Jovem negro vendedor de balas é morto por policial em dia de folga, em Niterói (RJ)

Hiago dos Santos, de 21 anos, foi assassinado após discussão com o policial Carlos Arnaud

Por Jéssica Almeida / Redação Odara.

Na última segunda feira (14), mais um jovem negro foi assassinado de forma brutal. Desta vez, o crime aconteceu em frente à estação das barcas, no Centro de Niterói, Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

A vítima, Hiago dos Santos, de 21 anos, estava trabalhando quando foi morto por um único tiro disparado pelo policial militar, também negro, Carlos Arnaud Baldez Silva Júnior.

De acordo com testemunhas, após o vendedor ter oferecido seus produtos ao policial, que estava de folga, ele teria reagido e acusado o jovem de ser ladrão, sem provas. Carlos e Hiago iniciaram uma discussão e o policial logo reagiu, sacando uma arma e atirando contra o jovem. Outras testemunhas alegaram a demora da Polícia Militar em prestar socorros à vítima. Segundo eles, quando a Polícia chegou, Hiago ainda estava com vida.

Segundo familiares, Hiago deixa uma filha que irá fazer 2 anos no próximo dia 18 de fevereiro. A esposa da vítima, Taís Conceição de Oliveira Santos, afirmou em depoimento à imprensa que ambos planejavam dar uma festa para a filha e já haviam reservado até um salão. Ela disse ainda que Hiago não cometeu nenhum crime.

“Eu quero justiça. Que isso não fique impune!”,  protestou ela.

Após a morte do jovem, seus familiares e amigos foram para a porta da estação das barcas para protestar.

Racismo, violência e letalidade

No Brasil, a população negra é marcada historicamente como principais vítimas de diversas formas de violência, além de representar a maior parte da população carcerária. Embora, de maneira geral, na última década tenham reduzido os indíces de letalidade policial, quando comparamos as taxas de homicídio entre negros e não negros, concluímos que houve um aumento da desigualdade racial na segurança pública.

Segundo o Atlas da Violência de 2020, entre os anos de 2008 e 2018, as taxas de homicídio mostraram um aumento de 11,5% para homens negros, enquanto entre os homens não negros, houve uma redução de 12,9%.

O racismo institucional é um fator que norteia a atuação das corporações militares do país, como consequência da estrutura racista que vem sendo ratificada e naturalizada desde a escravidão. Esse processo de naturalização faz com que pessoas negras sejam mais vigiadas e frequentemente apontadas como suspeitas, mesmo quando não existe nenhuma evidência que aponte para o fato.

Outros fatores de incidência que podem ajudar a entender a letalidade da polícia são o isolamento ao qual esses policiais são submetidos em treinamento, a rigidez hierárquica e o sentimento de superioridade em relação à sociedade civil.

Recentemente, veiculou nas redes sociais, um vídeo no qual policiais veteranos aparecem dando tapas nos rostos de agentes alunos do curso de treinamento do Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam) de Belo Horizonte (MG).  Relatos de práticas como essas são comuns no meio militar, combinadas com outras formas de humilhação baseadas na hierarquia das corporações.

Como esperar que um policial que é treinado com base no entendimento de que as hierarquias são expressadas e reforçadas pela violência, não a reproduza para afirmar o seu lugar de autoridade em relação aos civis?

É necessário reconhecer a existência do racismo institucional, questionar as práticas violentas e adoecedoras retroalimentadas pelas corporações policiais e construir políticas que impeçam a ação truculenta e, por muitas vezes, letal, direcionada contra pessoas negras. O sistema de segurança pública não pode continuar sendo sinônimo de ameaça às vidas de jovens negros e negras.

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