenderem que o racismo agrava toda a situação de vulnerabilidade, que nós, que somos usuários de diferentes políticas públicas, mas somos negros e negras, vamos enfrentar todas as dificuldades colocadas. O racismo exige mais do psicólogo, não apenas no sentido de fazer um acolhimento, mas que venha contribuir para que essas pessoas venham de volta pra vida”, enfatizou Cida Bento (CEERT).

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Na ocasião, as profissionais refletiram sobre uma metodologia que esteja apropriada a um acolhimento de mulheres e familiares em situação de luto, a partir de um  perfil racial, social, econômico e psicológico. O grupo também propôs a formalização de diálogos estratégicos com instituições púbicas e privadas, a exemplo, dos Conselhos Estadual e Regional de Psicologia, com Universidades, centros comunitários e clínicas para garantir um ciclo de atendimento eficaz e que leve em consideração o impacto do racismo, das condições sociais e de vulnerabilidades que estão inseridas essas tantas mães, tias, irmãs e avôs de jovens negros assassinados.

“Uma coisa importante para pensarmos é que somos cotidianamente golpeados e golpeadas pelo racismo. Mas o dramático desses golpes que estamos recebendo ao longo das nossas vidas é o genocídio da população negra, particularmente o da juventude negra.  Esse genocídio coloca principalmente as mulheres, que são as donas de casa, em situação de adoecimento, depressão, a crises intensas e a perda da sua qualidade de vida, e na maioria das vezes, é preciso um atendimento no campo da saúde mental porque a saúde mental é algo que nos estrutura. Portanto, estrutura um serviço dessa natureza é vital para a vida das mulheres e das nossas famílias”, Maria Lucia da Silva (AMMA Psique). Ela destaca a importância de construir espaços que reúna estas mulheres para elas conversarem e saber que não estão sozinhas na sua dor. “Para que elas também possam construir a partir das experiências coletivas, estratégias de superação”.

Para as profissionais é necessário pensar na recepção das vítimas a partir de um atendimento forjado pela parceria entre profissional de assistente social e de psicóloga com centralidade na escuta e que fortaleça a resiliência e incentivo à sociabilidade. Para a assistente social Joice Santiago “é de suma importância do trabalho do serviço social e da psicologia para tentar amenizar o déficit deixado pelo Estado. Cabe a mim enquanto profissional da assistência social mapear instituições e locais que façam atendimento para esse público e como podem ser encaminhado. Esse é o nosso papel. Lutar pela justiça, pelo fortalecimento pessoal para que outras mulheres e familiares não passem por isso”.

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Segundo dados do Mapa da Violência 2016, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), entre 1980 e 2014, os homicídios cresceram 592,8% no Brasil. Já os dados do Relatório Final da CPI do Senado sobre o Assassinato de Jovens (2016), revelam que um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos no país, o que representa 63 mortos por dia e 23.100 por ano. Os dados também mostram que a Região Nordeste é uma das mais impactadas pela violência contra jovens.

“A violência do Estado no Brasil é grande, e no Nordeste é imensa. Para as mulheres negras temos um cenário de morte, de violência, de abandono. Se olharmos para as crianças é a mesma coisa, falta de creche e escola adequada. Agora, falando da juventude negra esse é um ponto crucial. Temos uma política de Estado, da classe média alta dominante de absoluta destruição. Então, quando um jovem negro consegue sobreviver a violência racial, do trafico de drogas e do abandono da escola ele é um jovem sem estrutura para sobreviver, ele vai para rua, não tem emprego digno”, Maria Conceição Costa, Ceiça do Pernambuco.

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