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Coluna Beatriz Nascimento #6 – 2ª Temporada: Andréa Montenegro

Durante os meses de maio a julho, veremos por aqui,  a 2ª edição da Coluna Beatriz Nascimento: uma exposição de produtos e pensamentos das mulheres participantes da 4ª Turma da Escola de Ativismo e Formação Política para Mulheres Negras – Beatriz Nascimento. E o sexto produto desta temporada, é uma carta para Beatriz Nascimento, escrita pelas mãos da Andréa Montenegro.  

A seguir, veja a carta na íntegra.

Lauro de Freitas, 05 de Dezembro de 2022

Prezada Beatriz Nascimento,

Daqui da Bahia te escreve Andréa Montenegro, mulher negra, filha de Maria do Carmo e neta de D. Raymunda e D. Deijanira, mãe de uma filha também negra, chamada Ayla Mollayó. Sou nordestina e de candomblé, mas pude estudar e até fiz faculdade, com muito sacrifício como normalmente é para nós.

Como vai você por aí? Por aqui as coisas vão caminhando. A vida não tem sido fácil nos dia de hoje e tenho certeza que em seu tempo, muito menos; mas queria te contar dos muitos avanços.

Houveram muitas mudanças no pensar de uma grande parte da população; alguns evoluíram, outros nem tanto… mas as mulheres… ah, as mulheres! Tornaram-se mestras em sobreviver. As mulheres negras, então, tem revolucionado a vida ou as vidas, como queira!

Será que você imagina o quanto inspirou e inspira o feminismo negro num caminho sem volta? Não? Pois é!

Somos hoje, muitas mulheres seguindo a arte de ressignificar o ser, de recuperar nossa imagem e identidade, de reconstruir os nossos lugares, tudo sempre com luta, muita luta.

Infelizmente para as mulheres negras no Brasil, ainda é tempo de discriminação por raça e sexo, de mulheres receberem salários menores que os homens, ainda que desempenhem a mesma função; e/ou sejam melhor qualificadas, de manutenção de estereótipos no imaginário nacional entre outras temeridades.

Preciso te contar que atualmente ainda é negada a participação do(a) negro(a) na História do Brasil, isso… história com “H”. Essa população continua com os piores índices econômicos e sociais da sociedade, mas muitos já compreendem a existência de um interesse ideológico nesta situação.

Quanto à violência contra mulheres, não sei te dizer se aumentou, diminuiu ou se modificou, mas posso te contar que o cenário ainda é terrível. São muitas mulheres sofrendo os mais diversos e perversos tipos de violência e morrendo no Brasil. Você  já pode imaginar que em sua maioria são mulheres negras, né?

É tudo muito difícil e triste, mas sabe aquela sua inquietação sobre os quilombos? Sim, o tema sobre o qual dedicou tanto tempo de investigação, onde procurava relacionar o passado e o presente desses agrupamentos de negros e negras e sua continuidade histórica?

Então, lembra o que falou sobre o quilombo? Que seu “caráter libertário é considerado um impulsionador ideológico na tentativa de afirmação racial e cultural do grupo” (NASCIMENTO, 1981). Você também disse que “no momento em que o negro se unifica, se agrega, ele está sempre formando um quilombo, está eternamente formando um quilombo, o nome em africano é união (NASCIMENTO, 1977). Pois é, o quilombo se mantém no universo simbólico de nós, negros e negras.

Realmente, você conseguiu enxergar muito além, porque se somos sobreviventes hoje, é pela força de estarmos juntos, mas principalmente juntas. Hoje, buscamos fortalecer as mulheres e as instituições formadas por elas e para elas, em especial no campo da política e dos direitos humanos. Seguimos disputando espaço e narrativas, tentando construir um modelo de democracia que possibilite a construção de uma sociedade diversa e intercultural, mas acima de tudo nos acolhendo. Por aqui a ideia é que ninguém largue a mão de ninguém!

Diante de tudo dito, minha querida, há apenas um sentimento a te expressar… Gratidão Beatriz!

Quem é Andréa Montenegro?

Andréa Montenegro, mulher negra, filha de Maria do Carmo e neta de D. Raymunda e D. Deijanira, mãe de uma filha também negra, chamada Ayla Mollayó. Ekede no Ilê Axé Oyá Tolá, formada em Administração, especialista em Direitos Humanos e Contemporaneidade – UFBA, mestranda em Estudos Étnicos e Africanos – UFBA e Ouvidora Geral Adjunta na OGE/BA.

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