Organizações de mulheres quilombolas e Familiares da jovem Tainara Santos, desaparecida em Cachoeira (Ba), promove ato público em busca de respostas
Por Adriane Rocha | Redação Odara
No dia 09 de outubro deste ano, Tainara dos Santos, de 27 anos, desapareceu após deixar a comunidade quilombola Acutinga Motecho, na cidade de Cachoeira (BA). Ainda em busca de respostas, familiares, amigos, quilombolas e ativistas do Movimento de Mulheres Negras e Movimento Feminista realizaram uma marcha na última quarta-feira (13) nas ruas do Centro de Cachoeira, com o objetivo de questionar o andamento da investigação. A irmã da vítima, Itamara Santos, explicou que a iniciativa surgiu da necessidade de pressionar as autoridades, pois, embora o caso ainda esteja sendo investigado e a polícia esteja atuando em sigilo, é importante que ninguém se cale.
Itamara ainda ressaltou que o Ministério Público e os juízes, especialmente os de Cachoeira, não devem liberar o ex-companheiro de Tainara e principal suspeito do seu desaparecimento, já que o mesmo está entrando em contradição durante a investigação, mas não assume a culpa nem esclarece o que aconteceu com o corpo da jovem: “A família está correndo perigo, por isso, o ato foi pensado dessa forma: para que o caso de Tainara não seja esquecido e para que o Ministério Público, o governador, os juízes, e todos envolvidos tomem uma atitude e nos ajudem, estamos sentindo uma insegurança enorme, e nada é feito.”
Pan Batista, coordenadora executiva da Rede Elas Negras Conexões também esteve presente na mobilização, a ativista compartilha da dor da família da jovem, por ser uma mulher negra, e moradora da cidade de Cachoeira: “A proposta do ato foi cobrar justiça, afirmar que existe uma família buscando respostas. Já se passou um mês e isso afeta todas as comunidades, especialmente as mulheres. O ato foi uma forma de dizer que existimos, que queremos justiça e respostas. A falta de informações claras e o distanciamento da justiça têm sido muito difíceis, principalmente para uma comunidade quilombola composta por mulheres negras. A família está angustiada, e a comunidade sofre com a falta de avanços. A principal proposta foi afirmar nossa existência e nossa luta por justiça”, afirma Pam.
Laina Crisóstomo, co-vereadora de Salvador pela mandata coletiva Pretas por Salvador, e fundadora da organização feminista Tamo Juntas, participou do ato em defesa da justiça para a jovem quilombola e questionou o papel do Estado na condução da investigação, destacando a ausência de uma delegacia especializada em violência doméstica na região.
“Após o ato, fomos à delegacia, conversamos com o delegado e entramos em contato com o promotor. Parece que o caso será tratado como violência doméstica seguida de feminicídio. O desaparecimento de Tainara é o ponto mais visível, mas reflete um histórico de violência. Ela pediu socorro ao Estado várias vezes, solicitou medida protetiva, mas acabou voltando ao relacionamento por medo, após ser coagida e ameaçada.”
Para Laina, a situação evidencia uma falha estrutural: “A angústia da família é enorme, mas a questão principal é que o Estado falhou. Em Cachoeira, por exemplo, não há uma delegacia especializada no atendimento à mulher nem uma rede de apoio que permita às vítimas romper o ciclo de violência e reconstruir suas vidas. Essa negligência estrutural tem um custo altíssimo para mulheres como Tainara”, afirma.
Joyce Souza, coordenadora do Projeto Quilomba do Odara Instituto da Mulher Negra vem acompanhando o caso, e relembra outro episódio de feminicídio na cidade: “É muito triste e revoltante retornarmos a Cachoeira em pleno novembro, há cinco anos do assassinato de Elitânia de Souza, para amparar e apoiar outra família quilombola que sofre diretamente pelos impactos da violência doméstica e familiar. Marchando pelas ruas do município constatamos o sentimento comum de insegurança e o desejo de justiça ecoando pelas vozes que exigem respostas do Estado, não só sobre onde está Thainara dos Santos, mas cadê as políticas de prevenção à violência, acesso à justiça e proteção para mulheres negras.”
“O Governador da Bahia esteve em Cachoeira no mês passado, pousou na àrea da família de Thainara dias após o desaparecimento dela, mas não pronunciou uma palavra sobre essa dor que é de toda a comunidade, sobre a qual o Estado da Bahia permanece omisso, conivente e irresponsável.”
RELEMBRE O CASO:
De acordo com os familiares e amigos, Tainara saiu da sua comunidade no dia 19 de outubro por volta das 7h da manhã e, mais tarde, foi vista em uma lan house acompanhada por dois ou três homens. No mesmo dia, o irmão de Tainara também a encontrou sentada em uma praça, junto ao ex-companheiro e principal suspeito, George Anderson Santos, conhecido como Dandan, com quem teve um relacionamento de cerca de seis anos.
A jovem havia registrado queixa de violência doméstica contra ele anteriormente, e o relacionamento dos dois foi marcado por abusos, conforme relatos da família. No entanto, em setembro, Tainara teria solicitado ao Ministério Público o encerramento do caso. Para a advogada Maria das Graças, que acompanhou o processo inicialmente, essa decisão foi fruto de pressões e ameaças feitas por George, que exigia a guarda da filha do casal. “Ela chegou a procurar o Conselho Tutelar para entregar a filha, mas estava visivelmente abalada e foi até a emergência com febre devido ao processo de amamentação interrompido”, conta a advogada.
Após o desaparecimento, o ex-companheiro foi preso e permanece sob custódia, suspeito de envolvimento no caso, mas até agora não há informações concretas sobre o paradeiro de Tainara.
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