Durante mais uma ação policial em Salvador (BA), estudante universitária Ana Luíza Santos, 19 anos, é atingida e morta no bairro da Engomadeira

O fato aconteceu no local conhecido como Baixa de Nanã, por volta das 16h40 do último domingo (13); Segundo testemunhas, os policiais militares chegaram atirando sem justificativa
Por Redação Odara
Quem tem direito de, num domingo à tarde, sair para visitar uma amiga e retornar viva para casa? Ana Luiza dos Santos Silva, 19 anos, estudante do terceiro semestre do curso de Estética e Cosmética, assim como outros tantos jovens negros de Salvador, não teve, e se tornou mais uma vítima fatal das desastrosas operações que, à revelia das milhares de denúncias cotidianamente feitas pela população, a Polícia Militar da Bahia segue empreendendo.
A ação policial que tirou a vida e interrompeu os sonhos de Ana Luiza ocorreu ontem (13) à tarde, no Bairro da Engomadeira e, mais uma vez, a PM apontou ter se tratado de uma troca de tiros com supostos criminosos da região, embora vizinhos e parentes contestem a versão. Vídeos circulam pelas redes sociais mostrando o desespero e a indignação dos presentes, denunciando os excessos aos gritos, que foram revidados violentamente pelos policiais, com bombas de efeito moral.
Nas imagens veiculadas, também é possível ver o corpo de Ana Luiza ser carregado para o camburão da viatura 9.2321 da 23ª CIPM. De qualquer jeito, posta no chão daquele veículo – que certamente já esteve sob inúmeros outros corpos negros -, sem qualquer tipo de estabilização ou cuidado, chegou ao Hospital Geral Roberto Santos, mas não resistiu aos ferimentos.
Ana Luiza é a sétima mulher morta por arma de fogo em 2025, na cidade de Salvador, que se tem notícia, segundo o Instituto Fogo Cruzado. Dentre as mortes de mulheres vítimas de disparo de arma de fogo, três foram registradas somente no mês de março, nos bairros da Paralela, Narandiba e, mais recentemente, em 27 de março, no Vale das Pedrinhas, ocasião em que Maria de Jesus da Silva, de 87 anos foi alvejada também durante uma operação policial.
Ainda segundo o Instituto, há uma escalada da violência policial na Bahia, e Salvador lidera o ranking de chacinas no estado, com 63 ocorrências registradas desde 2022, das quais 46 foram resultado de operações policiais. Na região metropolitana, Camaçari, Candeias, Lauro de Freitas e Simões Filho aparecem entre os municípios com os maiores índices de casos.
Entre os bairros mais atingidos pela violência policial em Salvador, Águas Claras lidera com 4 chacinas executadas por operações policiais. Em seguida, está o Arenoso, com 3 chacinas policiais. Beiru/Tancredo Neves, Caroba (Candeias), Fazenda Coutos, Lobato, Pau Miúdo e Rio Sena também registram 3 chacinas cada, sendo 2 delas fruto da ação criminosa da polícia. Por último, em Cosme de Farias, das 3 chacinas, uma foi resultado da violência policial.
A PMBA, por sua vez, publicou uma nota em solidariedade à família de Luísa: “A Polícia Militar da Bahia lamenta profundamente a morte de Ana Luíza Silva dos Santos, solidariza-se com os familiares e informa que os fatos estão sendo devidamente apurados, conforme os protocolos institucionais. A Corporação reafirma seu compromisso com a legalidade, a transparência e, sobretudo, com a preservação da vida”. É só isso que temos:uma nota!
Não suportamos mais contar corpos, mas seguimos perguntando: quem vai pagar a conta? Há como pagar essa conta? A conta do imensurável da vida que jamais retornará à família, a ausência que adoece aos que ficam, a interrupção de sonhos e projetos de uma menina de 19 anos com uma vida inteira pela frente, a frieza e pouca importância nas notas publicadas com teor idêntico a todas as outras, regadas a pouca informação e muito cinismo, a desesperança e o medo daqueles que veêm o cenário se repetir, cotidianamente.
Ana Luiza deixa sonhos, um curso pela metade, e uma família destroçada clamando por justiça.
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