Carta: 15 anos do Odara – É tanta gente que faz parte dessa história!

*Essa carta foi lida pelas jovens e mestres de cerimônia, Débora Auana e Sofia Moura durante a celebração de aniversário do Odara – Instituto da Mulher Negra, que aconteceu em Salvador (BA), no dia 30 de abril de 2025
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Muito boa noite, pessoal! Sejam todas as pessoas muito bem vindas nesta noite mais que especial.
Boa noite, gente! Nós somos as comissárias de bordo numa viagem que levará cada um de vocês a conhecer um pouco mais da história do Instituto Odara.
E essa história começa aqui mesmo! Em Salvador, no estado da Bahia. Onde o sopro ancestral nunca se calou e a memória das mais velhas ainda guia os nossos passos, nasceu o Odara – Instituto da Mulher Negra.
Há 15 anos, entre a urgência e a fé, plantamos nossos caminhos no chão firme da coletividade e decidimos seguir. Sabíamos, como ainda sabemos, que não há futuro digno, nem país justo, sem as mulheres negras no centro da transformação.
Odara é movimento, alegria e força. É o espelho que reflete quem somos. Nos mostra não só nossa beleza, mas também nossas dores, limites e potências. Espelho que reflete nossas histórias, nossas marcas, nossos caminhos. Vemos as que vieram antes, vemos as que virão. É esse espelho que nos lembra: estamos juntas nesta luta, que é mais que necessária, é INADIÁVEL.
Odara é força coletiva. É projeto político. É uma resposta viva à ausência histórica de políticas que enxerguem a população negra como sujeitos de direito.
Somos as que nascem quando a luta se organiza, quando a dor vira ação, quando a ancestralidade encontra as crianças, adolescentes e juventudes negras e diz: – é possível sonhar, e nós, vamos com vocês!
Nossa existência é intergeracional. Somos meninas, jovens e mulheres mais velhas, porque entendemos que a transformação só se sustenta com memória, continuidade e renovação.
Sabemos que cada geração carrega sua forma de lutar, e é dessa mistura de tempos que tiramos nossa força.
Nestes 15 anos, firmamos nosso lugar no Movimento de Mulheres Negras do Brasil, em diálogo direto com a luta das irmãs latino-americanas. Atuando em diversas frentes pela defesa radical dos direitos, da autonomia e liberdade das mulheres negras.
Seguimos com a filosofia das águas: Contornando os obstáculos, atravessando continentes, alcançando lugares e pessoas. Porque a luta contra o racismo exige aliança e coragem coletiva.
Porque sabemos que as violências que enfrentamos têm nome, têm cor, têm endereço, e apenas o nosso aquilombamento pode desmantelar essas estruturas.
O Brasil e o mundo precisam, com urgência, escutar o que as mulheres negras dizem há séculos: Não há futuro nem justiça social possível enquanto seguimos sendo as mais afetadas pelas violências do Estado.
Mesmo diante de tantas negações, nosso povo e cultura seguem fortes, bonitos e criativos. Por isso estamos aqui e seguimos em Marcha!
Marchamos porque acreditamos que é possível construir outra forma de viver: com dignidade, cuidado e segurança para todas as pessoas.
Acreditamos em uma sociedade onde a reparação histórica não seja uma promessa, e sim uma prática. Onde o Bem Viver não seja apenas um sonho, seja nosso modelo de nação.
Acreditamos que a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver é mais um passo nessa direção. Não é ponto de chegada e nem de partida, é a continuação de uma caminhada longa e coletiva. Marchamos porque parar nunca foi uma opção para nós!
Nestes 15 anos, o Odara reafirma seu compromisso com a luta protagonizada pelas mulheres negras e em defesa de toda população negra. Seguimos aqui porque é necessário, mas também porque é sagrado.
Caminhamos guiadas pelas filosofias dos Orixás e Encantados, que nos ensinam sobre equilíbrio, justiça, cuidado, movimento e transformação.
Nossa Quilomba Odara cresce e se fortalece ao longo dos anos. Hoje somos rede, somos casa, somos território político e espiritual. Somos continuidade das que vieram antes, e promessa viva para as que estão por vir.
