Professora e ativista do município de Valença (BA), Dulce Rodrigues, é exonerada do cargo de gestão da creche que ela mesma fundou
Decisão foi tomada após a divulgação de um vídeo que mostra as condições precárias da unidade de ensino; Secretaria de Educação do município presumiu que Dulce e outras colegas foram responsáveis por publicizar o material
Redação Odara
Após a TV Aratu (SBT) divulgar um vídeo que mostra a Creche Maria Celeste de Moura em situação precária, no município de Valença (BA), a Secretaria de Educação do Município decretou a exoneração de Dulce Rodrigues, gestora e fundadora da unidade de ensino. Além de Dulce, duas cozinheiras que aparecem no vídeo foram demitidas e a auxiliar escolar Gessica Sena foi transferida da unidade.
Segundo nota divulgada pela pré candidatura coletiva a Deputada Estadual “Pretas pela Bahia” – da qual Dulce faz parte -, a secretária de educação de Valença presumiu que as mulheres tiveram participação na divulgação do vídeo e decidiu puni-las pela ação.
Dulce conta que no dia 28 de junho a Secretaria de Educação fez uma visita à instituição que estava funcionando normalmente e ordenou a mudança para um local que ainda estava em obras. Por conta disso, as aulas da creche não foram retomadas após o recesso junino e, cobrada pelos responsáveis das crianças, Dulce marcou uma reunião para mostrar as instalações e explicar o motivo de estar sem aulas. Alguns dos responsáveis gravam vídeos e publicaram em suas redes sociais, denunciando a situação.
Dulce conta ainda que, após a repercussão dos vídeos, onde as duas auxiliares aparecem lavando pratos na área externa da creche, a assessoria de comunicação da prefeitura de Valença chegou a visitar o local para gravar vídeos para as redes sociais e o atual prefeito do município, Jairo Baptista (PP), afirmou que a denúncia é falsa e que a creche segue funcionando normalmente.
No último dia 19, Dulce e suas três colegas de trabalho foram convocadas para uma reunião com a Secretaria de Educação de Valença, onde foram informadas sobre a decisão do órgão.
“Responsabilizaram mulheres inocentes, que lutam em defesa da educação, usaram indevidamente do poder que a população entregou, para abusar decidindo afastar boas profissionais de seus postos de trabalho”, afirma a nota divulgada nas redes sociais da pré-candidatura coletiva Pretas pela Bahia.
A exoneração da gestora, bem como a demissão e transferência das demais profissionais, expõem mais uma situação de violência política racial e de gênero, onde mulheres negras são silenciadas e punidas por defenderem determinadas pautas.
Outra questão gritante exposta nesta história é a precarização da educação pública brasileira e total desrespeito com professores, trabalhadores da educação, estudantes e responsáveis que dependem da unidade escolar. Inúmeras instituições de educação do nosso estado seguem funcionando sem as condições básicas para que estudantes, professores e demais funcionários ocupem o espaço de forma digna. Ao mesmo tempo, muitas unidades de ensino também estão sendo fechadas, por falta de direcionamento de investimentos na educação.
Dulce e suas companheiras se somam a milhares de outras que vêm empenhando esforços na luta por uma educação pública, gratuita e de qualidade. Quando a gestão municipal de Valença resolve penalizá-las por isso, está penalizando também a educação do município e mandando um recado para avisar que não estão dispostos a dialogar, muito menos promover as melhorias demandadas.
Não podemos admitir que mulheres negras sigam sendo desrespeitadas nos seus espaços de atuação. É preciso denunciar, cobrar e tensionar a violência política racial e de gênero em curso no nosso país para reparar as injustiças cometidas e impedir que outras venham a ocorrer.
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