CASO ATAKAREJO: Morte de jovens negros envolvendo seguranças do supermercado completa um ano na próxima terça-feira (26)
Mesmo após uma série de audiências, a rede de supermercados se nega a promover ações reais de reparação para as famílias das vítimas e para a comunidade negra soteropolitana
Redação Odara
Em 26 de abril de 2021, a cidade de Salvador, na Bahia, foi palco de mais um escandaloso episódio da política de extermínio contrao povo negro, causando comoção e revolta na opinião pública. Dois jovens negros e pobres, vítimas da precarização causada pela pandemia, Bruno Barros da Silva, de 29 anos, e seu sobrinho, Ian Barros da Silva, de 19, foram brutalmente torturados, executados com requintes de crueldade e tiveram os corpos abandonados no porta-malas de um carro por um grupo de homens armados ao qual foram entregues, para esse fim, por funcionários da rede de supermercados Atakadão Atakarejo, na loja situada no bairro de Amaralina, onde teriam tentado furtar alguns pacotes de carne.
O ocorrido atrelou, mais uma vez, um supermercado ao racismo que mata e mostra como esses espaços podem ser cenários de atos de violência praticados por seus próprios funcionários na certeza da impunidade e conivência por parte dos patrões. A partir de então, mais uma morte e pelo menos oito casos de tortura envolvendo seguranças da Rede Atakarejo foram identificadas através da mídia. Nos demais casos, a medida de tortura também foi aplicada como suposta punição por furtos de comida nos mercados da rede. Em nenhum dos casos a polícia foi acionada.
Um processo de Ação Civil Pública foi movido pela Associação Educafro, o Centro Santo Dias de Direitos Humanos e o Odara Instituto da Mulher Negra contra a Rede de Supermercados Atakadão Atakarejo e uma série de audiências foi realizada durante o último ano para tratar do caso.
Conduzidas pela juíza da 35ª Vara de Trabalho de Salvador, as audiências contaram com a participação das organizações acionantes, dos representantes do réu, bem como da Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA, Defensoria Pública da União – DPU, Ministério Público da Bahia – MP/BA e Ministério Público Federal – MPF. Aconteceram alguns debates em torno do ocorrido e, diante disso, houve a tentativa de realizar um acordo jurídico junto com a defesa da Rede de Supermercados Atakadão Atakarejo, que não foi viabilizada pela resistência da empresa em entender que não se trata de valores e sim de reparação coletiva frente à violência racial perpetrada por eles.
Um ano depois, as famílias de Bruno e Ian e a comunidade negra de Salvador seguem pedindo por justiça e reparação. O projeto Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar, do Instituto Odara, que atua no fortalecimento e promoção da organização política de mulheres mães e familiares de vítimas do Estado, vem acompanhando o caso e pensando em ações para pressionar o poder público por justiça e garantir que a história não seja esquecida.
“Nós não vamos calar até que se faça justiça e também continuaremos na luta por reparação. Sabemos que indenização nenhuma vai trazer os jovens de volta para as suas famílias, mas é preciso que o mercado possa se responsabilizar por essas mortes”, enfatiza Hildete Emanuele, coordenadora do Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar.
“Meu filho não era terrorista, meu filho não era assassino, pra eles fazerem a barbaridade que fizeram. Eu quero justiça contra o Atakarejo! Enquanto Deus me der forças, vou gritar por justiça”, declarou Dionésia Pereira Barros, mãe de Bruno Barros, em entrevista exclusiva para o Instituto Odara.
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