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No dia internacional de luta das mulheres negras, ativistas negras da Bahia marcham por Reparação e Bem Viver

Milhares de pessoas de diversas regiões do estado ocuparam as ruas do Centro de Salvador

Mulheres negras baianas estiveram reunidas nas ruas de Salvador, nesta terça-feira, 25 de julho – Dia Internacional da Mulher Negra Afro Latina Americana e Caribenha.

A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver foi organizada pelo Movimento de Mulheres Negras da Bahia e faz parte da agenda de ações realizadas na 11ª edição do Julho das Pretas, que nesta edição contou com 446 atividades, articuladas por 230 organizações de mulheres negras ou mistas, em 20 estados brasileiros e no Distrito Federal, e teve tema homônimo à Marcha.

A atividade foi iniciada com a concentração das mulheres na Praça da Piedade, na região do centro de Salvador. Com microfone aberto, as participantes aproveitaram o momento para declamar poesias, cantar e, claro, falar sobre suas bandeiras de luta e os motivos de estarem em marcha. 

Rita Santa Rita, ativista do Grupo de Mulheres do Alto das Pombas – GRUMAP, explica que Bem Viver é um projeto político e de vida de mulheres negras, capaz de gerar transformação na sociedade brasileira. “Vivemos em uma sociedade que tem como base valores como o racismo e capitalismo, por isso é urgente pensar em um novo modelo econômico e social, que priorize os direitos das pessoas e respeite as diferenças, um modelo sem exploração na qual as mulheres negras, suas famílias e comunidades possam viver dignamente”, afirmou.

A ativista do Odara – Instituto da Mulher Negra, Érika Francisca, explicou que o Julho das Pretas é uma ação política coletiva dos movimentos das mulheres negras de todo o Brasil, que tem pautas inegociáveis. “Nós marchamos pela vida das crianças e da juventude negra, pelo direito à empregos e formação profissional, pelo direito à moradia e saneamento básico, Não admitimos mais ódio religioso. Queremos e vamos ser ouvidas em todos os espaços de poder, por mais que eles digam que não!”

EM MARCHA  POR REPARAÇÃO 

A pedagoga, ativista e Ialorixá do Terreiro Oyá Matamba, Thiffany Odara, que junto com outras lideranças religiosas do candomblé, fez o ato simbólico de abertura da marcha, acredita que falar sobre “reparação tem a ver com políticas públicas, tem a ver com bem estar, ações e efetivações de um Plano Municipal que atenda às nossas necessidades enquanto povo de santo.”

Para Jeane Santos, catadora de material reciclável, integrante do Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável – MNCR/BA, a marcha é importante pois fortalece as vozes e as denúncias das mulheres negras. “Enquanto mulheres negras e catadoras, estamos aqui para reafirmar nossa luta e compromisso com as nossas pautas! Como catadoras, queremos a contratação direta do município, das cooperativas e associações de catadores de material reciclável; como mulheres negras, que o Estado pare de nos matar e matar nossos filhos. Chega de mortalidade infantil, chega de opressão policial!”

Adriele Carmo, da Iniciativa Negra por Uma Nova Política de Drogas, acredita que há um longo caminho até alcançar reparação histórica, já que é grande a lista de desigualdades e negação de direitos para as pessoas negras. “Reparação histórica vai vir quando nossa única preocupação da vida seja acordar e pensar no nosso futuro. Hoje uma pessoa negra, uma mulher preta, não tem acesso aos direitos básicos, enquanto não tivermos acesso ao mínimo, saúde, alimentação, à vida com dignidade, não haverá reparação.”

PELO FUTURO DAS CRIANÇAS, ADOLESCENTES E JOVENS NEGROS

A juventude negra também compareceu à Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, e com seus cartazes exigiram mais oportunidades no mercado de trabalho e o fim da violência policial – principal problema  das periferias brasileiras.

Para a assistente social e coordenadora do Centro de Qualificação Profissional da  Associação das Comunidades Paroquiais de Mata Escura e Calabetão – ACOPAMEC, Joice Cristina, é necessário pensar em ações de reparação para que a juventude negra possa ter mais oportunidades de formação profissional e de empregos. 

“Quando pensamos em reparação para a juventude, estamos falando de um grupo que é impactado pela falta de oportunidades, principalmente no mercado de trabalho. Estamos com os jovens aqui hoje para mostrar que é importante essa incidência política e mostrar para a sociedade que as mulheres negras estão vivas, por mais que tentem nos matar, e estamos em busca desse Bem Viver!”

Eliene Santana, jovem do Quilombo do Dendê, localizado no município de Maragogipe  – BA, participou da marcha pela primeira vez e acredita que as comunidades quilombolas e os jovens quilombolas precisam ser olhados com mais atenção pelo Estado.

“Reparação para mim seria se na minha casa tivesse água potável de qualidade, seria termos um posto de saúde por perto, seria parar ver nossas crianças pegando transporte de uma hora e meia para chegar até a escola, seria parar de ver as mulheres quilombolas morrendo(…). Reparação para mim seria parar de ser estatística para o governo, seria as pessoas olharem para os quilombolas como indivíduos que têm fome de conhecimento, de oportunidades, e principalmente de sobrevivência.”   

O caso do garoto Gabriel Conceição Júnior, de 10 anos, que morreu após ser baleado durante uma operação policial no bairro de Portão, em Lauro de Freitas – BA, no último domingo (23), foi lembrado diversas vezes pelas mulheres em marcha. Para Cristiane Santos, da Associação de Mulheres Koxerê, é necessário políticas públicas que garantam o direito à infância das crianças negras. 

“Queremos Bem Viver sobretudo para que as nossas crianças negras possam realizar seus sonhos. Para que possam brincar sem medo, para que tenham direito à educação e saúde de qualidade. Exigimos o direito de ver nossos filhos crescerem, do mesmo jeito que as famílias brancas conseguem. Não aguentamos mais perder nossas crianças”, declarou Cristiane.

JULHO DAS PRETAS 

Criado em 2013, pelo Odara – Instituto da Mulher Negra, o Julho das Pretas é uma ação de incidência política e agenda conjunta e propositiva com organizações e movimentos de mulheres negras do Brasil. A 11ª edição do Julho é mobilizada pela Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), Rede de Mulheres Negras do Nordeste e Rede Fulanas – Negras da Amazônia Brasileira.

O tema que norteia as ações da edição deste ano é Mulheres Negras em Marcha por Reparação e Bem Viver, fazendo referência à construção da 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras, que acontecerá em 2025; ao debate sobre reparação histórica para a população negra; e ao Bem Viver, paradigma que orienta a ação de grande parte dos movimentos de mulheres negras no Brasil, desde o processo de mobilização para a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo a Violência e pelo Bem Viver, que aconteceu em novembro de 2015, em Brasília.

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