Meninas de projetos do Instituto Odara e Plan Brasil reúnem-se para refletir sobre Bem Viver e participam da Marcha das Mulheres Negras em Salvador

Encontro serviu também como espaço preparatório de mobilização das adolescentes negras para a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que acontecerá em novembro, em Brasília
Por Adriane Rocha | Redação Odara
Na última sexta-feira, 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela, meninas dos projetos Ayomide Odara e da Escola de Ativismo e Formação Política para Mulheres Negras – Beatriz Nascimento (EBN), do Instituto Odara, e do projeto de formação de jovens lideranças da Plan International Brasil- Projeto Escola de Lideranças para Meninas, viveram, em Salvador, uma experiência política que uniu formação, criação e mobilização social.
O encontro começou pela manhã com uma roda de conversa conduzida pelas próprias meninas, para responder a pergunta: “O que é Bem Viver para nós, meninas negras?” Elas compartilharam histórias pessoais, dores, conquistas familiares e sonhos. A atividade foi marcada pela emoção coletiva e pela certeza de que o futuro já está sendo tecido por elas.
“Eu acho que o Bem Viver é você passar em um lugar e saber que está deixando uma história, uma representação de outras meninas negras. É poder lutar pelos seus direitos e ser o que você é”, afirmou Geovana Ramos, 15 anos, da Escola Beatriz Nascimento.
“Sonhar, para mim, é me libertar. É você querer fazer algo, batalhar por isso e correr atrás, mesmo quando tudo parece contra. Quando eu sonho, eu não sonho só por mim. Sonho também pelas meninas que vão vir depois de mim”, afirmou Júlia Aponto,10 anos, do projeto Ayomide Odara.
A fala de Júlia ecoou em outras meninas da roda, como a de Raiane Ribeiro, 19 anos, participante da Plan Brasil que compartilhou sua trajetória com emoção: “Nunca me foi apresentado que eu poderia. Hoje, estar aqui e poder falar, ser ouvida, me ensina que minha voz importa. Isso é muito mais do que um encontro. Isso muda a gente por dentro.”
Na sequência, as participantes mergulharam em uma oficina de escrita criativa, onde transformaram suas vivências em textos, cartas e poemas. A palavra escrita virou ferramenta de autoafirmação, política e espaço de elaboração. Em um país que insiste em silenciar meninas negras, o ato de escrever foi, também, um gesto de libertação coletiva.
Para Lorena Cerqueira, coordenadora da EBN, o processo formativo é tão importante quanto o ato político de estar nas ruas: “Quando meninas e adolescentes negras se encontram para falar sobre as suas percepções do que é Bem Viver é revolucionário. Os projetos constroem formações para que elas se compreendam enquanto agentes também de criação e atuação política, pois se observam, partilham dores, estratégias de enfrentamento às diversas violências que ainda as alcançam, mas sobretudo, influenciam umas às outras quanto às possibilidades do sonhar, do fabular coletivamente futuros que as compreendem e respeitem enquanto protagonistas de suas próprias histórias!”
MENINAS NEGRAS EM MARCHA
No período da tarde, as meninas saíram em caminhada até a Praça da Piedade, no centro de Salvador, para participarem da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver. Em meio a tambores, palavras de ordem e emoção coletiva, as meninas carregaram cartazes com frases que elas mesmas escreveram, reivindicando o direito de viver com dignidade, segurança e liberdade.
Para a educadora social Ivini Portugal, da Plan Brasil, participar da Marcha das Mulheres Negras com as meninas a encheu de orgulho: “Elas ocuparam os espaços com consciência, coragem e força, elas lideraram a marcha com firmeza e brilho no olhar. Foi um espaço de aquilombamento, de fortalecimento e conexão entre meninas e mulheres negras. Saí dali com a certeza de que, graças a nossa luta coletiva por existência, ancestralidade e liberdade, o presente e o futuro mais justos vão deixando de ser utopia para se tornarem realidade, uma realidade forjada por mãos negras, com luta, afeto e revolução.”
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