Assine o Boletim Odara:



Escola Beatriz Nascimento encerra ciclo de formação política para mulheres negras das regiões Norte e Nordeste

A 3ª turma teve aulas em formato online e formou 27 cursistas; Escolha dos temas proporcionou espaços de discussão e identificação entre as mulheres

Por Jéssica Almeida | Redação Odara

No último dia 28 de Julho a Escola de Ativismo e Formação Política – Beatriz Nascimento, encerrou suas atividades após um período de quatro meses. Em março deste ano, o Odara – Instituto da Mulher Negra, através de uma Chamada Pública, abriu 40 vagas para a 3ª turma.

Um total de 334 mulheres de 22 estados do país se inscreveram via formulário. Devido ao recorde de inscrições, 61 mulheres foram selecionadas na primeira chamada. Sendo 33 mulheres da Bahia e 28 dos demais estados das regiões Norte e Nordeste.

A formação compreendeeu os seguintes componentes curriculares: Pensamento de Mulheres Negras Contemporâneas; A Insubimissão da Escrita das Mulhres Negras; História das Organizações de Mulheres Negras; Políticas Públicas na Perspectiva de Mulheres Negras; Pensando nas Lésbicas, Bissexuais e Transexuais Negras (História, Memória e Organização Política); Comunicação e Incidência Política; Feminismo Negro e Tecnologias.

Os temas discutidos foram avaliados positivamente pelas participantes do curso, assim como a escolha das professoras e metodologia, que facilitou o entendimento por parte daquelas que ainda não tinham contato com ativismo e movimentos de mulheres negras.

Para uma das cursistas, amazonense, doutoranda em Toxinologia e fotógrafa, Norathan Guimarães, a escola proporcionou um espaço de discussão que antes era restrito a espaços de embranquecimento. 

“O acesso a certos conhecimentos, teorias e discussões, que por muito tempo ficaram restritas a homens brancos… A partir do momento que mulheres são incluídas nessa discussão e são ouvidas, há uma mudança drástica na base da sociedade. A escola me proporcionou estar inserida nesses espaços de discussão; e a partir do momento que a gente terminou essa formação, poderemos ser as pessoas que vão continuar prosperando esse conhecimento”, conclui ela.

Norathan Guimarães | Foto: Arquivo pessoal

A coordenadora da Escola Beatriz Nascimento, a professora, historiadora e pesquisadora, Silene Arcanja, enxerga o projeto como ferramenta de resgate histórico.

“Para muitos de nós a história de organizações negras e protagonismo das mulheres negras, ainda é desconhecida. Então é isso que a Escola faz, apresenta às nossas jovens mulheres este caminho, através da experiência e da vivência de outras mulheres negras que nos antecederam”, explica.

Silene Arcanja | Foto: Anastácia Flora de Oliveira

A experiência das descobertas e mudanças a partir do conhecimento é relatada por Mayara Eusebio, cursista, cearense e pós graduada em docência do ensino médio técnico e superior: “Hoje eu, com tudo que aprendi na escola, na vivência com mulheres negras e em todas as caixas que foram abertas e devidamente postas em seus lugares, tenho mais segurança em me posicionar, apoiar e estar atenta a demandas que são das minhas antepassadas, são das mulheres da minha família, são das tantas mulheres negras que são minhas e da minha Maria”, conta ela.

Mayara Eusebio | Foto: Arquivo pessoal

A formação da Escola aconteceu de maneira totalmente online. E por isso, alguns desafios como problemas com a conexão de internet e falta de energia surgiram ao longo do caminho. Mesmo diante dessas fragilidades, o preparo e sensibilidade da equipe pedagógica fez com que quase 50% da turma concluísse o curso com frequência regular. 

Ingrid de Jesus, soteropolitana e estudante de Serviço Social, é uma das 27 mulheres que concluíram o curso. Para ela, desconstruir conceitos foi a parte mais desafiadora da formação.

“Meu grande desafio nessa jornada foi exatamente desconstruir todo um imaginário que eu possuía referente a alguns assuntos, reaprender sobre algo que julguei ser a única verdade a vida toda, me estremeceu absurdamente”, conta ela.

Ingrid de Jesus | Foto: Arquivo pessoal

A  história da população negra no Brasil tem sido escrita por mãos brancas de forma deturpada. Essas narrativas precisam ser reapropriadas para que nos tornemos protagonistas da nossa própria história. 

Com o objetivo promover espaços de formação, trocas de experiências, articulação de ações, e qualificação da incidência política das mulheres negras no Brasil, a Escola Beatriz Nascimento caminha para sua 4ª edição e em breve mais informações serão divulgadas.

Assine o Boletim Odara:



Compartilhe:

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *