Parceiros do UNFPA debatem direitos sexuais e reprodutivos em comunidades de Salvador
Em comunidades de Salvador, parceiros do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) oferecem espaços seguros para que jovens possam conversar sobre planejamento familiar e direitos sexuais
É sábado pela manhã e o auditório do Centro Cultural Alagados, sede da REPROTAI — Rede de Protagonistas em Ação de Itapagipe — tem casa cheia. Na comunidade em Salvador, Bahia, a luta contra o zika tem o apoio de movimentos sociais que questionam as injustiças sociais na cidade.
O encontro no final de semana é uma das ações promovidas pelo parceiro do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) para debater direitos reprodutivos e sexuais com moradores de Itapagipe.
“Durante todos esses anos de racismo ambiental, cultural, machismo e violação dos direitos humanos a gente ainda consegue ter filhos criados, a gente consegue levantar e trabalhar, a gente vem aqui na comunidade do Uruguai e vê jovem fazendo arte, dançando, cantando. Com todos esses anos de violação de direitos humanos a gente consegue construir formas positivas de sobrevivência”, ressalta a psicóloga Ana Carolina Gomes.
“Tudo o que eu aprendi aqui hoje é que
devemos cuidar do nosso corpo,
temos liberdade para fazer escolhas.”
Ela é uma das responsáveis pela atividade, realizada com o apoio do Odara — Instituto da Mulher Negra, e lembra que saúde não é o equivalente à ausência de doenças, mas sim ao bem-estar físico e mental das pessoas. Determinantes sociais, redes de apoio comunitárias, estilos de vida, idade, sexo e fatores hereditários também afetam a saúde dos indivíduos, alerta a terapeuta.
Ao longo das discussões, a psicólogo perguntou ao público se “todo o mundo aqui consegue acessar a serviços de saúde públicos” e se a qualidade do atendimento é boa. A resposta geral foi negativa.
“Teve uma vez que eu fiquei contando e as pessoas não ficavam nem 40 segundos no consultório. A médica assinava com uma mão, carimbava com a outra. E aí quando foi a minha vez, eu demorei para fechar a porta para ter certeza que ela olhava para mim. E não sentei até que ela parou para olhar para mim e aí sim conversamos”, recorda Denívia Gonçalves, de 30 anos.
‘Meu pai diz que, se eu engravidar, me põe fora de casa’
Entre os que participaram do encontro, três jovens mulheres sonham em ser médicas e temem que dificuldades econômicas atrapalhem seu futuro. Outras compartilham o desejo de serem mães, ter uma casa e cuidar da saúde dos pais para que vivam mais e melhor.
“Meu pai diz que, se eu engravidar, me põe fora de casa”, conta Jennifer entre soluços. Aos 16 anos, sem acesso adequado a informação e sem liberdade para quebrar o tabu do sexo e conversar honestamente com os familiares, a jovem vive angustiada.
“Eu não tenho uma liberdade para falar com os meus pais sobre esse assunto, minha mãe não conversa sobre isso e muito menos o meu pai. O único espaço de informação é aqui na REPROTAI porque é um espaço aberto”, explica.
As preocupações de Jennifer são as mesmas que Denívia vivenciou quando era adolescente. “Acredito que não ter esse acesso livre à educação sexual no ambiente escolar foi uma violação de direitos”, comenta a moça mais velha sobre sua juventude. “Quando elas já estão gestantes, elas são responsabilizadas por aquela gestação. E se aquela gravidez tivesse sim sido planejada? É um direito dela, é o corpo dela, ela pode fazer perfeitamente o que ela quer”, enfatiza.
Ana Carolina apontou que saúde sexual e saúde reprodutiva nem sempre caminharam juntas na abordagem clínica. “Na perspectiva anterior, o corpo que reproduz é o corpo feminino e esse corpo de reprodução se reduzia a isso, nada mais. Então a gente vai tratar a educação sexual enquanto oportunidade e direito de exercer sua sexualidade”, explicou.
“Tudo o que eu aprendi aqui hoje é que devemos cuidar do nosso corpo, temos liberdade para fazer escolhas”, concluiu Jennifer.
Site: UNFPA
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