Estratégias pela Justiça Reprodutiva no Brasil é tema de conversa entre Instituto Odara e Fòs Feminista
Durante o encontro foram apresentados os projetos e ações de incidência política promovidas pelo Instituto
Redação Odara
Na tarde da última quinta-feira (27), ativistas do Odara – Instituto da Mulher Negra receberam na sua sede, em Salvador (BA), a visita de representantes da Fòs Feminista, plataforma internacional de ação feminista voltada para os temas da saúde e dos direitos sexuais e reprodutivos de meninas e mulheres ao redor do mundo.
O encontro teve por objetivo dialogar sobre os programas desenvolvidos pelo Instituto Odara e avaliar o contexto das injustiças reprodutivas na região Nordeste.
Valdecir Nascimento, fundadora do Instituto Odara, abriu a reunião falando sobre o desejo de ampliar a incidência política junto à Fòs e sobre as especificidades que precisam ser observadas para tratar as questões da justiça reprodutiva entre mulheres negras: “A ideia é que possamos caminhar juntas sem perder as nossas particularidades. E é nesse sentido que nós estamos constantemente nas comunidades, encontrando e ouvindo outras mulheres negras sobre como elas vivenciam as injustiças sexuais e reprodutivas, e assim percebemos e aprendemos com as suas singularidades”, afirmou.
Tamíz Oliveira, coordenadora do Projeto de Justiça Reprodutiva do Nordeste, falou sobre as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas para a criação do Nós Por Nós – Observatório de Justiça Reprodutiva e ressaltou que, para mulheres negras, a justiça reprodutiva não se trata apenas de um conceito: “Não é só uma teoria, é uma prática revolucionária. É colocar as lentes da interseccionalidade para pensar sobre as particularidades das mulheres e meninas negras, indígenas, mulheres trans e pessoas que menstruam de forma geral”, enfatizou.
Naiara Leite, coordenadora executiva do Instituto Odara, também destacou que com os dados levantados pelo Observatório será possível, pela primeira vez, visualizar o cenário das injustiças sexuais e reprodutivas com foco nas mulheres negras do Nordeste: “Será possível fazer o monitoramento das iniciativas parlamentares sobre o tema; do problema da falta de informações sobre onde as mulheres podem fazer o aborto nos casos legazidados no Brasil; o das abordagens da mídia sobre o tema; relação de negação dos direitos sexuais, da mortalidade materna e do genocídio da população negra”, disse.
Manuela Itajací, de 14 anos, participante do projeto Ayomide Odara há dois anos, comentou sobre como as discussões levantadas no projeto foram importantes para que ela criasse uma iniciativa de garantia da dignidade menstrual para pessoas da sua comunidade: “Eu comecei a prestar atenção a essa questão e lembrei que uma amiga já tinha comentado que não foi à escola porque não tinha absorvente. Então eu pensei, por que não promover a doação de absorventes pelo menos uma vez por mês?”, explicou. Atualmente, ela arrecada e doa absorventes para pessoas em situação de vulnerabilidade no Subúrbio Ferroviário, em Salvador (BA).
Amanda Oliveira e Beatriz Sousa, articuladoras do Núcleo de Juventudes do Instituto Odara, falaram sobre as estratégias que elas vêm pensando para garantir o protagonismo e criar redes de colaboração entre as juventudes negras da América Latina: “Se as nossas mais velhas vieram antes e abriram esse caminho para nós, precisamos lutar pelas que vêm depois também”, disse Beatriz.
Gisele Carino, fundadora e CEO da Fòs Feminista, disse estar encantada em conhecer o trabalho realizado pelo Instituto Odara e que o encontro foi importante para sentir e entender a integralidade das ações desenvolvidas. Para ela, a atuação do Instituto se relaciona com os objetivos da Fòs desde sua fundação, há cerca de um ano: “A Fòs apoia projetos políticos de mudança. E foi criada como uma forma de resistir às formas tradicionais pelas quais o sistema opera”, ressaltou.
“Para nós, vocês não são só financiadores, são parceiras. Construímos as nossas ações coletivamente. Os resultados são para todas nós, para as mulheres com quem trabalhamos e para todas as mulheres que são violadas em seus direitos”, concluiu Naiara.
Instituto Odara e Fòs Feminista seguirão parceiras em ações pela Justiça Reprodutiva no Brasil, principalmente no Nordeste, região do país mais afetada com as violações de direitos neste campo.
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