A atividade faz parte da agenda coletiva da 11ª edição do Julho das Pretas – Mulheres Negras em Marcha por Reparação e Bem Viver

Redação Odara

Na manhã da última terça-feira (25), o Odara – Instituto da Mulher Negra, promoveu um encontro de articulação política com mulheres quilombolas de diversas regiões da Bahia. A atividade marca a continuidade da Jornada Elitânia de Souza – Quilombolas Vivas, agenda que propõe ações de incidência política de combate às violências contra as mulheres nos territórios quilombolas do estado.

Joyce Lopes, coordenadora de Combate às Violências contra as Mulheres Negras do Instituto Odara, contou que a Jornada surgiu como um desdobramento da Semana Elitânia de Souza – Pela Vida das Mulheres Negras, realizada há três anos, durante o mês de novembro, em parceria com outras organizações da Bahia que constroem uma agenda de atividades relacionadas ao enfrentamento da violência contra as mulheres.

Durante o encontro, as mulheres trouxeram relatos, falaram sobre como funciona a dinâmica das violências contra as mulheres em suas comunidades e quais os desafios para combatê-las. Alguns dos problemas apontados foram a subnotificação dos casos; o conservadorismo presente na família, escola e órgãos públicos; e a falta de preparo e sensibilidade de servidores públicos na prevenção e cuidado para com as vítimas.

Algumas das mulheres comentaram sobre como essas questões vêm sendo negligenciadas pelo poder público e sobre a importância da atuação dos movimentos sociais neste sentido. “A gente já vem discutindo sobre a violência contra a mulher e buscando fortalecimento junto aos movimentos por conta da ausência do poder público. E agora, nessa parceria com uma instituição que fala de mulheres, a nossa expectativa aumenta”, afirmou Eleides do Rosário, da comunidade quilombola de Jatimane, em Nilo Peçanha (BA).

Pensando em como encaminhar tais questões, foi elaborado um planejamento de ações de incidência política para o período de um ano. Dentre as ações e estratégias citadas, foi destacado o mapeamento de casos de violência em colaboração com lideranças comunitárias, assistentes sociais, profissionais de saúde e outros profissionais que lidam diretamente com essas situações em seu trabalho cotidiano e a realização de audiências públicas para tratar da violência de acordo com as especificidades dos territórios.

“A gente precisa trazer os relatos dos casos para entender como eles acontecem nas regiões quilombolas. Precisamos desenhar uma metodologia de como fazer esse levantamento e levá-lo para discussão nas audiências públicas para poder pensar em que tipo de incidência política podemos fazer nesse sentido”, explicou Joyce.

Naiara Leite, coordenadora executiva do Instituto Odara, sugeriu também a criação de campanhas de comunicação, principalmente através das rádios locais, para levar informações sobre como as violências se configuram e atingem as mulheres negras. “Precisamos informar a população e também pressionar os municípios, mostrando que nós estamos de olho”, afirmou.

Ao final da discussão, ficaram agendados os próximos encontros virtuais e presenciais em alguns dos territórios, com objetivo de ampliar o debate e desenhar o cronograma de ações e metodologia de atuação que será adotada.

Ana Célia Santos, ativista da Rede de Mulheres Negras do Baixo Sul e moradora do Quilombo do Barroso, em Camamu (BA), afirmou estar se sentindo feliz e fortalecida com a articulação política que está sendo construída através da Jornada Elitânia – Quilombolas Vivas: “Estamos unindo forças no combate à violência contra as mulheres negras. Isso é importante, ainda mais se a gente pensar que a luta é três vezes maior quando tratamos de mulheres negras, quilombolas e que estão no interior da Bahia”.

Logo após o encontro, elas seguiram juntas para a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, realizada pelo Movimento de Mulheres Negras da Bahia, pelas ruas do centro de Salvador (BA), em celebração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latina e Caribenha. Adelaide Santos, da comunidade quilombola de Tapuia, em Camamu (BA), afirmou que a marcha se constitui enquanto um momento de integração e troca de experiências entre as mulheres do interior e da capital. “Nós que somos do interior, muitas vezes não somos visibilizadas, mas aqui podemos trazer as nossas dificuldades e também ouvir o que as companheiras da capital e região metropolitana estão vivendo”, afirmou Adelaide, que também faz parte do Coletivo Sou Negra e integra o Conselho de Igualdade Racial de Ituberá (BA). “Uma pega na mão da outra e juntas vamos nos fortalecendo”, concluiu.

Estiveram representadas no encontro e na Marcha as comunidades de Quilombo do Barroso (Camamu); Ilha do Tanque e Maraú; Tapuia (Camamu); Olhos D’aguinha (Boninal); Quilombo Fortaleza (Bom Jesus da Lapa); Jatimane (Nilo Peçanha); Mulungu (Boninal) e Quilombo Dendê (Maragojipe).