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Durante a CSW 68, ativistas do Instituto Odara pautam o fortalecimento político e econômico das organizações de mulheres negras brasileiras

*Por Jamile Novaes

A 68ª Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres trouxe como tema prioritário o combate à pobreza e fortalecimento das instituições e do financiamento com uma perspectiva de gênero

A 68ª Comissão da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a Situação das Mulheres (CSW68) foi realizada entre os dias 11 e 22 de março, em Nova York, nos Estados Unidos, e reuniu ativistas feministas do mundo inteiro para discutir e traçar estratégias em torno da agenda do combate à pobreza e fortalecimento das instituições e do financiamento com uma perspectiva de gênero.

Entre atividades oficiais na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) e atividades paralelas realizadas por organizações sociais e filantrópicas, as ativistas Naiara Leite, Alane Reis e Jamile Novaes, do Odara – Instituto da Mulher Negra, estiveram presentes demarcando as demandas do movimento de mulheres negras do Brasil, apresentando suas potencialidades e defendendo a necessidade de um financiamento expressivo para ações contínuas de combate à violências, ao racismo e às violações de direitos.

Contra as violências, pela vida das mulheres negras

No dia 14 de março, Naiara Leite, coordenadora executiva do Odara, representou a Rede de Mulheres Afrilatinoamericanas, Afrocaribenhas e da Diáspora (RMAAD), no Diálogo Estratégico com Organizações de Mulheres e Feministas de América Latina no marco do Programa ACTUEMOS, que contou com a participação de Maria Noel, diretora regional da ONU Mulheres, na América Latina. O ACTUEMOS apoia ações estratégicas para acabar com a violência contra as mulheres, a partir do compromisso conjunto entre a União Europeia e a ONU Mulheres, líderes do Coalizão de Ação contra a Violência Baseada em Gênero do Fórum de Igualdade de Geração (GEF). 

As atividades do Programa seguiram nos dias 15 e 16, com foco na discussão sobre investimento em organizações de mulheres e feministas em nível global e regional, para a consolidação de redes e fortalecimento das estratégias de advocacy que visam o combate à violência contra as mulheres. Durante sua participação, Naiara reforçou a perspectiva sobre as múltiplas violências vivenciadas pelas mulheres negras, e estabeleceu diálogos com outras organizações feministas da América Latina e África sobre estratégias e desafios que estão presentes na luta pela garantia da vida das mulheres.

“As mulheres negras em toda América Latina têm sido vítimas do feminicídio, das ameaças às defensoras negras e vivenciado o impacto do crescimento da violência política de raça e gênero. Neste sentido o programa tem que dar conta de falar de realidades diversas, de outra maneira não será possível enfrentar as violências contra as mulheres”, aponta Naiara.

Enfrentamento ao racismo e ao patriarcado

Representando a Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), Alane Reis, coordenadora do Programa de Comunicação do Instituto Odara, esteve na CSW68 como integrante do Programa Yvonne Hebert, apoiado pela ONU Mulheres. Na ocasião, ela conversou com outras mulheres ativistas feministas jovens, de diversas partes do mundo, sobre o futuro da luta feminista e o papel das juventudes.

Em relação ao fortalecimento econômico, e superação das desigualdades contra as mulheres no mundo, Alane debateu, junto a ONU Mulheres e às demais ativistas participantes do Programa, sobre o posicionamento do Movimento de Mulheres Negras do Brasil, no que diz respeito ao enfrentamento ao racismo como uma agenda intrínseca à luta contra o patriarcado. “A superação do patriarcado só pode acontecer se o mesmo nível de importância for destinado a ambas as estruturas, o racismo e o patriarcado, já que são problemas vindo da mesma fonte, o capitalismo e o colonialismo”, afirmou.

Nos mostrem o dinheiro!

As ativistas do Instituto Odara participaram também da sessão de prestação de contas do Feminist Accountability Framework (FAF) sobre o Fórum Geração e Igualdade (GEF), para demonstrar os trabalhos de mapeamento do engajamento e percepção das ativistas feministas brasileiras sobre o GEF. 

O Odara atua como liderança de dados do Brasil no processo de construção e implementação do FAF, com apoio da Global Fund for Women (GFW) e, durante as consultas realizadas com ativistas feministas brasileiras, constatou o desconhecimento e falta de engajamento das organizações feministas – sobretudo negras –  no GEF e em outros mecanismos de acesso a financiamento e promoção dos direitos das mulheres. O processo levou a um entendimento sobre a importância fundamental de investir em formação sobre incidência política e advocacy internacional para organizações negras do país.

Durante a sessão de prestação de contas do FAF, Jamile Novaes, técnica do Programa de Comunicação do Instituto Odara, apresentou este cenário e salientou que parte importante da incidência política quem tem sido feita em torno do GEF é o esforço para que as mulheres negras do Brasil entendam que suas histórias de violências e violações de direitos vividas cotidianamente podem ser impactadas pelos mecanismos internacionais e  agendas feministas que estão sendo movidas em nível global. 

“Essa não é uma conversa apenas sobre dados, indicadores e valores de financiamento. É acima de tudo sobre transparência, sobre quem tem e quem não tem acesso a esses mecanismos e recursos”, enfatizou Jamile.

Chamada para a ação

Para além das discussões realizadas no contexto da CSW68, as ativistas aproveitaram todos os espaços por onde circularam para convocar os movimentos feministas e financiadores do mundo inteiro a participarem e apoiarem a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, que vai acontecer em novembro de 2025, na cidade de Brasília (DF). A 2ª Marcha foi lançada oficialmente no último dia 21 de março, com uma live nacional e eventos presenciais em 25 cidades brasileiras.

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