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OpiniãoOdara – SEM CHANCE DE DEFESA: Polícia Militar é acusada de atirar e matar jovem quilombola pelas costas em Juazeiro (BA)

Indefesas, inseguras, carregando um alvo nas costas. É assim que nós, população negra, nos sentimos em nossas comunidades ou em qualquer espaço pelo qual circulamos. O Estado, que em teoria, deveria garantir o nosso direito à vida, parece estar mais empenhado em garantir justamente o contrário.

Dez dias após o brutal assassinato da líder quilombola e yalorixá Bernadete Pacífico, mais uma vida quilombola foi ceifada de forma cruel, dessa vez pelas mãos da Polícia Militar da Bahia (PM – BA), a polícia que mais mata no Brasil e que há mais de dois séculos causa terror aos pretos e pretas desta terra.

O jovem José William Santos Barros, de 26 anos, foi alvejado por dois tiros nas costas, disparados pela PM no último domingo (27). O crime aconteceu na Comunidade Quilombola do Alagadiço, em Juazeiro (BA) – a primeira comunidade a ser certificada no município. 

Segundo moradores, José estava de pé, em uma motocicleta, conversando com outras pessoas em uma estrada, quando foi alvejado. Não houve diálogo, voz de prisão ou qualquer possibilidade de defesa por parte do jovem. Apenas dois tiros que, em questão de segundos, acabaram com uma vida, deixaram órfão uma criança de três anos e desestabilizaram toda uma família e uma comunidade.

Ainda segundo relatos dos moradores, os agentes da polícia sumiram com o corpo do rapaz, sem dar qualquer satisfação e só o entregaram no Hospital Regional da Cidade cerca de 1 hora depois do ocorrido. 

Embora até o momento a polícia não tenha se manifestado sobre a morte de José, não é difícil pensar em qual justificativa será usada. Todos os dias os nossos jovens negros são criminzalizados, pintados como bandidos perigosos, o grande mal da sociedade. Todos os dias a polícia entra nas nossas comunidades, atira, mata, forja drogas e armas, deixa manchas no corpo, no chão e na memória da nossa juventude. Não nos dão sequer chance de viver o luto, já que a luta para exigir justiça é mais urgente.

As mulheres negras mães estão cansadas. Elas dormem enquanto seus filhos não chegam. Mas e quando eles não chegam?

Quando pensamos na ideia de “público”, entendemos como algo que pertence e beneficia a todos. Mas se na Bahia, nós, negras e negros, representamos 81,1% da população (IBGE – 2018) e a cada 100 pessoas mortas, 98 são negras (Rede de Observatórios de Segurança – 2022), a quem serve essa Segurança Pública tão elogiada e defendida pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT)? Uma polícia que é tão bem treinada, tão bem equipada e mata tantas pessoas negras cotidianamente, deixa explícito quem são os seus alvos.

Já não cabe falar em erro ou em despreparo. O que cabe é um levante pela vida. Se ser negro é um crime tão grave a ponto de ser passível de pena de morte, nenhum de nós está seguro. A juventude negra está sendo exterminada diante dos nossos olhos e, junto com ela, são exterminados os nossos sonhos, planos e projetos de vida enquanto comunidade. É uma guerra declarada. Uma guerra unilateral, na qual não temos condição de lutar com as mesmas armas do inimigo. Do lado de cá da trincheira, as nossas únicas armas possíveis são a coletividade, a organização e o fortalecimento das nossas estratégias políticas. 

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