“ATAKAREJO – MERCADO DA MORTE”: Um ano depois dos assassinatos de Bruno Barros da Silva e Ian Barros da Silva, rede de supermercados segue impune

Mesmo após uma série de audiências, a rede de supermercados se nega a promover ações reais de reparação às famílias das vítimas e à comunidade negra soteropolitana

Redação Odara

No dia 26 de abril de 2021, a cidade de Salvador, na Bahia, foi palco de mais um escandaloso episódio da política de genocídio contra o povo negro, causando comoção e revolta na opinião pública. Dois jovens negros e pobres, vítimas da precarização causada pela pandemia, Bruno Barros da Silva, de 29 anos, e seu sobrinho, Ian Barros da Silva, de 19, foram brutalmente torturados, executados com requintes de crueldade e tiveram os corpos abandonados no porta-malas de um carro por um grupo de homens armados ao qual foram entregues, para esse fim, por funcionários da rede de supermercados Atakadão Atakarejo, na loja situada no bairro de Amaralina, onde supostamente tentaram furtar alguns pacotes de carne.

A partir da divulgação do caso de Bruno e Ian, surgiram outras denúncias envolvendo a relação de seguranças do Atakarejo com grupos criminosos. Uma adolescente de 15 contou à polícia que, após ser flagrada em uma tentativa de furto ao supermercado, também foi entregue por seguranças a um grupo com mais de 10 homens que a torturaram. A menina conseguiu fugir, mas ficou bastante machucada.

Em 12 de maio de 2021, o Odara – Instituto da Mulher Negra, junto ao Centro Santo Dias de Direitos Humanos e EducaAfro, ajuizaram a Ação Civil Pública de reparação coletiva – População Negra contra o Grupo Atakadão Atakarejo. Desde então, foram realizadas audiências junto ao Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC) do Tribunal Regional da 5ª Região – TRT5, para tratar do caso.

Conduzidas pela juíza da 35ª Vara de Trabalho de Salvador, as audiências contaram com a participação das organizações acionantes, dos representantes do Atakarejo, bem como da Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA, Defensoria Pública da União – DPU, Ministério Público da Bahia – MP/BA e Ministério Público Federal – MPF. Durante estes encontros, tentamos realizar  um acordo jurídico junto à defesa da Rede de Supermercados Atakadão Atakarejo, que não foi viabilizado pela resistência da empresa em reconhecer que o duplo crime de violência racial letal, cometido sob sua responsabilidade, exige reparação  coletiva à comunidade negra da cidade de Salvador, que acumula o trauma histórico de ver as vidas de seus jovens ceifadas, e os autores dos crimes impunes, como se nossa morte de forma antinatural fosse normal e inevitável.

Diante da negação do Atakarejo em compreender a necessidade de promover a reparação pelos crimes cometidos por seus funcionários dentro das instalações do supermercado, mantivemos a posição de dar prosseguimento às ações, passando para a fase seguinte de produção de provas, para debater as responsabilidades das empresas, principalmente aqui na Bahia, sobre o seu papel no reconhecimento das manifestações racistas no ambiente de trabalho.

A morte de Bruno e Ian de forma tão violenta é mais um episódio que demonstra o descaso em torno do extermínio da juventude negra na Bahia, que registrou o crescimento de 12,6% em mortes de jovens entre 2009 e 2019, segundo os dados do Atlas da Violência 2021. O levantamento também coloca a Bahia em segundo lugar entre os estados mais violentos para pessoas jovens – sobretudo homens negros. 

Enquanto, de um lado, a juventude negra segue sendo violentada e assassinada cotidianamente, do outro lado, Teobaldo Costa, presidente do Atakarejo,  amplia a sua rede de supermercados na cidade de Salvador e é cotado para ser premiado como profissional do ano pela Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS).

Bruno e Ian supostamente tentaram furtar carne de charque no Supermercado Atakarejo, onde foram entregues pelos funcionários do mercado a um grupo de homens à paisana fortemente armados. Diante dessa ação, trazemos à reflexão: Se desconfiaram que os dois jovens furtariam a carne, por que os funcionários do mercado não chamaram a polícia? O que autoriza o Grupo Atakarejo para a violação dos direitos humanos dos jovens? Existe relação entre o Atakarejo e o crime organizado? Por que, ao invés de ser responsabilizado pelos assassinatos, Teobaldo Costa segue enriquecendo e sendo homenageado? Como as instituições jurídicas lidam com o fenômeno do racismo e com as violências decorrentes dele? As justificativas não batem!

Não vamos permitir que a Rede de Supermercados Atakadão Atakarejo saia impune dessa ação racista na cidade mais negra do Brasil. Não vamos permitir que os crimes contra as vidas de nossos jovens sejam esquecidos. Não vamos permitir que essa violência passe em Branco. 

Em memória de Bruno, Ian e outros tantos jovens negros que têm as suas vidas ceifadas de forma violenta todos os dias, o Odara – Instituto da Mulher Negra, através do projeto Minha Mãe Não Dorme Enquanto eu Não Chegar, realizará uma marcha no próximo dia 13 de maio, contra às violências e o genocídio do povo negro. A marcha acontecerá na comunidade do Nordeste de Amaralina, com concentração no Final de Linha dos ônibus, a partir das 16h. Mais informações serão divulgadas em breve nas redes sociais do Odara.

Justiça por Bruno Barros da Silva e Ian Barros da Silva!

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