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Escola Beatriz Nascimento: Com tema sobre Direitos Humanos para Mulheres Negras e Bem Viver, aula inaugural da 3ª turma reúne mulheres do Norte e Nordeste!

Encontro aconteceu em plataforma exclusiva e teve a participação artística das alunas

Por Jéssica Almeida / Redação Odara

Aconteceu nesta terça feira (12) a aula inaugural da 3ª Turma da Escola de Ativismo e Formação Política para Mulheres Negras: Beatriz Nascimento. Com tema sobre Direitos Humanos para Mulheres Negras e Bem Viver, o encontro foi mediado pela coordenadora pedagógica da Escola, Silene Arcanjo, e contou com a participação Valdecir Nascimento, fundadora e idealizadora do Odara – Instituto da Mulher Negra; Naiara Leite, atual coordenadora executiva do Odara; e da professora doutora convidada, Dyane Brito, representante da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), instituição parceira do projeto.

Logo durante a abertura, Naiara lembrou que a criação da Escola Beatriz Nascimento aconteceu por conta de uma inquietação de Valdecir sobre pensar a criação de espaços de formação e troca de saberes entre mulheres negras do Norte e Nordeste. “Nessa escola, temos a oportunidade de conhecer e se alimentar da trajetória, do pensamento dessas milhões de mulheres que são as nossas anônimas guerreiras negras brasileiras, que fazem, todos os dias, processos de resistência e luta nesse país”, ressaltou Naiara.

Em sua fala inicial, Valdecir destacou a importância de se produzir um espaço de formação como esse a partir do Norte e Nordeste, regiões que historicamente foram hostilizadas e sacrificadas. “É daqui que precisamos nos levantar… Pensando nas que foram, reforçando as que pensaram e também pensando nas que estão, para que essas possam pensar nas que virão. É um efeito dominó na trajetória de existência de mulheres negras: a gente vai cuidando”, destacou ela.

Valdecir apontou ainda a necessidade de ampliar e aprofundar o debate sobre direitos humanos, uma vez que homens e mulheres negras, sequer, são vistos como humanos pela sociedade e não têm a garantia dos seus direitos sociais, políticos, econômicos e à liberdade. “Nós, mulheres negras, somos as mais preparadas para estruturar uma nova nação e o Odara está convocando vocês! É uma troca de experiência para pensar um futuro para as nossas meninas, meninos, para os nossos velhos, para todo o nosso povo”, enfatizou.

A professora Dyane Brito, diretora do Centro de Artes, Humanidades e Letras, da UFRB, iniciou o debate sobre o tema Direitos Humanos e Bem Viver, fazendo uma relação com a educação e a permanência material e simbólica de estudantes negras e negros no ensino superior. 

Dyane defende que é a partir do ingresso na universidade, que muitos jovens vão construir a sua identidade racial, sexual e de gênero, pois é um espaço onde os elementos ligados à raça e racismo costumam aparecer, por isso é importante, para além do acesso e da permanência material, considerar tais aspectos que compõem a premanência simbólica de estudantes negros nas universidades brasileiras. 

“No meu curso de Ciências Sociais somos três professoras negras. A maior parte é formada por homens (não negros), do Sul e Sudeste. Esse é um ponto que a gente precisa tocar”, afirma Dyane.

Ela também defendeu que as políticas afirmativas de permanência universitária para mulheres negras sejam pensadas levando em consideração especificidades colocadas a partir do gênero e citou como exemplo a maternidade, que acarreta em uma série de processos que dificultam a continuidade no espaço acadêmico, já que as mulheres, sobretudo negras, costumam carregar sozinhas a responsabilidade dos cuidados com os filhos.

No Brasil, até 2002, menos de 20% dos jovens nas universidades eram negros. Outro levantamento, a partir dos dados do IBGE, informa que entre 2010 e 2019, o número de alunos negros no ensino superior chegou a 38,15% do total de matriculados, percentual ainda abaixo de sua representatividade no conjunto da população que é de 56%. “Esse espaço não é pensado pra nós, pretos, pardos e indígenas”, afirmou Dyane.

Luzinete Conceição é aluna da Escola Beatriz Nascimento e vice-presidente do Centro Comunitário do Rosarinho,  um dos maiores bairros quilombolas da cidade de Cachoeira-BA. Ela contou que, por perceber que muitos jovens da comunidade tinham interesse em entrar na universidade, mas eram limitados de várias formas, criou um projeto voltado para a educação de jovens e adultos em parceria com a UFRB. Por conta da pandemia, o projeto foi interrompido, mas já está sendo reestruturado. “Vamos retomar a nossa trajetória porque queremos ver o nosso jovem negro dentro das universidade, escrevendo uma nova história, que não mais essa de ser marginalizado”, enfatizou Luzinete.

Larissa Araújo, aluna do curso de Fisioterapia na Universidade Estadual da Bahia, também falou sobre as suas dificuldades para permanecer na academia e finalizou com um pedido de aquilombamento: “Meu pedido é pra gente se aquilombar pra construir, mas também pra construir rede de acolhimento entre as nossas e nossos”.

O encontro aconteceu em uma plataforma exclusiva e teve a participação de Diana Mendes, representante do Instituto Ibirapitanga, apoiador do projeto.

Sobre a Escola Beatriz Nascimento

Criada pelo Instituto Odara em 2020, a Escola tem a finalidade de contribuir para o fortalecimento político e organizacional de mulheres negras.  A Escola promove espaços de formação, trocas de experiências e articulação de ações, a fim de qualificar a incidência política das mulheres negras no Brasil.

Para tanto, serão ministradas semanalmente encontros virtuais com as alunas com temas sobre o Pensamento de Mulheres Negras Contemporâneas, História das Organizações de Mulheres Negras, Políticas Pública na Perspectiva de Mulheres Negras, Pensando nas Lésbicas, Bissexuais e Transexuais Negras (História, Memória e Organização Política), Comunicação e Incidência Política, Feminismo Negro e Tecnologias.

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