Coluna Beatriz Nascimento #1 – 3ª Temporada: Sara Cristina
Uma carta para a Escola Beatriz Nascimento
Quando me inscrevi para a seleção da Escola Beatriz Nascimento sabia que seria uma ação crucial na minha vida, mas não tinha noção do quanto essa Escola seria importante nos meus caminhos!
Me enviaram a convocação da turma presencial e me senti sortuda pela oportunidade de participar da seleção. Quando descobri que passei foi uma imensa alegria! Estudar, aprender e trocar são ações que me fazem sentir viva!
No primeiro dia de aula estava nervosa, chegando em um local novo, onde conhecia pouquíssimas pessoas. Fiquei encantada ao conhecer dezenas de mulheres pretas que brilhavam e vibravam na mesma sintonia que eu.
Na roda de apresentação, encontrei potências que me fizeram arrepiar apenas por expressarem suas luzes. No meu momento, contei como a pandemia me deixou mais tímida que o comum e como era difícil para mim falar em público depois desse período.
Desde aquele dia senti um imenso acolhimento. Essa é a palavra que resume a Escola Beatriz Nascimento: acolhimento. Fui abraçada pelas minhas irmãs do início ao fim, e isso foi muito importante porque, poucos dias após o início das formações, entrei em um período depressivo que se arrastaria durante maio e junho.
Levantar da cama, se arrumar, comer, ver gente, fazer atividade física… tudo era difícil demais. Os dias de formações eram como um sábado de sol nas minhas semanas nebulosas.
Chorei muito em cada formação que participei, principalmente naquela ministrada pela Thiffany Odara, sobre gênero e sexualidade, por tocar em temas sensíveis na minha história de vida. Estar na Escola Beatriz Nascimento foi desaguar para curar, e não vivi isso sozinha, tive apoio das minhas irmãs.
Não houve sequer uma lágrima derramada que não tenha sido acarinhada por mãos negras e femininas. Toda dor brotada foi consolada e abraçada com sorrisos de compreensão e afeto.
A Escola Beatriz Nascimento foi um espaço seguro para a manutenção da existência em um período onde viver estava sendo um martírio.
O aprendizado intelectual produzido entre nós foi e é força motriz. As tais x3r3c4s pulsantes sabem fazer revolução, sabem bater o pé e orquestrar quais os projetos de nação defendemos.
Sou grata por ter feito parte desse movimento ancestral e brilhante na comunidade do Alto das Pombas. Obrigada às minhas irmãs e ao Instituto Odara. Agradeço por todos os ventos que me levaram até esse espaço de cura. Sou grata.
Sara Cristina, 8 de setembro de 2023.
*Sara Cristina é mulher negra, bissexual, assistente Social, mestranda, escritora, palestrante e criadora de conteúdo. Possui 28 anos, é residente da cidade de Salvador, na Bahia, apesar de ter nascido em Feira de Santana e crescido em Alagoinhas. Atua como Assistente Social no Projeto Força Feminina, tendo como público alvo mulheres que exercem a prostituição. Possui experiência em pesquisas acadêmicas focadas em gênero, raça e sexualidade.