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 Projeto Ayomide Odara certifica 77 meninas negras por iniciação ao curso de espanhol

Redação Odara | Adriane Rocha

O Ayomide Odara, projeto de formação política do Instituto Odara para meninas e adolescentes negras de Salvador, Candeias, Lauro de Freitas, Recôncavo e Chapada Diamantina, concluiu suas atividades de 2024 com uma celebração de aprendizados e fortalecimento coletivo. Os eventos de encerramento ocorreram nos últimos finais de semana de novembro, na Chapada Diamantina e em Salvador, respectivamente.

Ao longo do ano, as meninas participaram de uma série de oficinas para refletirem sobre seus direitos e seus lugares no mundo e na sociedade. O curso, iniciado em julho de 2024, teve carga horária de 45h e é um projeto de extensão em parceria com o IFBA – Seabra. Além das formações, as participantes também tiveram a oportunidade de aprender espanhol por meio de aulas semanais remotas. O objetivo do curso foi ampliar suas perspectivas culturais e educacionais, fortalecendo a comunicação e abrindo novas possibilidades para o futuro. O encerramento do curso de espanhol foi marcado pela entrega dos certificados, simbolizando o fechamento de um ciclo importante para o projeto e destacando as conquistas de 2024. No sábado (23), na cidade de Seabra, na Chapada Diamantina, as Ayomides da região receberam seus certificados, encerrando com chave de ouro mais uma etapa do Ayomide Odara.

Zenilza Grigoria Alves, de 19 anos, jovem negra quilombola e residente na comunidade do Agreste, no município de Seabra, compartilhou sua experiência no curso de espanhol: “Fazer o curso de espanhol no Ayomide foi muito valioso. Com a professora Michele, tive grandes aprendizados que serão úteis no futuro. O espanhol é falado em muitos lugares e pode nos ajudar a ajudar mais pessoas. Agradeço à família Ayomide e ao Odara pelas oportunidades e por abrir as portas para todas nós, fazendo-nos acreditar que podemos chegar onde quisermos. Agradeço também à professora Michele por tanta dedicação e paciência.”

Luísa Danielly, de 9 anos, também do Quilombo do Agreste, acrescentou: “Foi uma experiência maravilhosa fazer o curso de espanhol e aprender coisas novas. Às vezes, fico falando espanhol sem saber se estou pronunciando corretamente, mas gosto muito de falar o idioma. Até fico repetindo o poema que apresentei, ‘Negra Soy’, como uma forma de praticar e de me conectar ainda mais com o que aprendi.”

Salvadora Souza Santos, moradora da comunidade quilombola de Cutia, em Boninal, e mãe da Ayó Gabrielly Santos, de 41 anos, destacou a importância do curso de espanhol: “Veio para enriquecer a vida da minha filha. Vi como ela se desenvolveu, especialmente na participação e concentração. Percebi também o quanto isso será importante para o futuro, tanto para seus objetivos quanto para as necessidades que surgirão. Foi um curso extremamente significativo, e, na minha opinião, deveria ter uma duração maior, dada a importância que o espanhol tem hoje.”

Em Salvador, a celebração e os agradecimentos não foram diferentes. Com uma cerimônia emocionante, as meninas puderam confraternizar e comemorar o ano cheio de aprendizados no último sábado (30). Para a jovem Ticiane Ferreira, de 14 anos, o acolhimento que recebeu do projeto foi essencial para a sua caminhada: “Ao longo da minha jornada no projeto, senti como se finalmente tivesse encontrado uma família. Quando entrei, carregava um medo enorme de não ser aceita por ser autista. Sempre tive a sensação de ser vista como alguém ‘diferente’, e isso me fazia querer esconder essa parte de mim. Mas aqui, percebi que isso nunca foi um problema. Pelo contrário, fui acolhida de forma genuína, sem julgamentos.”

Conduzidas pela professora Michele Santos Barbosa, especialista em ensino de espanhol, e mesma em línguas e cultura pela UFBA,  as aulas não apenas introduziram as meninas no aprendizado do idioma, mas também reforçaram todo compromisso do Ayomidê com o acolhimento, respeito e fortalecimento das meninas negras em sua pluralidade. Para Ticiane, o apoio das professoras Michele e Débora foi crucial para sua evolução: “Elas sempre demonstraram paciência e empatia, tirando minhas dúvidas e me incentivando a participar. Isso me ajudou a encontrar minha voz e a entender que eu também tenho um lugar e algo valioso a dizer. Antes, era difícil me posicionar ou me sentir segura em debates, mas hoje me sinto preparada para enfrentar essas situações com confiança.”

Liz Barbosa, Ayó de 12 anos, também celebrou a conclusão do ano de aprendizado: “O curso de espanhol foi essencial para mim, não é só sobre aprender um idioma, mas também descobrir novas formas de expressão e conexão. Isso é muito importante para nós, meninas negras, que enfrentamos tantas barreiras. Aprender espanhol me fez sentir mais preparada para enfrentar o mundo e me conectar com outras culturas, tudo isso sem o peso do julgamento, em um ambiente que me fortalece e valoriza quem eu sou.”

Edneia Gomes, mãe das Ayós Endi Kathleen e Karen Katielle, expressou sua felicidade por ter conhecido o Ayomide Odara. Ela compartilhou que as oportunidades oferecidas às suas filhas foram transformadoras, permitindo que aprendessem e amadurecessem de maneira significativa: “Hoje, eu chorei, mas foi um choro de gratidão. Gratidão pelas oportunidades que minhas filhas e eu tivemos. Muitas coisas que me foram negadas, como menina preta, elas puderam aprender. Eu mesma aprendi muito, não apenas nas aulas online, mas também com elas, que me trouxeram novas visões sobre minha vida e meu cotidiano. O Ayomide me fez amadurecer muito, não só a mim, mas toda a minha família.”

Debora Campelo, coordenadora pedagógica do projeto, ressaltou a importância do curso de espanhol, que além de ensinar o idioma, aborda temas sobre identidade racial e cultura africana. “O curso trabalha com questões raciais e personalidades negras, proporcionando um aprendizado único”, afirmou. Ela também destacou a parceria com o Instituto Federal da Bahia (IFBA) na realização do curso, lembrando que, enquanto muitas escolas não abordam a Lei 10639/03, que determina diretrizes curriculares para uma educação antirracista e inclusiva, a iniciativa oferece esse conteúdo essencial: “Esse acesso ao espanhol e aos temas afrocentrados e diasporicos é fundamental para o fortalecimento do processo de empoderamento das meninas. O espanhol abre portas e traz novas oportunidades para elas”, concluiu.

Durante a certificação, a professora Michele Barbosa – vinculada ao IFBA, que acompanhou as jovens e adolescentes ao longo do ano, emocionou os presentes ao destacar a importância do aprendizado do idioma e o impacto desse conhecimento na vida das alunas: “Quero começar agradecendo a cada uma das ‘Chiquitas’ pela participação e dedicação ao longo desse percurso. O aprendizado do espanhol abre portas, amplia horizontes e conecta vocês ao mundo de novas possibilidades.”

A professora também reforçou a relevância do processo contínuo de aprendizado: “Mesmo com os desafios, como aulas remotas e questões técnicas, vocês perseveraram. O espanhol é uma ferramenta poderosa para transformar realidades, e espero que continuem explorando, aprendendo e se fortalecendo. Lembrem-se de que o aprendizado é um caminho que não termina aqui,” finalizou Michele, agradecendo às famílias pelo apoio e pela confiança ao longo da jornada.

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