Comunidades religiosas se encontram para debater intolerância e democracia
Projeto Mulheres de Axé organiza a 3ª roda de conversa no último sábado (11).
Intolerância religiosa, laicidade do Estado, fortalecimento das crenças religiosas e dos terreiros, troca de saberes intergeracional e educação de axé foram temas debatidos na 3ª Roda de Diálogo Mulheres de Axé Contra a Intolerância Religiosa e pela Democracia, realizada pelo Odara – Instituto da Mulher Negra, no último sábado (11), no terreiro Ilê Axé Oyá Tolá, em Candeias (Ba).
Durante o encontro diversas participantes afirmaram a importância das religiões de matriz africana para o fortalecimento da luta de enfrentamento ao racismo no Brasil. “A nossa religião tem um papel fundamental para sustentar nossa luta diária pela sobrevivência. O candomblé assegura força para que nós, comunidade negra, continue lutando.”, afirmou Valdecir Nascimento, coordenadora executiva do Odara.
Para a yalorixá Raidalva Santos, do terreiro Ilê Axé Oyá Tolá a vivência e criação das pessoas de axé as reposiciona no mundo de forma diferente preservando os ensinamentos dxs mais velhxs, as tradições e o resguardo de uma identidade construída pelas trocas e vivências cotidianas dentro das comunidades de axé. “Eu sou mulher de axé. Fui criança educada pelo candomblé. Sei do meu compromisso com os ensinamentos que aprendi e também com a luta pela preservação da nossa tradição.”, disse yalorixá.
Para muitxs representantes dos terreiros o diálogo com a juventude, que estão chegando na religião, é importante para que as próximas gerações compreendam o legando deixado pelos povos africanos e toda a carga de luta necessária para enfrentar o racismo, a intolerância religiosa e a violência contra as comunidades de axé. “Quero pensar em como a gente pode manter certos costumes a partir do diálogo com as novas gerações. A luta e os enfrentamentos são muito grandes. Somos uma religião de resistência. Esse é um dos desafios que temos”, reforçou Andrea Montenegro, ekedy do terreiro Oyá Tolá.
Já para yalorixá Valdecir, da Senzala Religiosa Mukkandewa xs religiosxs do candomblé vivem uma conjuntura que exige o debate sobre representatividade política, união e posicionamento contra atos conservadores que vem dominando o país e incentivando a violência e o desrespeito as religiões afrobrasileiras. “Os evangélicos estão apertando o cerco. Tem terreiros que tem aberto espaço para evangélicos e seus projetos eleitorais. Estamos ficando oprimidos com esta situação.”.
Outro ponto discutido na roda foram as estratégias que o povo de santo precisa construir para denunciar e judicializar crimes de intolerância e casos de discriminação e de negação ao direito da liberdade religiosa nas escolas públicas. “É preciso que a gente lute para efetivação da laicidade do Estado nas escolas públicas.”, afirmou Mayara Pláscido, do terreiro Ilê Axé Iji Faromim.
Além da presença dxs representantes dxs terreiros Ilê Axé Oyá Tola, da Senzala Religiosa Mukkandewa, do Ilê Axé Iji Faromim e de Ogum a 3ª Roda de Diálogo” Mulheres de Axé” contou com a participação de ativistas do Coletivo de Mulheres do Calafate, da Rede de Mulheres Negras da Bahia, do Instituto Búzios. A próxima roda acontecerá no dia 29 de abril na região do Recôncavo Baiano, em Cachoeira.
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