O encontro foi o primeiro passo para a construção da agenda de juventudes negras da 11ª edição do Julho das Pretas

Redação Odara

No último sábado (13), o Núcleo de Juventude do Odara – Instituto da Mulher Negra realizou a sua primeira plenária com jovens negras e negros de Salvador (BA) e Região Metropolitana. Durante o encontro, que aconteceu na Biblioteca Central da Bahia, discutiu-se o direito à vida das juventudes negras a partir dos temas da justiça sexual e reprodutiva, incidência política e combate ao genocídio negro.

Para facilitar a discussão, Tamiz Oliveira, coordenadora do projeto do Odara sobre Justiça Reprodutiva no Nordeste, e Magno de Jesus, mobilizador de Juventudes do Odara no projeto Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não chegar, apresentaram os projetos nos quais atuam, as potencialidades e desafios de se fazer incidência política nesses campos e a importância de ter a juventude negra envolvida nesses processos.

“Nós [jovens] precisamos pensar a realidade das mulheres e das meninas negras com suas particularidades e construir respostas para os enfrentamentos que temos no campo da justiça e dos direitos sexuais e reprodutivos”, explicou Tamiz, enquanto falava sobre dignidade menstrual, gestação, parto e outros temas relacionados à pauta.

Magno falou sobre como o direito de ir e vir da juventude negra nas favelas é ameaçado pelo próprio Estado que, em tese, deveria garantir esse direito. “Eu espero que essa construção que estamos fazendo aqui tenha vida longa e que a gente consiga combater todas essas violências e opressões”, disse.

Em suas falas, as jovens negras e negros de diversos territórios de Salvador e entorno, contaram sobre as violações dos direitos humanos que sofrem e presenciam em suas comunidaddes, sobre acesso às políticas públicas de educação e saúde e sobre as estratégias de incidência política que vêm desenvolvendo.

Sara Sacramento, que faz parte da Juventude do Movimento Negro Unificado (MNU), afirmou que a plenária foi um momento de escuta muito importantante para entender quais são os desejos e necessidades das juventudes negras e como se organizar a partir dessas demandas, visto que a maioria das políticas públicas são construídas sem a participação efetiva de jovens. “Nossa juventude preta precisa garantir o direito à vida, o direito de sonhar. Estamos aqui resistindo e fazendo política para mudar essa história”, enfatizou Sara.

A plenária foi realizada no dia 13 de maio, data que marca a abolição da escravatura no Brasil. Suane Miranda, menina negra de 15 anos, participante do projeto Ayomide Odara, criticou o apagamento histórico das lutas dos povos negros no Brasil, sobretudo no contexto da abolição e comentou sobre como muitas opressões permanecessem acontecendo de forma sistêmica desde a época da escravidão até o presente. “Não é porque um pedaço de papel foi assinado por livre e espontânea pressão que alguma mudança foi garantida. A gente não parou de viver as opressões”, disse Suane.

Ela afirmou ainda que até os dias de hoje muitas meninas negras não conhecem os seus direitos e que um espaço de articulação de juventudes negras é importante para tentar reverter esse quadro.

Para Amanda Oliveira e Beatriz Sousa, articuladoras do Núcleo de Juventudes Odara, a avaliação deste primeiro passo para a construção da rede colaborativa de jovens negras e negros é muito positiva. “Foi um debate bem amplo e interessante. Todo mundo se colocou, falou o que precisava e trouxe suas perspectivas para a discussão”, afirmou Beatriz.

Os encontros, plenárias e formações vão continuar acontecendo durante os próximos meses e a expectativa é lançar uma agenda de juventudes durante a 11ª edição do Julho das Pretas. “Vamos coletar todas essas trocas de experiência que tivemos na plenária e ir para os territórios ao encontro de outros jovens para ouvir o que eles pensam e construir a nossa grande agenda”, explicou Amanda.