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Organizações Quilombolas da Bahia protagonizam agenda coletiva do Março de Lutas com atividades em defesa da vida das mulheres negras

A agenda foi construída como parte da mobilização para a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que acontecerá em novembro, em  Brasília (DF)

Por Redação Odara

Do Norte ao Oeste da Bahia, mulheres quilombolas protagonizaram 15 atividades durante a 7ª edição do Março de Lutas, agenda coletiva que reafirma a resistência e o protagonismo das mulheres negras no Brasil. As atividades aconteceram nos territórios da Chapada Diamantina, Velho Chico e Sertão Produtivo, com rodas de conversa, oficinas, sambas de roda e vivências sobre saúde mental, autocuidado, ancestralidade e enfrentamento às múltiplas violências.

Do Norte ao Oeste da Bahia, mulheres quilombolas protagonizaram 15 atividades durante a 7ª edição do Março de Lutas, agenda coletiva que reafirma a resistência e o protagonismo das mulheres negras no Brasil. As atividades aconteceram nos territórios da Chapada Diamantina, Velho Chico e Sertão Produtivo, com rodas de conversa, oficinas, sambas de roda e vivências sobre saúde mental, autocuidado, ancestralidade e enfrentamento às múltiplas violências.

Segundo Amanda Santos, ativista do Instituto Odara que atua no Projeto Quilomba – Pela Vida das Mulheres Negras, as mobilizações começaram ainda em fevereiro, com uma estratégia de fortalecimento das mulheres dentro das comunidades: “A ideia era que elas planejassem, organizassem e mobilizassem suas comunidades com atividades construídas a partir das suas próprias realidades e necessidades”, explica Amanda.

A ativista destaca que a proposta surgiu a partir de escutas feitas nas reuniões de avaliação do projeto, quando muitas lideranças relataram o sentimento de solidão no exercício da luta:  “Foi um momento para que as mulheres estivessem juntas, debatendo temas importantes para a vida nas comunidades, como a violência contra a mulher, o autocuidado, o Bem Viver e a organização para a Marcha das Mulheres Negras”, afirma.

As ações do Março também valorizaram os espaços já organizados no cotidiano das comunidades, como aulas de zumba ou rodas de batuque, que serviram como ponto de partida para os encontros e diálogos.

Além de denunciar as diversas formas de violência, o Março de Lutas também fez parte do processo de mobilização para a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que acontecerá no dia 25 de novembro, em Brasília. As articulações territoriais foram fortalecidas e mobilizadas.

No território da Chapada Diamantina, nos municípios de Boninal e Seabra, foram realizados encontros nas comunidades quilombolas de: Bateias, Mulungu, Olhos d’Águinha, Basílio, Baixão Velho, Cachoeira e Mucambo, Agreste e Vazante. Já no território do Velho Chico, as ações aconteceram em: Pau d’Arco, Lagoa do Peixe, Araçá/Cariacá e Largo da Vitória. No Sertão Produtivo, a comunidade de Aroeira realizou uma roda de conversa online com foco no cuidado com a vida.

Thainá Maria, articuladora da comunidade de Olhos d’Águinha, em Boninal, participou da atividade “Batuque da Paz no Março de Lutas” e contou como o momento foi importante para as mulheres da região. “Foi uma troca profunda e significativa. Palavras de afeto e apoio criaram um ambiente leve e acolhedor. Como mulher negra, é essencial ter espaços onde possamos compartilhar nossas experiências e encontrar força umas nas outras. Além da música e do batuque que animaram o encontro, refletimos sobre a importância da Marcha das Mulheres Negras, que será um momento para lembrar as lutas que ainda precisamos enfrentar, especialmente a violência contra as mulheres”, afirmou Thainá.

Na comunidade de Aroeira, em Palmas de Monte Alto, território Sertão Produtivo, uma roda de conversa virtual reuniu mulheres com o tema “Diga sim à vida: conhecer para cuidar”. A proposta foi ampliar o debate sobre o Bem Viver e o cuidado com a vida das mulheres negras quilombolas.

Para Nelci Conceição, coordenadora do Grupo de Mulheres Mãos Aroeira, o encontro foi potente e necessário. “A temática trouxe reflexões importantes e experiências inspiradoras com mulheres negras, quilombolas e outras companheiras que lutam em defesa da vida e dos direitos. Somos contra o racismo, o feminicídio e toda forma de violência que atinge as mulheres”, afirmou.

REPARAÇÃO E BEM VIVER: O QUE ESTÁ EM JOGO?

A agenda do Março de Lutas 2025 destacou dois pilares fundamentais: a Reparação Histórica e o Bem Viver. A reparação que o movimento exige vai além do reconhecimento das injustiças coloniais. Ela demanda estratégias concretas de superação das desigualdades raciais e sociais, assegurando oportunidades reais para a população negra alcançar o patamar de equidade. O Bem Viver, por sua vez, propõe uma nova visão de sociedade, onde o cuidado, a coletividade e a harmonia com a natureza sejam prioridades, garantindo que todas as comunidades possam prosperar com dignidade e autonomia. 

Para Amanda Santos, ativista e liderança jovem quilombola da comunidade Olhos d’Aguinha, em Boninal, a reparação histórica para as comunidades quilombolas deve ser compreendida como um processo coletivo que vai além da dimensão individual e material. Ela defende que a regularização fundiária dos territórios quilombolas é central para garantir a preservação da memória, das tradições, das lideranças e da história dessas comunidades, sendo, portanto, uma reparação que articula o acesso à terra com o reconhecimento simbólico e cultural.

“Pensando nesse viés coletivo, a reparação para nós enquanto comunidades quilombolas, enquanto mulheres quilombolas, vem muito na perspectiva, do acesso à terra, que é uma reparação histórica e que envolve todos os outros processos de reparação para nós. Porque a terra para nós, quilombolas, vai para além do que é matéria, envolve  memória e o reconhecimento da história”, afirma.

SOBRE O MARÇO DE LUTAS

Criado em 2019 pelo Odara – Instituto da Mulher Negra, o Março de Lutas é uma agenda coletiva que reafirma a resistência e o protagonismo das mulheres negras no Brasil. Com o objetivo de compartilhar práticas, experiências e promover denúncias contra o racismo, o sexismo e a lesbofobia, o movimento fortalece o enfrentamento às múltiplas violências que impactam a vida da população negra, em especial das mulheres negras. 

No Março de Lutas 2025, o compromisso foi claro: construir o caminho para a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, onde 1 milhão de mulheres negras levantarão suas vozes em Brasília (DF), exigindo justiça, dignidade e uma sociedade onde o Bem Viver seja uma realidade acessível a todos e todas.

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