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Pega Visão: Juventude Negra discute participação política e direito à cidade, educação e lazer

O evento foi articulado pelo Núcleo de Juventudes Odara em parceria com as meninas e jovens dos projetos Ayomide Odara e Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar e ainda contou com
a realização do III Caruru Ayomide

Por Brenda Gomes | Redação Odara

“Um evento feito de jovens para jovens” – deste jeito foi construído o “Pega Visão: Participação Política de Juventudes Negras e III Caruru Ayomide”, que aconteceu no último sábado (28).

O evento, articulado pelas jovens e meninas do Núcleo de Juventudes Odara, do projeto Ayomide Odara, e do projeto Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar,  do Odara – Instituto da Mulher Negra, teve como objetivo promover debates políticos e destacar a importância do voto consciente para a vida das juventudes negras e suas comunidades.

A atividade iniciou com um momento de debates sobre Segurança Pública, Direito à Cidade, Educação, Arte e Cultura a partir da vivência das diversas juventudes de Salvador. Sara Sacramento, integrante do Coletivo Pretas pelo Clima e da Juventude do Movimento Negro Unificado (MNU) na Bahia, iniciou sua participação falando dos impactos da necropolítica sobre as juventudes negras, ressaltando a ausência do Estado nas comunidades negras, o que, segundo ela, resulta na implementação de uma “política de morte e de extermínio”, citando como exemplo a chamada “guerra às drogas”, que, na prática, “não é contra coisas, é contra pessoas”.

“A morte da juventude negra é projetada a partir de um projeto político, que muitas vezes não permite que a gente consiga chegar à vida adulta. Há um foco no extermínio das nossas juventude e infâncias e isso não é por acaso”, afirmou Sara.

Viik Amazi, artista e produtora cultural, durante o evento tratou sobre a exclusão das juventudes negras na construção das cidades, e questionou: “essa cidade é de fato construída para pessoas como nós? Para jovens como nós? Para idosos como nossos mais velhos? Quando a gente fala de qualidade de vida a gente fala sobre como essa cidade tem sido concretada. Quando falamos de mobilidade existe o desafio de tudo ser distante para quem mora nas periferias, e uma tarifa de ônibus que não te incentiva a viver a cidade.”

Evento contou com mesa sobre Segurança Pública, Direito à Cidade, Educação, Arte e Cultura – Foto: Lissandra Pedreira

ACESSO À EDUCAÇÃO E CULTURA

A segunda rodada do bate-papo foi norteada por discussões voltadas aos acessos da juventude à educação e cultura. Dominique Ferreira, pedagoga e educadora do Instituto Oyá, falou sobre as dificuldades que os jovens e crianças de periferias enfrentam para acessar uma educação de qualidade, ressaltando as barreiras como a falta de infraestrutura escolar e o distanciamento entre a realidade das comunidades e o currículo formal. “A educação não pode ser pensada de forma isolada, precisa dialogar com as vivências da juventude. Apesar de tantas dificuldades e investidas do Estado, para que a gente não alcance nossos sonhos, precisamos ver na educação esse espaço de transformação.”

Laela, cantora e fundadora do Coletivo Vira-Lata e Batalha das Bruxas, complementou o debate ao abordar a importância da arte e da cultura como formas de resistência e transformação social. Ela reforça a necessidade de criar espaços culturais inclusivos para a juventude negra, enfatizando que é necessário ver a cultura como direito.

“Não dá mais para pensar cultura, acesso a arte, acesso a lazer como um direito de poucos, cultura é necessidade básica. Por isso a gente precisa votar em quem tenha um discurso alinhado com essa necessidade. E não só uma cultura clássica, mas que veja nas periferias talentos, que veja nas periferias o que realmente estamos construindo”, destacou Laela.

Ludmila Nzinga, artista e uma das idealizadoras do Slam das Mina (BA), participou do evento e falou sobre a importância da arte como um veículo essencial para a política e a transformação social. Para ela, a arte é mais do que entretenimento. “A arte é política. Se a gente não falar, ninguém vai falar. As pessoas costumam separar uma coisa da outra, mas a arte é esse espaço de provocar ações sociais. No mundo de hoje, contar a nossa história é imperativo, se não falarmos de nós, ninguém mais falará. E a gente fala de nós, do nosso lugar através da nossa música, nosso corpo e nossa poesia.”

Amanda Oliveira, liderança jovem quilombola e ativista do Núcleo de Juventudes Odara, refletiu sobre a importância da juventude estar organizada e trabalhar conjuntamente seguindo os passos dos ancestrais. “A gente fala muito de ancestralidade e aquilombamento, e isso é muito bonito mesmo. Mas quando a gente vai na raiz da coisa, a gente tem se esquecido do que é se aquilombar. Estamos esquecendo do que ancestralmente é esse ‘construir’. E nossos ancestrais combatiam o Estado como? Era junto! Então aqui a gente precisa voltar a construir assim. Separados ninguém constrói nada.”  

Candidatas e co-veradoras participaram de sabatina durante a atividade – Foto Lissandra Pedreira

BATE-PAPO COM AS CO-VEREADORAS  

O Pega Visão: Participação Política de Juventudes Negras contou também com um momento de sabatina com as co-vereadoras e candidatas à reeleição da Mandata Coletiva Pretas por Salvador (PSOL-BA), Cleide Coutinho e Laina Crisóstomo, que na oportunidade responderam perguntas das meninas e jovens presentes.

Durante o evento, Cleide destacou a pouca representatividade quando se trata das pautas defendidas pelos movimentos sociais e movimento de mulheres negras dentro da Câmara de Vereadores de Salvador. Além de destacar os projetos de lei que foram pleiteados por elas enquanto vereadores do município (2021-2024).

Cleide ainda destacou que é urgente a participação da juventude negra periférica na política para questionar sobretudo a ineficiência da segurança pública na cidade.

“A gente precisa participar da política, eu sei que às vezes parece chato. Mas, por exemplo, temos um sistema de segurança pública que não diz para que veio, que entra nas nossas comunidades, acabando com a vida da juventude negra. A gente tem um sistema que não condiz com o que precisa ser feito, precisamos estar lá para pautar, pois temos a consciência de quem morre. Essas balas perdidas têm nome, CPF e endereço”, destacou Cleide.

O evento foi encerrado com o III Caruru Ayomide e um momento cultural, que contou com apresentação de poesias, teatro, músicas, capoeira, samba de roda e uma Batalha de Naipe.

Evento foi encerrado com o III Caruru Ayomide e um momento cultural – Foto Lissandra Pedreira

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