Rede de Mulheres Negras do Nordeste faz encontro com o Movimento de Mulheres Negras do Rio Grande do Norte
A ação foi organizada pelo Coletivo As Carolinas, Kilombo – Organização Negra do RN e Ajagum Obínrin – Organização de Mulheres Negras do RN, que compõem a Rede Nordeste no estado
Redação Odara
A coordenação da Rede de Mulheres Negras do Nordeste, composta pela Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba, Ayabás – Instituto da Mulher Negra do Piauí e Odara – Instituto da Mulher Negra, esteve em Natal (RN), neste sábado (15), para um encontro super especial com o Movimento de Mulheres Negras do Rio Grande do Norte.
A atividade aconteceu no Museu Café Filho e foi aberta com a apresentação do Coco Sinhá, com dança e música de mulheres negras potiguares. Na sequência, fizemos uma rodada de apresentação que demonstrou a diversidade e a potência do Movimento de Mulheres Negras do RN, com a presença de mulheres negras urbanas, periféricas e quilombolas, crianças, jovens, adultas e idosas, lésbicas, bissexuais, heterossexuais, jornalistas, advogadas, bancárias, trabalhadoras domésticas, professoras.
A abertura do encontro ficou sob a mediação de Elizabeth Lima, da Ajagum, e Jenair Alves, das Carolinas, que fizeram a apresentação da proposta do encontro, da Rede Nordeste, e dos movimentos no estado.
Valdecir Nascimento, do Instituto Odara, Halda Regina, do Instituto Ayabás, e Terlúcia Silva, da Coletiva Abayomi, falaram da história da Rede de Mulheres Negras do Nordeste, que faz 10 anos em 2023; falaram também sobre o processo de retomada da articulação presencial da Rede; e das informações básicas para filiação de novas organizações.
O Rio Grande do Norte demonstrou muita força em relação à potência cultural e política e cultural. Amanda Pereira, dAs Carolinas, falou de como a participação dela em seu coletivo, e na Rede Nordeste fortaleceu sua auto estima e relação com ancestralidade. “As Carolinas surgiu fruto da Marcha das Mulheres Negras de 2015, e logo depois eu entrei. Nessa época eu tinha acabado de perdeu a mãe, e esse encontro me fortaleceu demais, e foi meu reencontro com minha ancestralidade, minha iniciação pra Yansã; meu reencontro com minha maternidade”.
Maria Luísa, do Coletivo Negras de Periferia, contou que o coletivo nasceu como perspectiva de ser um espaço acolhedor para as mulheres. Ela também destacou os desafios para manter um coletivo de mulheres negras periféricas em atividade, e atentas à cultura do cuidado e acolhimento coletivo. Maria Luísa e outras companheiras de seu coletivo trouxeram a alegria e as expectativas em relação a Rede Nordeste. “Eu espero de fato que com essa Rede a gente consiga fortalecer o acolhimento, e as demandas de articulação, fortalecimento, formação… Temos muitas carências em relação a comunicação, e sabemos que entre nós podemos nos fortalecer”.
A questão do governo do Rio Grande do Norte também veio à tona, com denúncias de casos de racismo institucional, aumento do encarceramento e violências na gestão de Fátima Bezerra (PT-RN), única mulher governadora no Brasil. “Temos debates muito profundos pra fazer, inclusive de apropriação de nossas pautas por uma esquerda que não nos representa”, afirmou Luciara Freiras, da Ajagum.
Maria das Dores, quilombola de Capoeiras, e da Ajagum, agricultora, comenta que sempre ouviu falar da Rede mas não se sentia parte. “A partir de hoje eu posso dizer que conheço e faço parte da Rede”. Dona Maria fez um conjunto de falas inspiradoras por autonomia e liberdade das mulheres negras, contando sobre as experiências das mulheres de seu coletivo. “Eu vivia cansada da monotonia da vida das mulheres no meu quilombo. Eu ficava pensando, a vida não pode ser nascer, crescer, casar, parir e ser dona de casa. Aí primeiro eu criei um grupo de artesanato, com intenção de conversar com as mulheres para acolher e falar que a vida não pode ser só casamento e filhos. Hoje, muitas delas estão trabalhando graças ao nosso coletivo”. Dona Maria e as outras mulheres de Capoeiras também contaram sobre a experiência de acolhimento de um casal de Lésbicas na comunidade, história que se cruza com a organização delas para fazerem exercícios físicos juntas, facilitados por sua prima Janet, estudante de educação física, e casada com Camila. “Hoje Janet e Camila são respeitadas e amadas. Janet dá aula atualmente para 72 mulheres e 2 homens, trabalhando funcional e educação física”.
Dalvaci Neves, da Kilombo, destacou entre as pautas importantes para as mulheres negras atualmente, o desafio do acesso a crédito para as mulheres. “Como bancária, sei da importância e potência de dar às mulheres negras acesso a crédito para investirem em seus sonhos”.
Maria Nazaré, quilombola, destaca a importância dos quilombos ajudarem a eleger candidaturas quilombolas e de mulheres negras. Naiara Leite, do Odara, explicou como funciona o processo de filiação à Rede Nordeste e mais uma vez convocou as mulheres a conhecer e participar da Rede para pensar ações articuladas na região.
A série de encontros estaduais é uma estratégia para fortalecer o movimento de mulheres negras, aprofundar as leituras de contexto na região no pós pandemia, promover espaços de escuta e de denúncia e tem marcado a retomada das atividades públicas presenciais. Os contextos apresentados nos estados irão orientar a incidência política da Rede no próximo ano. Os encontros fazem parte de um projeto do Instituto Odara, com apoio da ONU Mulheres e da Heinrich Böll.
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