Somos os sonhos, o compromisso, a força, a beleza e a dedicação de cada mulher negra que passou por aqui, de cada pessoa que acredita ou acreditou neste projeto.
Eu sou Sophia Ayana, tenho 18 anos, quando o Odara nasceu eu tinha 4 anos e EU TAMBÉM FAÇO PARTE DESSA HISTÓRIA! Eu cheguei no Odara em 2023 como aluna do projeto Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar, que atua no meu bairro – o Nordeste de Amaralina. Em 2024, recebi o convite de me tornar mobilizadora do projeto. E ao mesmo tempo que vi um desafio, também enxerguei como um presente da minha ancestralidade.
Eu sou Débora Auana, tenho 19 anos, quando o Odara nasceu eu também tinha 4 anos e TAMBÉM FAÇO PARTE DESSA HISTÓRIA! Eu cheguei no Odara através do Projeto Ayomide Odara. Eu tinha 14 anos, e o ano era 2021. Hoje, atuo no Programa de Educação e no Núcleo de Juventudes do Odara.
NÓS – SOMOS FRUTO E CONTINUIDADE DESSA HISTÓRIA!
E em nome de toda Equipe Odara, queremos agradecer a cada pessoa que passou por aqui e também faz parte dessa história.
Queremos agradecer a Lígia Margarida, Emanuelle Góes, Edna Pinho, Rose Rozendo, Karine Ayodele, Doranei Alves e Benilda Brito.
Nossa gratidão a Maísa Vale, Janalice Melo, Ana Paula Rosário, Lorena Machado, Silene Arcanja, Jéssica Almeida e Márcia Nascimento.
Nosso muito obrigada a Márcia Procópio, Ana Carine Nascimento, Andréa Sena, Andreia Araujo, Hildete Emanuele, Eli Laíse de Deus e Maiara Pedral.
Gratidão a Jamile Novaes, Dai Costa, Cauane Sena, Laurenice Alves, Jôice Santiago, Veronica Santos e Lukas Silva.
Obrigada Magno Ferreira, Natan Silva, Tamiz Oliveira e Mayra Mota.
Parabéns pelo aniversário e muito obrigada a Valdecir Nascimento, Naiara Leite, Érika Francisca, Danielle Bittencourt, Alane Reis, Beatriz Sousa e Ana Tereza Borba.
Parabéns para Amanda Oliveira, pra mim – Débora Auana, para Naiara Silva, Joyce Souza, Gabriela Ramos, Joanna Bennus e Lorena Cerqueira.
Obrigada Ciro Fernandes, Laura Araújo, Brenda Gomes, Lorena Pacheco, Daiane Ribeiro, Iasmin Gonçalves e Débora Campelo.
Parabéns pra minha amiga Sophia Ayana, Sheila Araujo, Brenda França, Lissandra Pedreira, Adriane Rocha, Lídia Souza e Luza Pedreira.
Obrigada, Dona Nadjane Macedo, Leila Rocha, Luana Souza, Bianca Souza, Andreia Crispim, Polyana Silva e Charles Ribeiro.
Também não poderíamos deixar de agradecer ao nosso Conselho de Madrinhas: Iyá Raidalva Santos, Rosana Fernandes e Rosane Borges.
Nossa gratidão também ao nosso Conselho Fiscal: Janice Nicolin, Raimundo Nascimento e Eliene Barros.
Nossa gratidão especial às irmãs da Rede de Mulheres Negras do Nordeste, que todos os dias reafirmam a nossa certeza que o Nordeste – esse continente das mulheres negras, é régua e compasso de nossas lutas.
Gratidão às companheiras da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB) e a Rede de Mulheres Afrolatina Americanas, Afrocaribenhas e da Diáspora – com quem tecemos nossas lutas no Brasil e no mundo.
Seguimos em luta e em Marcha porque o mundo que queremos ainda está sendo tecido: com coragem e com afeto.
Odara vive, porque nossa luta é por vida. Por vida digna, por vida negra, por vida com sentido. Por Bem Viver.
Adupé, Odara!
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