Rede de Mulheres Negras do Nordeste faz encontro com o Movimento de Mulheres Negras do Ceará
Ação faz parte do cronograma de reuniões presenciais da Rede Nordeste com movimentos de mulheres negras da Região e foi recebida pela Rede de Mulheres Negras do Ceará e o Instituto Negra do Ceará
Redação Odara
A manhã do último domingo (11) irradiou força, alegria e coletividade das mulheres negras em Fortaleza (CE). Com uma programação repleta de afetos, comidinhas gostosas e muita reflexão, a Rede de Mulheres Negras do Ceará e o INegra – Instituto Negra do Ceará, mobilizaram outras organizações de mulheres negras do estado para uma conversa com a coordenação da Rede de Mulheres Negras no Nordeste.
O encontro, que aconteceu no Mokambo de Cultura, no bairro do Benfica, começou com uma dinâmica de acolhimento mediada pela Rede do Ceará e a INegra. Na sequência, foi o momento de apresentação da Rede Nordeste para as organizações presentes. Naiara Leite, Coordenadora Executiva do Odara – Instituto da Mulher Negra, organização que integra a Coordenação da Rede Nordeste, contou das motivações de criação da Rede em 2013 e trouxe o objetivo deste encontro: “Nós estamos correndo toda a região Nordeste, com objetivo de fortalecer nossa Rede, trazer mais organizações, promover a troca e escuta dos contextos nos estados e impulsionar as lutas das mulheres negras nos seus estados”.
Durvalina Rodrigues, da Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba, organização que também faz parte da coordenação da Rede Nordeste, falou com alegria sobre como a forma de viver e fazer das mulheres negras fortalece para os desafios cotidianos: “Nosso jeito de se abraçar, de comer, de estar juntas com as crianças, tudo isso nos fortalece para enfrentar tantas dores e violências”.
Em seguida, foi a hora da Ciranda de Contextos a partir das Organizações Locais, momento coletivo e dinâmico de análise de conjuntura. Entre as demandas e desafios dos Movimentos de Mulheres Negras do estado, Sara Uhuru, do INegra, afirmou que ao mesmo tempo em que acontece um processo intenso de militarização da política no Ceará, nunca se matou tanta gente preta. “Durante a pandemia foi devastador a situação da violência policial e do aumento do encarceramento”.
Alessandra Félix, da Rede de Mulheres Negras do Ceará, destacou o desafio de ser mulher negra, mãe, periférica e Defensora dos Direitos Humanos no estado do Ceará: “A gente tem medo pelas nossas vidas e dos nossos filhos. Nosso filhos não têm conseguido chegar ao ensino médio, quiçá na universidade. E priorizar o acesso à educação deveria ser fundamental na política de segurança pública. Mas o que eles entendem como política para nós é arma e cadeia”.
Lilica Santos, da Rede do Ceará, destacou que no estado também é alarmante a situação do Transfeminicídio: “Há um número escandaloso de assassinatos de mulheres trans e travestis, que além de mortas, não têm sequer sua identidade de gênero respeitada no laudos de morte”. Lilica e outras companheiras também destacaram o racismo ambiental contra populações quilombolas e indígenas no estado; o impacto da especulação imobiliária para as populações periféricas e tradicionais, e para o meio ambiente; e a luta por incentivo à cultura e ao resgate da memória negra no estado.
Luciana Lindenmyer, também da Rede do Ceará, falou dos desafios de manutenção das organizações de mulheres negras em relação ao acesso a recursos, e contextualizou que a prioridade da Rede no estado tem sido o enfrentamento ao feminicídio e as violências contra as mulheres. Ela também destacou a falta de reconhecimento da identidade racial de grande parte das pessoas negras no estado: “Muita gente preta, de adolescente a idoso, não se afirma negro”.
Lilica complementou falando da importância da educação para o fortalecimento da identidade negra no estado, e de como a educação é uma estratégia histórica de genocídio e apagamento dos povos negros. Ela destacou as políticas de cotas nas Universidades como algo positivo neste enfrentamento, e citou a campanha “Tira a mão das nossas cotas” como forma de enfrentamento às fraudes de pessoas brancas ocupando as vagas para negros no ensino superior.
Naiara Leite comentou ainda sobre a importância da Rede incidir nacionalmente nos espaços de Direitos Humanos para disputar a noção do que é ser defensora de direitos humanos: “as mães negras do socioeducativo, as ativistas comunitárias, não são consideradas defensoras dos direitos humanos. É necessário compreender os contextos de ameaças às defensoras negras em cada estado e construir estratégias de proteção coletivas”.
Ao entrar no tema sobre eleições e a representatividade política da mulheres negras, Sara e Luciana destacaram os desafios das mulheres negras se manterem atuantes na política partidária de maneira altiva e disputando o protagonismo, e sobre como esse esse espaço oferece uma série de violências políticas, principalmente às mulheres negras candidatas.
Patrícia Maria, da Rede do Ceará, trouxe a necessidade de se pensar juntas em estratégias de fortalecimento das mulheres empreendedoras negras, que muitas fazem parte do movimento, e sofrem com a falta de investimentos e incentivo ao empreendedorismo.
Outras pautas e agendas políticas foram discutidas, como a Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB) e o Encontro Internacional de Mulheres Negras da América Latina e Caribe – 30 anos.
A série de encontros estaduais é uma estratégia da Rede de Mulheres Negras do Nordeste para ampliação e fortalecimento da Rede, marca a retomada das atividades públicas presenciais, e a escuta nos estados irá orientar a incidência política da Rede no próximo ano. Os encontros fazem parte de um projeto do Instituto Odara, com apoio da ONU Mulheres.
Além da Rede Nordeste, a Rede do Ceará e o Inegra, as mulheres tambem compõem outros coletivos como o Coletivo Maloka, do Grupo Tambores de Safo, do Bloco Cola Velcro, do Coletivo Vozes, Fórum Popular de Segurança Pública do Ceará e a Frente Estadual pelo Desencarceramento.
Comentários