#OpiniãoOdara – Mais um George Floyd no Brasil: Sem chance de defesa, homem negro é morto asfixiado por forças de segurança na Bahia
Edmar Santos Costa, de 38 anos, estava a caminho do trabalho quando foi abordado por seguranças da CCR Metrô Bahia e sofreu parada cardiorrespiratória
Redação Odara
Sábado, 6 de janeiro de 2024, por volta das 6h da manhã, o porteiro Edmar Santos Costa, de 38 anos, passava pelo terminal de ônibus Acesso Norte, em Salvador (BA), a caminho do seu local de trabalho. Após se envolver em uma briga e ser agredido por outras pessoas que estavam no local, Edmar foi imobilizado por seguranças da concessionária CCR Metrô Bahia. Durante a abordagem, os seguranças jogaram o porteiro no chão da estação, o algemaram e, por mais de um minuto, um deles ficou de joelhos em cima das suas costas, até perceber que Edmar não estava mais se mexendo.
Cerca de dez minutos depois, as câmeras registraram os seguranças o levando numa maca. Durante todo esse tempo, nenhuma tentativa de reanimação foi realizada. Edmar morreu vítima da violência dos seguranças, asfixiado, como o emblemático caso de George Floyd, nos Estados Unidos.
História familiar, não é?! Não é a primeira vez que presenciamos um homem negro sendo sufocado até a morte em plena luz do dia, diante dos olhos de quem quiser ver. Não é a primeira vez que nos espantamos diante de tamanha brutalidade cometida contra um dos nossos, sem o menor pudor. A truculência e a barbárie parecem ser permitidas e naturalizadas quando se trata de corpos negros.
Após o caso George Floyd, homem negro asfixiado e morto por dois policiais em Minneapolis, Minnesota, nos EUA em 2020, esse modus operandi parece ter sido importado para o Brasil. Ainda em 2020, João Alberto Freitas, homem negro de 40 anos, também foi espancado e asfixiado por dois seguranças do hipermercado Carrefour, na Zona Norte de Porto Alegre (RS)
Embora as nossas discussões estejam muito voltadas para o debate sobre a violência e letalidade praticadas pelas forças de segurança pública contra a população negra, é preciso observas que as forças de segurança privada agem de acordo com as mesmas práticas enraizadas pelo racismo institucional, que coloca os corpos negros como o alvo, o grande perigo contra o qual é preciso se defender e eliminar a qualquer custo.
O caso de Edmar só veio a público no último dia 19 de janeiro (13 dias depois) quando as imagens das câmeras de segurança do terminal foram divulgadas. A CCR Metrô Bahia afirma que Edmar foi levado na maca para uma sala, onde houve tentativa de reanimação e que seu óbito só foi confirmado na unidade de saúde onde foi atendido. Já a Secretaria Municipal de Saúde declarou que o porteiro morreu ainda na estação.
O fato é que Edmar saiu de casa para mais um dia de trabalho e não retornou. Foi morto de forma covarde e, mesmo portando seus documentos, por pouco não foi enterrado como indigente, já que a CCR e a Secretaria de Saúde de Salvador sequer tiveram a decência de informar à família. O corpo de Edmar só foi encontrado a tempo de ter um sepultamento digno porque o seu patrão deu por falta da sua força de trabalho e ligou para a família perguntando o porquê da falta do funcionário.
Mais um de nós se vai, mais uma vez nos revoltamos, protestamos, denunciamos nas redes sociais, chamamos a atenção do governo, mas nada parece ser o suficiente. Sabemos que daqui a uma semana, duas, ou alguns meses, vamos viver tudo de novo. O que é preciso fazer para que uma empresa que recebe dinheiro do Estado entenda que não é normal cometer uma violência letal contra um cidadão negro que paga impostos como qualquer outro e diariamente utiliza os seus serviços?
Como faremos com que nos respeitem? Com que tenham receio da responsabilização por nossas mortes? Como vamos perturbar o sono deles? São perguntas para as quais só encontraremos respostas a partir da reflexão coletiva. Mas até lá, que não percamos a capacidade de nos indignar e nos levantar contra a matança em curso no estado da Bahia. E que, acima de tudo, tenhamos em mente que essa conta que vem se acumulando por tantos séculos, precisa ser paga.
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