Odara e lideranças quilombolas da Chapada Diamantina articulam ações voltadas ao acesso à saúde para 2024
Redação Odara
Entre os dias 8 e 11 de dezembro, ativistas do Odara – Instituto da Mulher Negra retornaram ao território da Chapada Diamantina, mais especificamente à Comunidade Quilombola do Agreste, em Seabra (BA). O objetivo da visita foi fortalecer o diálogo com mulheres líderes comunitárias quilombolas e planejar as ações do próximo ano para o Projeto Quilomba: Pela Vida das Mulheres Negras, em parceria com o Nós por Nós – Projeto de Justiça Reprodutiva do Nordeste, ambos projetos do Odara – Instituto da Mulher Negra. As ativistas do Odara já haviam visitado o território em setembro deste ano.
O encontro teve como cenário a antiga igreja da Nossa Senhora do Desterro, proporcionando um ambiente de intensas reflexões sobre os desafios enfrentados pelas mulheres nas comunidades negras rurais e quilombolas, com ênfase na falta de acesso à saúde. As discussões foram pautadas na identificação e enfrentamento das diversas formas de violência contra as mulheres nesses contextos.
A coordenadora do Nós por Nós – Projeto de Justiça Reprodutiva do Nordeste, Verônica Santos, na oportunidade, destacou a importância da identificação das violências e da criação de uma rede de proteção coletiva para as mulheres. “Nas situações em que as injustiças se desenharem, em que as violações de direitos se desenharem, se essas mulheres tiverem consciência coletiva sobre o que está acontecendo e também implementarem uma rede de proteção em relação a essas violências, o enfrentamento será mais eficaz e estratégico, afirmou Verônica.
Durante as rodas de conversa, as participantes discutiram desafios específicos, como questões relacionadas à obstetrícia e a importância de informações sobre saúde reprodutiva. Identificou-se a necessidade de criar grupos de apoio para fortalecer o diálogo sobre temas sensíveis, como o resguardo pós-parto, garantindo que informações sejam compartilhadas na comunidade. As ações planejadas foram organizadas utilizando a “metodologia da árvore”, destacando elementos fundamentais para a articulação e fortalecimento comunitário. Cada parte da planta representava um aspecto, sendo que as raízes representavam o que dá base para que as ações sejam planejadas, e o tronco elementos que sustentam a articulação coletiva.
Valdice Rosa da Silva, recepcionista do posto de saúde do quilombo Agreste, participou da roda de conversa e ressaltou a importância de abordar as questões da saúde reprodutiva e do resguardo pós-parto. “Algumas mulheres são orientadas no posto de saúde sobre a impossibilidade de manter relações durante o período de resguardo, mas, infelizmente, são confrontadas pelos maridos. Essa situação evidencia a necessidade de estabelecer grupos de apoio, onde o conhecimento sobre resguardo seja compartilhado não apenas com as mulheres, mas também com os homens”.
Elza dos Santos, liderança quilombola da Vazante, ressaltou a importância de levar essas discussões para comunidades que ainda reproduzem padrões machistas e tradições que perpetuam a violência contra a mulher. Para ela, o esclarecimento e a conscientização são fundamentais para que as mulheres percebam as violências que sofrem e busquem novos caminhos.
“O machismo é muito grande, coisas que a família acha que é normal, pelo fato de vir de uma tradição. O meu pai era assim, com minha avó era assim, com minha tia era assim, então comigo vai ser assim, não vai mudar… Muitas mulheres passam a perceber que estão passando por violência e precisam ser tratadas de uma outra forma. Então, a gente vai levar a informação, mostrar que elas estão sendo violentadas e que ela precisa se cuidar, precisa ter atitude, precisa buscar novos caminhos, novos horizontes”, declarou Elza.
As valiosas contribuições no encontro durante a Jornada Odara na Chapada Diamantina, destacaram a necessidade de ações concretas para fortalecer a justiça reprodutiva no território da Chapada Diamantina. Recomendações, como a formação de novas lideranças, diálogos inclusivos por meio de rodas de conversa, e o estímulo à independência financeira das mulheres, emergiram.
O Projeto Nós por Nós faz parte do Programa de Saúde das Mulheres Negras do Odara, e desempenha um papel vital, buscando incidir por meio de pesquisas, estudos, formação política e empoderamento comunitário, contribuindo para a promoção da justiça reprodutiva na região do Nordeste.
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